Doria aposta na economia para ganhar espaço na corrida eleitoral

Pesquisa mostra governador com apenas 3% das intenções de voto, bem atrás de Lula, Bolsonaro e Sergio Moro

Governador de São Paulo, Joao Doria, fala sobre economia e propostas para 2022
Por Simone Iglesias e Julia Leite
15 de Dezembro, 2021 | 04:47 PM

Bloomberg — O governador e pré-candidato à presidência pelo PSDB, João Doria, disse que a rápida recuperação econômica de São Paulo vai ajudá-lo na corrida eleitoral.

“Na política você não pode ser ansioso”, afirmou em entrevista no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo. “Há tempo para as pessoas interpretarem corretamente o que eu fiz.”

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Doria, que começou sua carreira política há cerca de seis anos, tem um caminho difícil para viabilizar uma candidatura de centro numa disputa até agora dominada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e por Jair Bolsonaro (PL).

Pesquisa do Ipec divulgada na terça-feira mostrou Doria com apenas 3% das intenções de voto, bem atrás de Lula, de Bolsonaro e do ex-juiz Sergio Moro.

Apesar do prognóstico eleitoral desfavorável até o momento, Doria, 63, é destemido. São Paulo, que responde por cerca de um terço do PIB do país, deve crescer cerca de 6% este ano, disse ele, bem acima das estimativas para a economia nacional. Esse impulso provavelmente se estenderá até o próximo ano, com a equipe econômica do estado prevendo um avanço de 1,8%.

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Legado econômico

Embora as previsões de São Paulo sejam mais altas do que alguns economistas esperam - Thais Zara, economista sênior da LCA Consultores, diz que o estado provavelmente crescerá 5,3% neste ano e 0,7% no próximo - ainda estão acima do ritmo nacional. Os analistas estimam que o Brasil crescerá 4,65% em 2021 e apenas 0,5% em 2022, ou mesmo estagnará ainda mais na recessão.

O legado econômico, que o governador considera seu melhor trunfo, também é o maior problema de Bolsonaro. A economia do Brasil caiu em recessão técnica, interrompendo a recuperação pós-pandemia.

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“Onde há desconfiança, instabilidade e irresponsabilidade como no governo Bolsonaro, isso se traduz em inflação e descontrole”, disse Doria. “A economia vai ser o cerne da campanha e é onde Bolsonaro vai sofrer porque é onde ele não está bem, com a inflação corroendo o poder de compra da população. Quem comia carne não come mais carne, quem ainda viajava não viaja mais, quem comprava uma roupa a cada quatro meses não compra mais.”

O pré-candidato à presidência disse que o Brasil precisa mostrar compromisso com as regras fiscais, incluindo o teto de gastos que limita o crescimento das despesas públicas, ao mesmo tempo que atende aos mais necessitados. Ele definiu sua política econômica como “liberalismo social”.

Auxílio Brasil

Doria não se comprometeu a manter o Auxílio Brasil, antigo Bolsa Família rebatizado agora por Bolsonaro, em seu formato atual, dizendo que os benefícios terão que estar vinculados ao emprego e à educação. Quem não trabalha, disse ele, não ganha nada.

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“No nosso governo, não vamos dar dinheiro para quem não trabalha”, afirmou. “Entregar dinheiro para a população mais pobre sem nenhuma contrapartida de trabalho é desrespeitar o princípio da dignidade.”

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Na quinta-feira, Doria anunciará a equipe econômica que definirá as diretrizes de sua campanha, que será comandada pelo ex-presidente do Banco Central e atual secretário estadual da Fazenda Henrique Meirelles. O grupo, um dos muitos que definirão seus planos de governo, começará a trabalhar nas propostas em 3 de janeiro.

Eleito governador em 2018 como parte da mesma onda anti-esquerdista que levou Bolsonaro ao poder, Doria rompeu com o presidente ainda em 2019, se tornando uma voz contra a abordagem errática do governo federal à pandemia.

Durante a entrevista de uma hora, ele se referiu a Bolsonaro como “negacionista”, “autoritário” e “despreparado”.

Ele está apostando na sua preparação e de sua equipe para se viabilizar como o candidato da terceira via que tentará quebrar a polarização esquerda-direita. Embora esteja conversando com a maioria dos candidatos à presidência, à exceção de Bolsonaro e Lula, com quem “o diálogo não é uma opção”, a decisão sobre as chapas será tomada só em abril ou no início de maio, segundo ele.

Pesquisas

Ficar atrás nas pesquisas não é exatamente uma coisa nova para Doria. Quando concorreu em 2016 a prefeito de São Paulo tinha 1% nas primeiras pesquisas - e acabou vencendo no primeiro turno.

“Eu nunca fiz uma caminhada que não fosse para chegar até o destino”, disse ele.

O governador também espera que outra conquista o impulsione: as vacinas. Doria alcançou proeminência nacional no início deste ano liderando esforços para obter vacinas contra o coronavírus, o que Bolsonaro continua questionando.

Sob a condução de Doria, o estado de São Paulo fechou um acordo com a chinesa Sinovac Biotech para trazer as primeiras doses de imunizantes contra a Covid-19 ao país, forçando o governo federal a reagir rapidamente para começar a vacinação ao mesmo tempo.

Embora os ataques de Bolsonaro durante a pandemia - de que o pedido dos governadores para que as pessoas permanecessem em casa mergulharam a economia na crise - tenham afetado sua popularidade, Doria diz que há tempo antes da votação de outubro para reverter essa percepção. Ele tem monitorado de perto os resultados de pesquisas qualitativas de opinião para entender por que sua taxa de rejeição permanece alta.

“O tempo ajuda a diminuir esse contencioso e levar as pessoas a entenderem a realidade”, disse ele. “Mas é preciso paciência, resiliência, compreensão, perdão e ação, ainda que minha vontade seja dizer para as pessoas: eu salvei a sua vida.”

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