Colapso do império de Eike abre caminho para Mubadala no Brasil

Mubadala Capital tem US$ 16 bilhões sob gestão, e o Brasil é uma de suas quatro principais áreas de investimento

Por

Bloomberg — O colapso do império de commodities de Eike Batista deu à Mubadala Capital o conhecimento do mercado local para se destacar em private equity no Brasil. Agora, está em busca de mais ativos problemáticos no país.

O braço de gestão de ativos do fundo soberano de Abu Dhabi - com cerca de US$ 5 bilhões em ativos no Brasil, que incluem uma refinaria e três linhas de metrô no Rio de Janeiro - tem aproximadamente outros US$ 3 bilhões reservados para acordos em andamento, disse em entrevista Oscar Fahlgren, que comanda a Mubadala Capital no país.

É um giro impressionante em relação a um investimento de US$ 2 bilhões na holding de Eike que quase desapareceu em 2013, quando ficou comprovado que os poços de petróleo do ex-magnata estavam secos, o que levou a uma disputa de três anos para recuperar vários ativos do empresário, como uma participação na empresa dona do Burger King e de uma torre comercial no bairro do Leblon, no Rio.

“Somos um investidor estrangeiro que teve uma experiência bastante difícil para entrar e emergimos como a melhor gestora de private equity do país”, disse Fahlgren, em entrevista na torre do Leblon. “Vimos uma oportunidade de construir um negócio em torno de um conjunto de habilidades único.”

Um momento importante para a Mubadala veio com a Operação Lava Jato. A companhia entrou em ação para negociar a compra de uma rodovia pedagiada no estado de São Paulo da Odebrecht, aproveitando a experiência em defaults de empresas brasileiras e reestruturações societárias que adquiriu durante 11 transações de troca de dívida por ações com Eike.

O foco nos chamados ativos distressed permanece.

“Continuamos a nos concentrar na complexidade, empresas sob o Capítulo 11, ativos presos às antigas empresas da Lava Jato”, disse Fahlgren.

Veja mais: Quem é a Taunsa, parceiro do Corinthians que trouxe Paulinho de volta?

Ao contrário da matriz Mubadala Investment, a Mubadala Capital obtém cerca de dois terços de seu financiamento de investidores externos e o restante da controladora, disse Fahlgren. A empresa acaba de fechar seu primeiro fundo específico para o Brasil, de US$ 311 milhões, e atualmente capta recursos para um segundo fundo de maior porte, segundo o executivo.

No total, a Mubadala Capital tem US$ 16 bilhões sob gestão, e o Brasil é uma de suas quatro principais áreas de investimento, juntamente com private equity global, venture capital e um hedge fund.

Fahlgren, advogado formado pela Universidade de Uppsala, na Suécia, assumiu o comando da Mubadala no Brasil em 2010 após trabalhar como diretor associado do grupo de private equity Terra Firma Capital Partners em Londres.

Seu passo mais recente na Mubadala foi a aquisição de uma refinaria na Bahia que pertencia à Petrobras, que tem vendido ativos para reduzir o endividamento. É uma aposta em um mercado de combustíveis competitivo que está na mira de consumidores e políticos antes das eleições presidenciais de 2022.

“A turbulência política faz parte do país e não vai parar”, disse. “Quando vemos deslocamentos temporários no mercado impulsionados por uma eleição, é uma oportunidade de investir no longo prazo por causa da concorrência reduzida.”

Reduzir a pegada de carbono da Refinaria de Mataripe, comprada por US$ 1,8 bilhão, é uma das prioridades. Enquanto muitos investidores têm evitado completamente projetos de petróleo por questões ambientais, a Mubadala vê oportunidade de cortar as emissões da infraestrutura existente ainda em operação nas próximas décadas.

A Mubadala também está de olho em parques eólicos e solares na Bahia para abastecer a refinaria com o máximo de energia renovável possível. Também busca aumentar a produção de biocombustíveis na instalação e expandir os dutos para eliminar o uso intensivo de carbono de caminhões-tanque para distribuição. No total, a Mubadala estima mais de um US$ 1 bilhão em possíveis melhorias.

“Podemos empregar nosso capital em um ativo poluente e torná-lo melhor”, disse Fahlgren.

Veja mais em bloomberg.com

Leia também