Bloomberg Línea — A Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, na sigla em inglês) restabeleceu nesta quarta-feira (15) as importações de carne bovina do Brasil, produzida a partir de animais com até 30 meses de idade. As regras são as mesmas já existentes antes do embargo, estabelecido em 4 de setembro deste ano, quando o Ministério da Agricultura do Brasil confirmou a ocorrência de dois casos atípicos de ‘vaca louca’ no país.
Com a informação de Pequim, e cerca de uma hora após a publicação da reportagem da Bloomberg Línea, o governo Ministério da Agricultura do Brasil confirmou o fim do embargo aos exportadores nacionais, que deixaram de vender algumas dezenas de milhões de dólares desde o fechamento do mercado chinês. Até setembro, a China era o maior destino das exportações de carne bovina do Brasil, representando 50% de tudo o que o país embarcava.
A partir de outubro, no entanto, os frigoríficos começaram a sentir o impacto do que era ficar sem acessar o mercado chinês. Naquele mês, foram exportadas apenas 86,6 mil toneladas de carne bovina, o pior desempenho mensal desde 2018 e representou uma queda de 48% em comparação a outubro do ano passado. No mês passado, a tendência se manteve e os embarques somaram 89,7 mil toneladas, queda de 49% sobre o desempenho de novembro de 2020.
A retomada no comércio entre os dois países ocorre depois de muitos altos e baixos nas relações diplomáticas entre os dois países, informações desencontradas entre o Ministério da Agricultura e os frigoríficos brasileiros, descumprimento do embargo e até pedidos de reunião ignorados.
No início de setembro, logo após a confirmação dos casos e a suspensão dos embarques, a ministra Tereza Cristina procurou o governo de Pequim para pedir uma reunião e tentar evitar que o problema se prolongasse por muito tempo. Fontes da China informaram que a GACC não foi autorizada a atender a ministra brasileira. Não satisfeita com a porta fechada na primeira tentativa, a ministra buscou ainda em setembro abordar o ministro da Agricultura da China, Tang Renjian, durante o encontro ministerial do G-20, realizado na Itália. Apesar do pedido antecipado para uma agenda paralela ao evento, não obteve sucesso mais uma vez.
Já em outubro, a ministra enviou uma carta oficial a Pequim, se colocando à disposição para ir pessoalmente ao país para tentar encontrar uma solução para o caso, mas não teve resposta. Dias depois, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, e o de Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, conversaram sobre o assunto, mas nada de muito concreto foi efetivado.
As áreas técnicas dos dois países passaram a manter conversas para aparar eventuais arestas e tentar acelerar a retomada. Além de negociarem o fim do embargo como um todo, os encontros também tiveram por objetivo solucionar o problema da carne exportada pelo Brasil em setembro, depois do embargo ter sido anunciado. Naquele mês, as exportações brasileiras bateram seu recorde histórico, apesar das restrições. No entendimento dos frigoríficos, as exportações poderiam ter sido realizadas porque os lotes de carnes já possuíam o certificado sanitário internacional, o que lhe conferia essa autorização. Contudo, o protocolo sanitário firmado com a China determina que as exportações devam ser imediatamente suspensas em caso de confirmação de vaca louca.
A situação obrigou o Ministério da Agricultura e das Relações Exteriores a agir para negociar a liberação dos lotes de carne com certificado emitido antes do embargo e embarcados após a restrição. Finalmente, em 23 de setembro, com os navios já formando filas para desembarcar, o governo da China autorizou a entrada do produto no país.
Uma luz amarela se acendeu entre os exportadores de carne suína do Brasil, quando o Ministério da Agricultura recebeu em outubro um pedido do governo chinês solicitando que as unidades de Santa Catarina habilitadas a vender para China passem por inspeção sanitária. Na ocasião, fontes disseram que esse seria um recado de Pequim ao Brasil sinalizando que novas restrições poderiam ser impostas. Contudo, nada fora do esperado ocorreu.
Diante do de idas e vindas com a China, a carne brasileira passou a ser ataca em outros mercados. Em novembro, o senador americano Jon Tester apresentou um projeto de lei no Congresso dos Estados Unidos para suspender as importações de carne bovina do Brasil. Com o embargo chinês, os Estados Unidos passaram a ser o principal mercado para a carne brasileira. O argumento usado foi que o Brasil não estava sendo transparente na comunicação e demorando até dos prazos estabelecidos para notificar as autoridades sanitárias internacionais.