Bloomberg — Cientistas alertam que o nível de imunidade contra o coronavírus entre a população da África do Sul devido a infecções anteriores pode mascarar a gravidade da doença causada pela variante ômicron.
Desde que a identificação da cepa na África do Sul e Botsuana foi anunciada em 25 de novembro, as taxas de internação na África do Sul subiram, embora em ritmo muito mais lento do que nas ondas anteriores, mesmo com o aumento mais rápido de casos. O número de mortes também tem sido menor.
Uma pesquisa recente de soroprevalência em Gauteng, a província sul-africana onde a variante ômicron foi identificada pela primeira vez, mostrou que 72% da população já se infectou anteriormente com o coronavírus, disse Shabir Madhi, vacinologista da Universidade de Witwatersrand. O número se compara a cerca de 20% quando a variante beta surgiu há um ano, disse Madhi, que liderou estudos clínicos sobre vacinas da AstraZeneca e da Novavax na África do Sul.
“A evolução da variante ômicron está chegando em um estágio muito diferente da pandemia”, disse Madhi em entrevista ao Global Health Crisis Coordination Center. “É importante ter isso em mente quando vemos o que está acontecendo na África do Sul e o que podemos ver em outros ambientes, que podem ter uma epidemiologia muito diferente.”
Infecções ocultas
As estatísticas oficiais não refletem a extensão do impacto da pandemia na África do Sul, com apenas 3,2 milhões de testes positivos e cerca de 90 mil mortes. O excesso de mortes, um indicador de mortalidade comparado a uma média histórica, mostra que cerca de 275 mil pessoas podem ter morrido da doença.
A disparidade entre estatísticas oficiais e a extensão provável das infecções é mais pronunciada na África do Sul, embora não seja única. Os Centros de Controle de Doenças dos Estados Unidos estimam que, ao longo da pandemia até setembro, o país registrou 146,6 milhões de casos e 921 mil mortes como resultado da Covid-19. Estatísticas oficiais mostram mais de 50 milhões de infecções e 799 mil mortes.
A hipótese de Madhi é apoiada por outros cientistas.
“Você tem grandes bolsões de imunidade da população”, disse Tulio de Oliveira, que coordena dois institutos de sequenciamento de genes na África do Sul, em entrevista à CBS News em 12 de dezembro. “Teremos que distinguir se os casos leves são devido à infecção de jovens ou se a imunidade anterior da população decorrente da infecção e vacinação são responsáveis por diminuir o número de indivíduos hospitalizados.”
Cerca de 6 mil pessoas estão internadas na África do Sul com Covid-19, cerca de um terço do número no pico da segunda e terceira ondas. Os casos diários atuais estão próximos de níveis recordes.
“Isso pode realmente ser devido ao fato de que a imunidade no país é alta, tanto por imunidade natural, por infecção passada, ou por vacinação”, disse Barry Schoub, presidente do Conselho Consultivo Ministerial sobre Vacinas da África do Sul, em entrevista à Sky News.
Dos 60 milhões de habitantes da África do Sul, cerca de 26% estão totalmente vacinados. No Reino Unido o número é de 70%.
Veja mais em bloomberg.com
Leia também
Pfizer tem 23% de eficácia contra ômicron em estudo da África do Sul