A saga das farmacêuticas para criar reforço contra ômicron em 100 dias

Pfizer e Moderna correm contra o tempo para atualizar imunizantes mesmo sem detalhes sobre variante

Fábrica de vacinas da Pfizer em Andover, Massachusetts.Fonte: Pfizer Inc.
Por Robert Langreth
13 de Dezembro, 2021 | 03:49 PM

Em uma fábrica ao longo de uma rodovia a 32 quilômetros ao norte de Boston, centenas de funcionários da Pfizer se preparam para produzir milhões de doses de uma nova vacina, no que parece cada vez mais ser a próxima fase de combate à Covid-19.

O trabalho na unidade em Andover, Massachusetts, começou no dia seguinte ao feriado de Ação de Graças nos Estados Unidos, assim que a Organização Mundial da Saúde designou a ômicron como uma variante de preocupação. O objetivo da iniciativa: produzir um reforço específico contra a nova cepa do coronavírus, que apresenta diversas mutações, em menos de 100 dias.

Ninguém sabe ainda o alcance da ômicron, a gravidade dos casos provocados pela variante ou mesmo se novas vacinas serão necessárias. O conselheiro médico-chefe da Casa Branca, Anthony Fauci, disse que relatos sobre o nível de gravidade até agora têm sido “encorajadores”. Mas se dados laboratoriais do mundo todo forem confiáveis, a cepa tem maior capacidade de resistir às vacinas existentes do que qualquer outra até agora.

Das 43 infecções causadas pela ômicron nos Estados Unidos analisadas pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças, 80% ocorreram em pessoas com esquema vacinal completo, embora quase todos os casos tenham sido relativamente leves. Autoridades de saúde do Reino Unido esperam que a ômicron ultrapasse a delta como a cepa dominante em questão de dias.

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Pesquisadores estão alarmados com cerca de 30 mutações na proteína spike da ômicron, que facilita a entrada do coronavírus nas células. Mudanças em sua aparência dificultam sua identificação e destruição pelos anticorpos. Isso levou a Pfizer, sua parceira BioNTech e a rival Moderna a iniciarem esforços para atacar a variante diretamente com suas vacinas de RNA mensageiro.

“Era a lista de mutações que nunca queríamos ver”, disse o presidente da Moderna, Stephen Hoge, que comanda as operações científicas da empresa. A fabricante de vacinas, cuja fábrica de RNAm fica a apenas 64 quilômetros da Pfizer, começou a estudar a ômicron na terça-feira, antes do Dia de Ação de Graças, e realizou reuniões durante o feriado. Muitos funcionários “tiveram o Thanksgiving arruinado” pela ômicron, disse Hoge.

Os primeiros dados de laboratório sugerem que três doses das vacinas existentes de RNAm protegem contra a ômicron. O que está menos claro é o prazo dessa proteção, uma vez que os anticorpos contra a Covid diminuem com o tempo. A Pfizer espera ter os primeiros dados da eficácia de sua vacina no mundo real contra a variante antes do fim do ano.

Embora as empresas não revelem detalhes sobre o andamento das pesquisas, ambas estão empenhadas em uma resposta rápida. Quando a notícia da variante surgiu na África do Sul, o CEO da Pfizer, Albert Bourla, decidiu quase imediatamente iniciar a fabricação em grande escala de uma dose específica para a ômicron. O trabalho foi acelerado tão rapidamente que a Pfizer não contabilizou os custos.

“Eu não poderia te dar o número agora; nem tenho certeza se falamos sobre isso”, disse Mike McDermott, diretor da cadeia de suprimentos global da Pfizer, que fornece atualizações sobre o andamento do processo para Bourla. É muito atípico para uma farmacêutica iniciar a fabricação em larga escala de um produto que pode não ser necessário, afirmou.

O processo de produção em Andover pode começar qualquer dia, disse McDermott. Trabalhadores estão esperando que os pesquisadores da empresa em Chesterfield, Missouri, finalizem e entreguem uma linha de células-mestre contendo uma sequência genética que será usada na vacina específica.

Trabalhadores na unidade de fabricação de vacinas de RNAm da Moderna em Norwood, Massachusetts (Nancy Lane/MediaNews Group/Boston Herald/Getty Images)

Ao sul de Boston, as instalações da Moderna em Norwood, Massachusetts, têm as salas preparadas para produzir RNAm e as nanopartículas de lipídios que revestem o frágil material genético. Antes controlada pela Polaroid, a fábrica é a primeira da Moderna e tem se expandido rapidamente desde o início da pandemia.

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Em 2020, a Moderna levou 42 dias para produzir lotes de sua vacina original contra a Covid e 63 dias para iniciar testes em humanos com pesquisadores do governo. Com a ômicron, “nosso objetivo é atingir um cronograma como esse com certeza”, disse Hoge, o presidente da Moderna.

Uma razão pela qual Pfizer e Moderna podem agir rapidamente no caso da ômicron é que as empresas aperfeiçoaram o processo tanto em relação às vacinas originais quanto para versões destinadas às cepas beta e delta produzidas no início deste ano. Embora as vacinas das variantes delta e beta possam não ser necessárias, forneceram uma simulação para a ômicron.

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