Bloomberg — As empresas chinesas passaram 10 anos fazendo maobras ousadas para se tornarem os principais players em energia solar. Agora, elas estão tentando liderar o desenvolvimento da próxima grande novidade em energia limpa: o hidrogênio.
Os principais fabricantes de energia solar, incluindo a Longi Green Energy Technology, estão aumentando a produção de eletrolisadores, o equipamento necessário para produzir hidrogênio verde, a forma mais limpa do combustível. Eles estão acelerando os investimentos em uma aposta de que o mercado vai crescer à medida que as indústrias e consumidores façam a transição para combustíveis com baixo teor de carbono.
Para chegar à frente na corrida global do hidrogênio, as empresas chinesas estão seguindo o mesmo manual usado para dominar a energia solar - cortando preços e custos de produção, aumentando drasticamente as instalações e acelerando o desenvolvimento de novas tecnologias.
“Na cadeia de fornecimento de energia solar, a Longi desempenhou o papel de liderar o progresso da indústria com a tecnologia”, disse Wang Yingge, vice-gerente geral da unidade de tecnologia de energia de hidrogênio da Longi. “Para equipamentos de hidrogênio, a Longi continuará a se concentrar e investir pesadamente em pesquisa e desenvolvimento.”
A Longi planeja construir 1,5 gigawatts de capacidade de produção de eletrolisadores até o final do ano que vem, diante dos atuais 500 megawatts. O maior proprietário de ativos renováveis do mundo, a State Power Investment, pretende construir 10 gigawatts de capacidade de produção de eletrolisador até 2027.
A China será responsável por mais de 60% das instalações globais de eletrolisadores em 2022, com o mercado aumentando cinco vezes neste ano, segundo a BloombergNEF. A China Hydrogen Alliance disse no início deste ano que o combustível poderia representar 20% da matriz energética do país até 2060, o prazo que o presidente Xi Jinping estabeleceu para a China se tornar um país neutro em carbono.
No entanto, apesar da perspectiva positiva, os gigantes solares enfrentam grandes desafios no desenvolvimento do mercado de hidrogênio. O setor ainda tem um longo caminho a percorrer para reduzir os preços e está perdendo os principais incentivos do governo, que ajudaram os setores solar e eólico a dar seus primeiros passos.
O hidrogênio verde está longe de ser competitivo em comparação com outros combustíveis. O hidrogênio produzido por fontes renováveis custa atualmente pelo menos US$ 3,22 por quilo na China, quase o dobro do preço do carvão, de acordo com a BloombergNEF. E o hidrogênio cinza mais sujo, produzido por combustíveis fósseis, constitui a maior parte do mercado de hidrogênio da China. Foi responsável por mais de 63% em 2020, em comparação com apenas 1,5% para o hidrogênio verde, de acordo com um prospecto publicado pela China Hydrogen Alliance.
“O maior desafio à frente é o custo”, disse Libby Zhong, co-líder do setor de energia e recursos da Ernst & Young na China. Sem políticas como as que impulsionaram o desenvolvimento da energia solar e eólica, será muito difícil para o hidrogênio verde receber apoio suficiente nesta fase inicial, disse ela.
A China ainda não introduziu um plano nacional de hidrogênio, e o único programa de subsídio estadual é limitado a apoiar baterias de célula de combustível, que irão impulsionar diretamente o consumo de hidrogênio, mas não necessariamente favorecerão um processo de produção limpo ou impulsionarão o desenvolvimento do eletrolisador.
Wang, da Longi, disse esperar que o governo introduza programas de subsídios que estabeleçam preços de referência para o hidrogênio produzido por fontes renováveis, e espera que o custo crescente da emissão de carbono na China possa impulsionar o consumo de hidrogênio verde. A empresa projeta que o preço dos eletrolisadores cairá mais de 30% nos próximos três a cinco anos.
A Longi, com sede em Xi’an, subiu 2,8% nas negociações de segunda-feira (13), às 13h45, em Pequim.
Outra grande diferença entre o desenvolvimento de painéis solares e eletrolisadores de hidrogênio é o mercado para o qual eles estão vendendo. Embora os clientes solares possam conectar painéis às redes existentes e imediatamente começar a vender a eletricidade, permitindo uma adoção rápida, os usos do hidrogênio são mais limitados e desarticulados.
Os gigantes estatais da China estão tentando preencher essa lacuna. A Sinopec, a maior empresa de petróleo, começou a construir o maior projeto de hidrogênio verde do mundo, com capacidade para fornecer 20.000 toneladas do combustível limpo a cada ano, a partir de meados de 2023.
Mais de um terço das empresas estatais estão fazendo planos para a produção, armazenamento, distribuição e utilização de hidrogênio, de acordo com a Comissão de Administração e Supervisão de Ativos Estatais da China. Muito do entusiasmo está sendo impulsionado pela pressão para cortar as emissões de forma cumprir as metas climáticas, além do custo crescente do carbono, disse Mao Zongqiang, professor do Instituto de Tecnologia Nuclear e Nova Energia, da Universidade Tsinghua em Pequim.
Enquanto as empresas estatais estão fazendo apostas maiores em diferentes possibilidades para o hidrogênio, empresas privadas como a Longi e a Sungrow Power Supply, por enquanto, estão mantendo o foco mais limitado no desenvolvimento do eletrolisador.
A Longi não construiu capacidade em aplicações downstream, como células de combustível ou produção de hidrogênio, pois “não viu uma direção clara” de onde estará o maior potencial, disse Li Zhenguo, presidente da Longi, em uma entrevista recente.
No entanto, os gigantes solares esperam permanecer na vanguarda da indústria, à medida que empresas, de refinadores de petróleo a siderúrgicas, gravitam em torno do hidrogênio.
“A energia solar aborda principalmente a questão da redução de carbono no campo da eletricidade, mas conforme o setor industrial aprofunda os cortes de emissões, vemos o hidrogênio como uma energia secundária limpa e indispensável”, disse Wang de Longi.
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