Governo eleva estimativa da safra de grãos pelo segundo mês consecutivo

Conab acrescentou 1,3 mi de toneladas à previsão de novembro pelo aumento da área plantada e da produtividade das lavouras de soja e milho

Depois de um ano sofrendo com o clima, há expectativa de incrementos na área plantada e na produtividade
09 de Dezembro, 2021 | 01:07 PM

Bloomberg Línea — A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), empresa vinculada ao Ministério da Agricultura, revisou para cima sua estimativa para a produção brasileira de grãos. A safra 2021/22, que está sendo plantada neste momento, deverá produzir 291,1 milhões de toneladas e alcançar um novo recorde. O novo número representa um acréscimo de 1,3 milhão de toneladas (0,44%) à estimativa realizada em novembro, quando a Conab projetou que a produção nacional seria de 289,8 milhões de toneladas. Em comparação à safra passada (2020/21), encerrada oficialmente no último mês de setembro, o dado atual significa um crescimento de 15,1%, ou um incremento de 38,3 milhões de toneladas ao volume colhido no ciclo anterior.

O motivo para o ajuste na produção se deve à melhora nas condições climáticas em praticamente todas as regiões produtoras do país, o que tem permitido um bom desenvolvimento das lavouras. Nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e no polígono formado pelos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (Matopiba) foram registrados grandes volumes de chuva, superando em muitos casos a média para o período. Contudo, na região Sul, as chuvas ainda não atingiram a média, especialmente no oeste do Paraná e no Rio Grande do Sul.

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Diferentemente do que ocorreu no ano passado, quando a estiagem registrada nos meses de outubro e novembro, neste ano as condições climáticas têm se mostrado favoráveis. Esse cenário fez com que fosse revisada também a previsão para as produtividades das lavouras de soja e milho do país. De acordo com os dados da Conab, os agricultores deverão colher 58,9 sacas de 60 quilos de soja por hectare, o que significa 12,5 quilos a mais do que o estimado em novembro e 10,8 quilos acima do que foi colhido na safra passada.

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A grande diferença de rendimento, no entanto, ficará por conta do milho. A produtividade do cereal foi duramente impactada no ano passado por conta da seca. Com o clima se mostrando estável até o momento, os produtores devem colher 93,2 sacas de 60 quilos em cada hectare de milho plantado. Esse rendimento representa um incremento de mais de 20 sacas em comparação à média de 72,8 sacas obtidas no ciclo 2020/21. Vale lembrar que, no ano passado, durante as primeiras estimativas para a safra 2020/21, a Conab chegou a projetar aumentos de rendimento e de produção de milho no Brasil, mas se viu obrigada a fazer cortes quase que mensais para adequar sua projeção à realidade das lavouras.

A expectativa que os preços da soja e do milho no mercado internacional permaneçam em sua trajetória ascendente também está fazendo com que os produtores aumentem sua área plantada. A expectativa da Conab é que sejam cultivados 68,8 milhões de hectares com grãos na safra 2021/22, dos quais 40,3 milhões (58,6%) com soja e 20,9 milhões (30,4%) com milho. A nova projeção representa um acréscimo de 135 mil hectares em comparação à estimativa de novembro e de 2,56 milhões sobre a área cultivada no ano passado. Os maiores incrementos na área são proveniente das duas principais lavouras. Os produtores de soja adicionaram 1,42 milhão de hectares à área plantada no ano passado, enquanto os de milho ampliaram em pouco mais de 1 milhão de hectares suas lavouras.

A revisão da produção nacional de grãos corrobora as expectativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio e da agropecuária no ano que vem, anunciado ontem pela Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A própria entidade representativa dos produtores reconheceu que a meta de se chegar a uma colheita de 300 milhões de toneladas em 2030 deverá ser antecipada. A expectativa é que o marco seja alcançado nos próximos dois anos.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.