Bloomberg Línea — O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, que engloba não apenas a produção agropecuária em si, mas as indústrias processadoras, cadeia de insumos e serviços relacionados ao setor, deve encerrar o ano com um crescimento de 9,4% em comparação ao resultado do ano passado. Em se confirmando o desempenho, o segmento passará a representar uma fatia de aproximadamente 29% do PIB nacional, ante a participação de 27% do ano passado, conforme estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).
Considerando-se apenas a atividade agropecuária, ou seja, aquilo que se produz dentro das porteiras, a CNA projeta que o PIB do setor produtivo deste ano terá um crescimento mais modesto, de 1,8%. Apesar da forte valorização dos preços agropecuárias ao longo de 2021, fatores climáticos como estiagem e geadas reduziram a produção de milho, cana-de-açúcar, café e outras culturas, não permitindo que os produtores se beneficiassem integralmente das cotações praticadas no mercado.
“Não foi o ano que nós esperávamos. Tivemos problemas climáticos em quase todas as regiões e nossa expectativa de uma safra de 270 milhões de toneladas foi efetivamente de 251 milhões. Nas exportações, também não foi o esperado, apesar do aumento de receita”, disse João Martins, presidente da CNA.
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Para o ano que vem, o agronegócio brasileiro tende a manter o ritmo de crescimento. A projeção da CNA é que o PIB das cadeias que formam o setor apresentem um novo avanço, dessa vez, entre 3% e 5% em comparação ao resultado de 2021. Levando em consideração apenas o PIB da agropecuária, a expectativa é de um crescimento de 2,4%.
Custos em elevação
Apesar dos resultados positivos deste ano e de projeções animadoras para 2022, o saldo pode não ser totalmente favorável aos produtores. O forte aumento dos custos de produção já identificado na safra que está sendo plantada em 2021 tende a se manter para o ano que vem, com grandes chances de se intensificarem ainda mais. O maior gasto com insumos agropecuários é apontado como sendo de alto impacto sobre o setor produtivo e com alta possibilidade de acontecer.
“Vamos ter uma redução de margem no ano que vem. O ritmo de compra de fertilizantes está mais lento e ainda há o risco daqueles que ainda não compraram terem que pagar um preço ainda mais alto porque os insumos podem continuar subindo”, afirma Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA. Ele lembra que, no caso da soja, a relação de troca por fertilizantes, que era de oito sacas por tonelada já tem uma expectativa de se chegar a 12. Isso porque fatores como a produção menor em países fornecedores, questões geopolíticas, custos com energia e o câmbio ainda elevado têm influenciado diretamente os valores no mercado internacional. “Não vai faltar, mas o preço estará muito mais caro”, diz.
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Apesar dos custos maiores, a tendência é que os preços dos produtos agropecuários sigam em elevação. Mesmo considerando os riscos da pandemia, com as novas variantes em circulação, a CNA prevê que a retomada da economia, o auxílio Brasil, a queda no desemprego e o reaquecimento da demanda garantirão valores ainda atraentes ao setor produtivo. “O maior mercado para os produtos do agronegócio nacional é o próprio Brasil”, afirma Lucchi. Para ele, o cenário de inflação de alimentos ainda estará presente em 2022, mas não será algo exclusivo do Brasil.
Comércio Exterior
As exportações brasileiras do agronegócio nacional já superaram US$ 110 bilhões até novembro. O resultado já é 10% superior às vendas realizadas pelo setor em todo ano passado. O resultado financeiro, no entanto, esconde o desempenho mais tímido do ponto de vista do volume exportado, que recuou 6,5% de janeiro a novembro, em comparação ao mesmo período do ano passado. “A queda no volume não é porque a demanda foi menor, mas porque faltou produto para vender. A demanda internacional deve se manter no ano que vem e o cenário para as exportações do agronegócio de se manter positivo”, afirma Lígia Dutra, diretora de comércio internacional da CNA.
Mesmo com o embargo da China à carne bovina brasileira desde setembro, o país asiático foi o maior cliente do agronegócio brasileiro em 2021. Os chineses compraram US$ 38,9 bilhões em produtos até novembro, o que representou um crescimento de quase 20% em comparação ao desempenho do ano passado. No entanto, os números escondem um fator de risco. Em 2021, o agronegócio do Brasil aumentou ainda mais sua dependência da China. Enquanto no ano passado o mercado chinês foi o destino de 32,4% das exportações brasileiras do setor, em 2021 essa fatia já está em 35,4%.
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“O Brasil precisa correr atrás dos acordos comerciais. O país tem negociado um acordo com a Coreia do Sul, mas não houve avanço neste ano. Não temos acordos com países asiáticos e precisamos caminhar para aquele lado do mundo”, afirma Lídia. Para ela, mesmo o Brasil tendo exportado produtos agropecuários para mais de 190 países e termos introduzido neste ano 69 novos produtos em 30 países, é fundamental que haja uma diversificação, tanto de produto, quanto dos destinos. “Ampliamos o acordo que tínhamos com o Chile e isso foi fundamental para aumentarmos nossas exportações de carne para lá”, afirma.
Hoje, apenas cinco produtos representam quase 60% das exportações dos agronegócio. Do ponto de vista dos destinos, os cinco maiores importadores do Brasil correspondem a 62% de tudo o que o país vende.