Elon Musk está muito equivocado sobre subsídios

Pela segunda vez Musk se posiciona contra a ajuda do governo nos últimos meses

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Bloomberg Opinion — Elon Musk não quer subsídios do governo. “Basta excluí-los todos”, disse ele na segunda-feira (6) na Cúpula do Conselho de CEOs do Wall Street Journal, referindo-se ao apoio estatal ao mercado de veículos elétricos. Mas isso não significa que a Tesla não tenha se beneficiado de incentivos, ou que outras empresas não precisam deles. Elas precisam.

Esta é a segunda vez que Musk se posiciona contra a ajuda do governo nos últimos meses. Algumas semanas atrás, a empresa retirou seu pedido de auxílio estatal para uma fábrica de baterias planejada para se instalar na Alemanha, onde se esperava receber mais de 1 bilhão de euros (US$ 1,2 bilhão) em apoio. “Sempre foi a opinião da Tesla que todos os subsídios deveriam ser eliminados”, ele postou no Twitter.

Não está claro qual é sua justificativa exata, especialmente porque a Tesla - agora avaliada em cerca de US$ 1 trilhão - conhece muito bem o que é tratamento preferencial por parte do estado, incluindo dos Estados Unidos e da China.

A empresa de Musk foi construída com base em boas ideias (principalmente) que foram apoiadas pela generosidade pública. Os incentivos do governo aumentaram as vendas em locais que vão desde a Dinamarca até Hong Kong, enquanto as operações de manufatura na China foram relativamente tranquilas graças aos auxílios estatais. Na Europa, a Tesla estava procurando obter subsídios para se instalar na Alemanha. Para novos mercados, como a Índia, a empresa está procurando ativamente por uma entrada com isenções. Poucas outras montadoras foram capazes de usar os subsídios globais com a mesma eficácia.

Nos EUA, a ajuda veio de várias formas, incluindo empréstimos, créditos e incentivos fiscais. Em 2010, a empresa obteve um empréstimo de US$ 465 milhões do Departamento de Energia no âmbito de um programa especial, que foi reembolsado três anos depois. O estado de Nevada deu à empresa US$ 1,3 bilhão em incentivos para construir uma fábrica de baterias perto de Reno. Outros estados deram milhões de dólares a Musk também. Os créditos fiscais para os consumidores, por sua vez, ajudaram a tornar a Tesla mais acessível, até que a empresa vendeu veículos suficientes para torná-la inelegível para o auxílio. De acordo com o atual projeto de lei de gastos “Build Back Better”, de Biden, a montadora poderia se requalificar porque o limite para carros vendidos será suspenso. A Tesla continua a se beneficiar de créditos de poluição, que também pode vender a outros fabricantes.

Quando o mercado dos EUA estava turbulento, porém, Musk olhou para a China - uma base crescente de consumidores com políticas de apoio, onde foi recebido de braços abertos. A Tesla se beneficiou de empréstimos com termos frouxos, terrenos de baixo custo, um acordo de investimento com o governo, apoio para a construção rápida de sua fábrica, uma profunda cadeia de suprimentos de fornecedores, incluindo baterias - e muito mais. Tudo isso permitiu à empresa produzir milhares de veículos para venda no maior mercado do mundo e agora exportá-los para outras partes do mundo.

Com o peso que tem no mercado e vendas recordes em alguns lugares, é fácil para Musk desdenhar apoio. Na conferência do WSJ, quando questionado se o apoio do estado para redes de recarga de baterias seria necessário, Musk respondeu: “Desnecessário - precisamos de apoio para postos de gasolina?”

Mas o problema é o seguinte: a história mostra que os veículos elétricos ficaram atrás dos veículos com motor de combustão interna devido ao investimento insuficiente em redes de eletricidade e infraestrutura, como instalações de recarga. Na verdade, um estudo mostrou que quando o desempenho era levado em consideração, os veículos elétricos eram mais baratos ou semelhantes aos carros com motor a gasolina. O “fator mais importante para resolver a corrida entre os veículos a gasolina e os elétricos”, ele descobriu, era que “se uma rede de eletricidade já existisse há 15 ou 20 anos, a balança teria se inclinado” a favor dos elétricos.

Mesmo hoje, essa barreira de custo permanece. Segundo algumas estimativas, é algo em torno de US$ 6 trilhões, cerca de metade disso é dinheiro que precisa ser gasto em redes de eletricidade. A indústria é de capital intensivo, como Musk bem sabe. A única forma de ultrapassar o obstáculo antes que a aceitação aumente exponencialmente é a ajuda pública. Claro, pode haver a necessidade de políticas mais bem elaboradas, subsídios mais focados e maneiras de impulsionar mais investimentos por parte das empresas junto com o auxílio do governo. Sem isso, o mercado de veículos elétricos não vai decolar. O investimento privado por si só, ou uma abordagem laissez-faire, não é uma opção.

Talvez Musk possa testar sua teoria compartilhando um pouco da generosidade de que desfrutou, ou melhor ainda, recusando todo o tratamento preferencial que recebe ao redor do mundo. Seus problemas na Alemanha podem ser uma amostra do que pode acontecer. Em seguida, veremos onde vão parar as ações e as vendas e até onde pode chegar o apoio das políticas públicas.

Anjani Trivedi é colunista da Bloomberg Opinion e escreve sobre empresas industriais na Ásia. Anteriormente, escrevia para o Wall Street Journal.

Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion

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