Bloomberg — Uma desaceleração nas ofertas públicas iniciais de ações ao redor do mundo é esperada após o volume recorde deste ano. Mas em poucos lugares o movimento deverá ser tão abrupto quanto no Brasil.
A maior economia da América Latina enfrentará uma eleição presidencial que deixará os investidores apreensivos no próximo ano, enquanto a turbulência política já começou a afetar algumas transações. O mercado acionário local recuou 10% neste ano, figurando entre as piores bolsas globais. Diante desse cenário, as listagens brasileiras devem perder tração após levantarem um recorde de R$ 65 bilhões em 2021 até o dia 6 de dezembro, de acordo com dados da Bloomberg.
À medida que o Brasil avança com uma forte alta de juros para controlar a inflação e os traders se preparam para o que pode ser uma eleição polarizada em outubro, sinais de desaceleração já emergiram. Desde o começo de setembro, nenhuma oferta teve seu preço fixado na bolsa local, com dezenas de empresas cancelando ou suspendendo suas transações.
“Vemos uma queda importante no ano que vem, diante do cenário eleitoral e volatilidade crescente”, disse Roderick Greenlees, que chefia o banco de investimento no Itaú BBA, líder em IPOs brasileiros neste ano. O banco espera entre 10 a 20 listagens de empresas brasileiras em 2022, contra 48 operações monitoradas pela Bloomberg neste ano.
O volume de IPOs globais já ultrapassou os US$ 600 bilhões, apoiado pela injeção de estímulos por parte dos banco centrais e uma recuperação nos resultados corporativos. Ainda assim, o número de transações suspensas aumentou nos últimos meses à medida que investidores tiveram que lidar com riscos crescentes como inflação em alta e uma nova variante do coronavírus.
“O cenário já está mais desafiador”, disse Eduardo Miras, chefe de banco de investimento do Citi no Brasil.
Quando 2021 começou, a combinação entre baixas taxas de juros, rápido crescimento da indústria de fundos local e expectativa de recuperação econômica pós-pandemia trouxe uma enxurrada de transações. A crescente participação de investidores de varejo na bolsa também alimentou a febre dos IPOs, com o investidor individual comprando até 60% de algumas ofertas.
O quadro mudou quando ganharam força temores de que os esforços de reeleição do presidente Jair Bolsonaro prejudicariam a trajetória fiscal do país, arrastando a bolsa brasileira. O aumento da inflação fez com que o Banco Central elevasse a taxa Selic em 575 pontos-base desde março. Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva têm liderado as pesquisas de opinião para a corrida presidencial, com suas visões divergentes sobre políticas econômicas ajudando a alimentar a incerteza.
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Conforme a bolsa em geral caía, também despencava o desempenho médio dos IPOs brasileiros neste ano. As ofertas iniciais, em média, recuam 23% no ano até agora, desempenho inferior ao do mercado como um todo. As ações da GetNinjas e da Westwing caíram 77% e 73% desde sua estreia, mostram dados da Bloomberg.
Apesar do nervosismo com a política, algumas transações devem avançar. As ações do Nubank estão programadas para estrear nesta semana em Nova York e outras empresas brasileiras, como o provedor de serviços de pagamentos Ebanx, podem explorar o mercado dos EUA para um pool mais amplo de investidores.
O resultado final seria um equilíbrio maior em 2022 entre as listagens brasileiras na bolsa local e as listagens no exterior do que em 2021, quando a maioria das empresas listava em casa. Negócios potenciais podem vir de setores como saúde, infraestrutura e tecnologia, disse Greenlees, do Itaú.
Ainda assim, embora os IPOs brasileiros devam se tornar mais escassos, algumas empresas de capital aberto podem realizar ofertas massivas de ações no próximo ano, incluindo a venda da participação que a Novonor detém na empresa petroquímica Braskem. A gigante de serviços públicos Eletrobras pode ser privatizada por meio de uma oferta de ações, mas precisará superar obstáculos, incluindo o TCU, que precisa aprovar a transação.
Ofertas subsequentes
No total, incluindo ofertas subsequentes, as ofertas de ações brasileiras podem chegar a R$ 120 bilhões no próximo ano, de acordo com cálculos do Itaú BBA. Isso se compara a cerca de R$ 141 bilhões até agora neste ano.
“A maior volatilidade deve levar a um ano menos ativo, mas ainda sou construtivo”, disse Eduardo Mendez, chefe de vendas de ações e mercados de capital de ações para a América Latina do Morgan Stanley. “Ainda se espera que várias transações ocorram, principalmente no primeiro semestre do ano.”
Os banqueiros também estão contando com uma atividade mais forte em fusões e aquisições para compensar parte da desaceleração nas IPOs no Brasil, de acordo com Greenlees, que recentemente assessorou a aquisição da marca de moda Carol Bassi pela Arezzo.
“Esperamos um aumento nas fusões e aquisições, com as empresas de private equity super capitalizadas”, disse Greenlees.
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