Bloomberg — O setor financeiro acabou de assinar um compromisso histórico para combater as mudanças climáticas, mas os maiores bancos do planeta estão deixando claro que pretendem ficar ao lado dos clientes produtores de combustíveis fósseis.
O JPMorgan Chase, maior coordenador de emissões de títulos para companhias de petróleo, aderiu em outubro à aliança global de Mark Carney para atingir zero emissões líquidas de carbono em seus financiamentos.
No entanto, nas últimas semanas, o banco originou cerca de US$ 2,5 bilhões em transações para empresas como Gazprom e Continental Resources — quantia equivalente às operações realizadas no mesmo período dos últimos anos.
O Wells Fargo — que segundo dados da Bloomberg, faz mais empréstimos a produtoras de combustíveis fósseis — deve dobrar o total de crédito concedido ao setor neste ano.
Ao todo, os bancos globais liderados pelos gigantes de Wall Street ajudaram empresas de combustíveis fósseis a emitir quase US$ 250 bilhões em títulos ao longo de 2021. A quantia está dentro da média anual de captação do setor desde 2016. A Agência Internacional de Energia vem avisando que o financiamento de novos projetos de produção de petróleo e gás precisa cessar imediatamente para evitar uma mudança climática catastrófica. Ainda assim, os executivos dos bancos afirmam que os grandes poluidores precisam de ajuda para fazer a transição para novas fontes de energia.
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“Não dá simplesmente para cair fora porque o mundo ainda é bastante dependente de combustíveis fósseis para atender à maior parte da demanda de energia”, disse Marisa Buchanan, diretora global de sustentabilidade do JPMorgan em Nova York. “É muito importante que nossos clientes tomem medidas para inovar e descarbonizar, mas nós também precisamos trazer capital para a comercialização dessas soluções.”
Este argumento é repetido frequentemente por profissionais do setor financeiro. A maioria concorda que é necessário combater o aquecimento global, mas é raro encontrar um grande banco que dispense clientes da indústria de combustíveis fósseis.
A Moody’s Investors Service estima que bancos, seguradoras e gestoras de ativos presentes nas 20 maiores economias do mundo ainda têm cerca de US$ 22 trilhões expostos a setores intensivos em carbono. A agência de classificação de risco afirma que esse modelo de negócios faz com que os bancos se exponham a perdas causadas pelo aumento das temperaturas.
A velocidade dos bancos para financiar a transição para uma economia de baixo carbono será fundamental para definir a chance de o planeta evitar um superaquecimento cataclísmico. Os executivos do setor afirmam que, se depender deles, não vão se livrar desses clientes tão cedo.
“O mais importante é ajudar nossos clientes na jornada de reequipar a base industrial de tecnologias antigas, intensivas em carbono, em direção a novas tecnologias de baixo carbono ou carbono neutro”, afirmou o CEO do HSBC Holdings, Noel Quinn, em entrevista à Bloomberg Television.
Enquanto mais dióxido de carbono é despejado na atmosfera, os cientistas fazem alertas cada vez mais assustadores. Mesmo se a última rodada de promessas climáticas for cumprida, o mundo ainda caminha para um aumento desastroso de temperatura de 2,4 graus até o final do século, segundo o Climate Action Tracker.
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