Pela 1ª vez, Minas desbanca SP no ranking de veículos emplacados

Aumento da alíquota do ICMS para carros novos vendidos provoca perda de protagonismo de São Paulo, segundo dados da Anfavea

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São Paulo — Pela primeira vez na história do setor automotivo, o estado de São Paulo, o mais populoso e rico do país, pode fechar um ano sem liderar o ranking de veículos leves emplacados, perdendo a posição para Minas Gerais devido ao aumento de alíquota de imposto de competência estadual (ICMS), que deixou os carros mais caros. A expectativa foi divulgada, nesta segunda-feira (6), pelo presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), Luiz Carlos Moraes, durante teleconfência com jornalistas para comentar o resultado das montadoras no mês de novembro.

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De janeiro a novembro, Minas Gerais emplacou 390,7 mil unidades, enquanto São Paulo registrou 384,1 mil. É a primeira vez que, nesses dados de licenciamento no acumulado do ano, o berço da indústria automobilística do Brasil perde o protagonismo nesse segmento. Essa mudança histórica no ranking ocorreu porque o consumidor paulista paga hoje mais imposto do que o mineiro na compra do carro.

Em abril deste ano, a alíquota do ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e prestação de serviços) subiu de 13,3% para 14,5%, após o governador João Doria (PSDB) baixar um pacote de ajuste fiscal (decreto nº 65.253/2020) em reação à perda de arrecadação com a crise econômica provocada pela pandemia da Covid-19. O ICMS é a principal fonte de receita para o caixa do governo paulista. Foi a 2ª alta do imposto. Em janeiro, a alíquota era de 12%.

“Com certeza, o aumento do ICMS em São Paulo é o principal fator [da liderança mineira]: 14,5% contra 12% faz diferença sim, principalmente no momento de recuperação”, disse o presidente da Anfavea em conversa com os jornalistas.

Ele também traçou um panorama negativo para as montadoras, como a redução do poder de compra dos consumidores, com o aumento da inflação, puxada principalmente pelo reajuste dos combustíveis, a elevação dos juros de financiamento na esteira do ciclo de alta da taxa Selic (na próxima quarta-feira, o Banco Central deve elevar o juro de 7,75% para 9,25% ao ano), além de previsões pessimistas para a economia em 2022 (no terceiro trimestre, o Brasil entrou em recessão técnica, em meio a um desemprego em patamar elevado e incertezas sobre o impacto da nova variante ômicron, da Covid).

A desorganização da cadeia global de produção, decorrente da pandemia, também contribuiu para a redução das vendas de veículos no Brasil, já que a escassez de insumos, como a falta de componentes (um carro precisa de 1.000 semicondutores diferentes - se for elétrico, 2.000), e os problemas logísticos (atrasos de entregas, aumentos de custos com frete e contêineres) provocaram uma inédita crise de oferta, derrubando os números da indústria automobilística brasileira.

Em novembro, houve uma ligeira melhora de 6,5% nas vendas na comparação com outubro, mas os resultados ficaram muito aquém para um mês historicamente aquecido. Os 173 mil autoveículos licenciados representaram um recuo de 23,1% sobre o mesmo mês de 2020, no pior novembro em 16 anos, segundo as estatísticas apresentadas pela Anfavea.

Exportação

Apesar do retorno às atividades da maioria das fábricas, o ritmo de produção continua prejudicado, segundo a entidade. Em novembro foram produzidas 206 mil unidades, 15,1% a mais que em outubro, porém 13,5% a menos que em novembro de 2020, configurando o pior resultado para o mês desde a crise (de demanda) de 2015. As exportações também não trouxeram alívio no mês passado, com apenas 28 mil unidades embarcadas, queda de 6% em relação ao mês anterior e de 36,3% sobre novembro do ano passado, divulgou a Anfavea.

Temos muitos veículos incompletos nos pátios das fábricas, à espera de componentes eletrônicos. Esperamos que eles possam ser completados neste mês, amenizando um pouco as filas de espera nessa virada de ano”, disse o presidente da Anfavea, acrescentando que a expectativa para 2022 é de uma melhora gradual no fornecimento de semicondutores, embora a solução completa da crise só esteja prevista para o final de 2022 ou início de 2023.

Ele destacou, no entanto, a diferença de desempenho de mercado dos veículos de transporte de carga, muito superior ao dos modelos voltados para passageiros. No acumulado do ano, caminhões cresceram 46,3%, picapes 28,4% e furgões 27,8%, quando comparados aos volumes dos primeiros 11 meses de 2020. Por outro lado, automóveis recuaram 1,3%, vans cresceram 1,6% e ônibus subiram apenas 0,7%. “Dentro do universo de automóveis, vale uma ressalva para a evolução de vendas dos SUVs, que cresceram 30% sobre o ano passado e em novembro representaram impressionantes 45,5% do total de carros de passeio”, observou Moraes.

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