Bloomberg — Um ano atrás, dificilmente um estrategista poderia prever que o índice acionário de melhor desempenho do mundo em 2021 seria o da Mongólia ou que o valor dos papéis de uma rede de salas de cinema aumentaria 13 vezes.
E embora muitos estivessem otimistas, poucos previam a força que levou bolsas europeias e americanas a bater sucessivos recordes — nem seu tombo com o surgimento da variante ômicron da Covid-19. Ainda menos gente esperava a freada da China ou a crise de liquidez que afeta as incorporadoras imobiliárias do país.
Acertar em 2022 não ficará mais fácil, mas alguns temas devem persistir:
Covid-19
As notícias da pandemia determinam os rumos dos mercados há quase dois anos. Mais recentemente, a ômicron afeta os índices das bolsas mundiais.
A maioria dos estrategistas espera que o vírus perca importância no ano que vem, com a chegada dos comprimidos antivirais da Pfizer e Merck reforçando o arsenal da humanidade contra a doença.
Ainda assim, a pandemia já ensinou que estratégia de renda variável é uma coisa e epidemiologia é outra.
Inflação
Se as pressões inflacionárias diminuírem nos próximos meses, é improvável que as bolsas subam em uma reação de alívio, dado que os preços dos papéis já contemplam essa possibilidade.
No entanto, se as pressões de preços persistirem ou ficarem mais intensas, a situação se complica. As ações oferecem boa proteção contra a inflação até certo ponto. Um avanço sustentado da inflação em 12 meses acima de 4% pode corroer os lucros e prejudicar as ações, de acordo com Florian Ielpo, responsável pelas áreas de macroeconomia e multiativos da Lombard Odier.
A alta da inflação também induziria os bancos centrais a apertar a política monetária, elevando os custos de empréstimos para países altamente endividados, como a Itália, e drenando a liquidez dos mercados.
Descarbonização
A inflação pode ficar estruturalmente mais alta devido ao processo de transição para a neutralidade climática. As maiores economias do mundo — dos EUA à Índia — assumiram um compromisso coletivo com essa meta este ano.
Preços mais altos do carbono e impostos ambientais aumentam os custos de produção da indústria, enquanto o investimento abaixo do necessário em combustíveis fósseis contribuiu para uma elevação dos custos de energia que ameaça prejudicar o crescimento e os fluxos de produção.
Por outro lado, gestoras de ativos como BlackRock e Nuveen enxergam na descarbonização oportunidades de investimento sem precedentes.
Metaverso
A reformulação de marca do Facebook chamou a atenção para a atividade econômica fora do mundo físico — das redes sociais às plataformas de jogos. A empresa cofundada por Mark Zuckerberg foi rebatizada como Meta Platforms.
O metaverso, que abrange mundos digitais onde os usuários podem socializar, jogar e trabalhar, representa uma oportunidade de trilhões de dólares, segundo o CEO da Epic Games, Tim Sweeney.
Atualmente, um modelo digital de uma bolsa Gucci para uso apenas em plataforma de jogos pode custar mais do que a versão física do acessório.
China
Pequim implementou medidas restritivas a gigantes da tecnologia e empresas de educação privada este ano e limitou empréstimos a incorporadoras imobiliárias para diminuir a dependência do país em relação ao setor. Paralelamente, a disparada dos preços no atacado dificulta a manutenção das margens de lucro. A falta de medidas de flexibilização significativas pelo banco central nos últimos meses se reflete no ritmo de crescimento econômico.
Para a BlackRock, o pico das medidas regulatórias já ficou para trás e as ações em favor da economia começarão a ter impacto no ano que vem. O BNP Paribas espera que Pequim ajuste as regras para incorporadoras imobiliárias e os programas de apoio ao setor privado em uma reunião econômica marcada para este mês.
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