Que tal chegar de carro da rua, entrar no prédio, pegar o elevador e estacionar o carro - no caso um Porsche de R$ 800 mil - dentro do apartamento? Isso é possível na Porsche Tower de Miami, cujas unidades de US$ 25 milhões têm elevadores próprios para o motorista levar sua supermáquina até a cobertura ou deixá-la dormir ao lado do quarto.
Os edifícios com design assinado por grifes de alto luxo, que fazem sucesso nos EUA e Oriente Médio, agora chegaram ao Brasil. A Gafisa está levantando nos Jardins (zona sul de São Paulo) um prédio com assinatura da Lamborghini, famosa pelos esportivos (amarelos!). Porto Alegre terá a versão local assinada pela Porsche, em empreendimento da Cyrela. Nenhuma das duas tem ainda o tal elevador para carro, mas o design não perde em nada para os empreendimentos no exterior, segundo os executivos.
Pioneira na alta renda, segmento da incorporação residencial que passa relativamente imune às sucessivas crises na economia, a Cyrela está construindo um edifício em Moema assinado pela Versace.
A grife de moda italiana, conhecida pela figura mitológica da Medusa e pelo mix exótico de tendências, leva para o empreendimento sua linha de móveis e decoração com muio dourado, mármore, veludo e ítens que vão de arabescos a ornamentos barrocos, renascentistas e de inspiração oriental.
Modelo de negócio
Mais do que licenciar o nome para os edifícios, as grifes de luxo costumam participar da elaboração dos projetos e fazer toda uma consultoria cuidadosa em termos de design e de decoração dos empreendimentos. As marcas cobram desde fees pelos projetos arquitetônicos e de decoração até por móveis e objetos próprios cedidos - caso da Versace, que tem produtos próprios assinados.
Em alguns casos, os contratos preveem um percentual das vendas dos apartamentos para a grife, como forma de alinhar ganhos e riscos da parceria entre a construtora e a dona da marca. Os executivos não revelam detalhes dos contratos, alegando cláusula de confidencialidade com as marcas.
A incorporadora é parceira desde 2014 do estúdio Pininfarina, famoso pelo design dos modelos vermelhos da Ferrari, em obras entregues em São Paulo nos últimos três anos. A Cyrela tem ainda um acordo com o estúdio Yoo, do designer francês Philippe Starck, que se tornou referência da elite paulistana que busca um estilo mais sóbrio.
Luxo de férias o ano todo
O modelo de design assinado de luxo na construção chegou antes aos hotéis, com grifes de moda como Armani, Bulgari e Fendi assinando projetos em Londres, Paris, Roma, Dubai e até em Bali e nas Maldivas. Além da arquitetura e do projeto em si, as grifes cuidam da decoração, dos produtos de higiene e beleza oferecidos e até dos serviços disponibilizados para os hóspedes.
Mais tarde, as incorporadoras adaptaram o modelo para o segmento residencial, trazendo ainda as marcas da indústria automobilística como Porsche, Ferrari, Lamborghini e Astom Martin - que inaugura em 2022 uma torre de 66 andares em Miami em 2022, com preços que chegam a US$ 50 milhões e vem com um veículo da marca.
“O que o cliente procura quando viaja e vai para o Burj Al Arab em Dubai? Ele procura uma sensação diferente do que ele tem no prédiozinho onde ele mora. A gente quer trazer isso para os nossos empreendimentos. Para que o nosso cliente viva isso no dia a dia e não só nas férias. Ele quer chegar no prédio e sentir como se estivesse entrando no lobby de um grande hotel”, disse Piero Sevilla, diretor de incorporação e negócios da Cyrela.
“As marcas de luxo, design, life style, perceberam que estar em empreendimentos residenciais é muito interessantes para o negócio delas. Elas conseguem mergulhar o universo delas no dia a dia das pessoas. É diferente do hotel, por exemplo, onde a pessoa está apenas de passagem e vai embora para casa. A marca passa a conviver com a pessoa”, disse Guilherme Benevides, CEO da Gafisa Incorporadora e Construtora.
Valorização do imóvel
No segmento de alta renda, o design assinado por grifes de alto luxo pode valorizar empreendimentos em mais de 50% o metro quadrado. É o caso do edifício assinado pela Lamborghini nos Jardins, que está saindo a R$ 40 mil o metro quadrado - na região os preços mais altos estão na faixa de R$ 25 mil. Um apartamento de 250 metros quadrados sai por cerca de R$ 10 milhões, dependendo do andar e da vista. Mas há também estúdios de 34 metros quadrados por R$ 1,4 milhão e de 21 metros quadrados por menos de R$ 1 milhão.
“A marca carrega valor no projeto por muitos anos. Daqui 30 anos, vai continuar a se falar da marca Lamborghini no nosso projeto nos Jardins. O projeto que não tem uma marca vai se envelhecendo”, disse Benevides.
Leia também
Mudança climática marca presença em feira de arte de Miami
Louis Vuitton é criticada por política de devolução falha na China
Monalisa brasileira, ‘A Negra’ de Tarsila do Amaral está à venda por R$ 22,5 mi em Miami