São Paulo — O cancelamento das festividades públicas de Réveillon e do Carnaval de 2022 na maioria das capitais brasileiras deve provocar uma redução no consumo de bebidas alcoólicas, como cerveja, impactando negativamente o faturamento das fabricantes, segundo um representante de uma entidade do varejo e um analista de investimentos.
A Prefeitura de São Paulo, cidade mais populosa do país, anunciou na última quinta-feira (2) que o município não promoverá festa de Réveillon. A decisão se soma a outras 16 informadas por outras capitais (Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza, Recife, Brasília, Porto Alegre, Florianópolis, Cuiabá, Belém, João Pessoa, São Luís, Vitória, Campo Grande, Aracaju, Natal e Palmas).
O presidente da FCDLESP (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de São Paulo), Maurício Stainoff, diz que a capital paulista, sem a realização da tradicional festa na Avenida Paulista, deve receber menos turistas neste fim do ano, o que tende a prejudicar as vendas de bebidas em bares e restaurantes. “As viagens, as reservas serão canceladas, e o consumo [de bebidas] tende a cair”, disse Stainoff à Bloomberg Línea.
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Já Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão da Nova Futura Investimentos, considerou que, se confirmados os cancelamentos das festas públicas de Réveillon e do Carnaval de 2022, haverá uma reavaliação do mercado quanto às projeções de faturamento do setor de bebidas.
“Isso é inevitável acontecer. O mercado já reagiu, em grande medida, a isso. Exemplo: Ambev estava numa trajetória muito boa, mas já devolveu uma parte do resultado da valorização que vinha tendo nas últimas semanas. De fato, Ambev reflete isso. Em um mês, a ação da Ambev caiu quase 10%. Ela vinha tendo um comportamento melhor do que o mercado, na média. Mas é justamente por conta disso, pela percepção de que havendo o cancelamento das festividades do fim do ano, o consumo de bebidas cai. Não acredito que o setor passe incólume à essa revisão para baixo das vendas de fim de ano, que são bastante importantes”, comentou Silveira.
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Até o terceiro trimestre deste ano, a Ambev vinha registrando sucessivos aumentos de receitas, batendo recorde nos volumes de vendas. Entre julho e setembro, a companhia viu os volumes de cerveja no Brasil crescerem 7,5% na comparação anual, totalizando 45,7 milhões de hectolitros.
Na última sexta-feira (3), ABEV3 registrou uma cotação mínima de R$ 15,83, em queda de 1,12%, mas acabou fechando a R$ 15,98, baixa de 0,19%, acumulando uma desvalorização de 7,25% em uma semana e de 7,94% em um mês. No ano, o papel ainda acumula ganho nominal de 10,33%.
Confiança
Para o presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Estado de São Paulo, o cancelamento das festividades de fim de ano prejudica também a confiança do consumidor e do empresário no momento em que o varejo ensaiava uma recuperação das vendas, depois de 20 meses de restrições impostas pela pandemia da Covid-19.
Stainoff disse que a Prefeitura de São Paulo deveria ter aguardado mais informações científicas sobre a variante ômicron antes de anunciar que a capital não promoverá a festa da virada. “Acho que a decisão foi precipitada. Deveria ter esperado mais uma semana ou 10 dias”, afirmou.
O líder da entidade de varejo fez questão de ressaltar que não é uma negacionista, que defende a vacinação e que as preocupações e alertas das autoridades sanitárias e de saúde devem ser levadas a sério. “Não queremos minimizar o problema, mas estamos divididos. Tememos um novo abre e fecha da economia, que acaba com o caixa dos empresas, causa insegurança, fechamento de lojas e aumento do desemprego”.
Consumo domiciliar
As decisões das prefeituras de cancelar eventos de rua como shows da virada e queima de fogos indicam, no entanto, uma brecha para limitar o tamanho da queda no consumo de bebidas. Em diversas cidades, os eventos privados foram liberados. Além disso, durante a pandemia, os brasileiros se acostumaram a recorrer aos aplicativos de entrega de bebidas, como o Zé Delivery, da Ambev.
Segundo a startup Take and Go, que disponibiliza máquinas de “vending cooler”, como são conhecidas as geladeiras que comportam até 210 garrafas long neck e 70 latas de cervejas, em condomínios, clubes e estabelecimentos, o consumo domiciliar de bebidas está em alta desde o início da crise sanitária.
Impulsionado pelo isolamento provocado pela pandemia e diante da praticidade oferecida pelas máquinas de autosserviço instaladas em condomínios, o consumo domiciliar de cerveja bateu recorde em 2020 atingindo 68,6% da população maior de 18 anos, ante os 64,6% conquistado em 2019, segundo pesquisa realizada pela Kantar Ibope Media, informou a empresa.
“Mesmo com o fim do isolamento social, acreditamos que a conveniência de comprar nessas máquinas de autoatendimento instaladas dentro dos condomínios residenciais se tornará um hábito, já que as pessoas estão habituadas e vão valorizar ainda mais as atividades sociais em casa”, afirmou Gustavo Almeida, CEO da Take and Go.
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