Brasil se aproxima de 100 dias sem exportar carne para China

Frigoríficos encaram o segundo mês consecutivo de queda expressiva no volume embarcado e na receita com vendas externas

Frigoríficos brasileiros enfrentam segundo mês sem acessar seu principal mercado consumidor e começam a sentir queda nos preços médios de exportação
03 de Dezembro, 2021 | 06:31 PM

Bloomberg Linea — O veto às exportações de carne bovina do Brasil para a China caminha para completar 100 dias na próxima semana. Desde o anúncio da proibição em 4 de setembro, após a confirmação de dois casos atípicos de ‘vaca louca’ no Brasil, até hoje (3) se passaram exatos 91 dias que os frigoríficos brasileiros não podem mais acessar seu maior mercado consumidor e que vinha garantindo os recordes nas exportações nacionais.

Depois de sentirem o real impacto apenas em outubro do que significa não vender para a China, quando os embarques tiveram o pior desempenho desde 2018, as indústrias nacionais tiveram mais um mês de queda nas exportações. Dados do Ministério da Economia mostram que as vendas de carne bovina e derivados somaram modestas 89,7 mil toneladas no mês passado. O volume representa uma queda de 49% em comparação ao volume embarcado em novembro do ano passado. O desempenho é muito semelhante às 86,6 mil toneladas exportadas em outubro de 2021, que significou uma retração de 48% em comparação a outubro de 2020.

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Em receita a situação é semelhante. O volume embarcado no mês passado gerou uma receita de US$ 418,8 milhões. O desempenho representou uma queda de 45% em comparação às vendas de novembro do ano passado e foi ainda menor que o resultado de outubro deste ano, quando as exportações renderam ao país US$ 439,9 milhões.

A proibição em se exportar carne para a China tem gerado duas consequências principais. A primeira é a queda da participação brasileira no mercado internacional de carne bovina. A segunda é a desvalorização do produto nacional.

Em agosto, antes do embargo, o preço médio da carne bovina exportada pelo Brasil era de US$ 5.614 por tonelada. Em setembro, no primeiro mês do embargo, a cotação teve uma modesta queda de 0,3% e ficou praticamente estável a US$ 5.598 por tonelada. Em outubro, o preço médio teve uma desvalorização de 9,3% e recuou outros 9,1% em novembro, passando a valer US$ 4.668 por tonelada, o valor mais baixo desde março deste ano.

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A situação dos preços só não se tornou mais crítica porque a Administração Geral de Alfândegas da China (GACC) comunicou na última semana de novembro a embaixada brasileira em Pequim que aceitaria a carne embarcada pelo Brasil em setembro, após a imposição do embargo. A única condição é que os lotes deveriam estar com o certificado sanitário internacional emitido antes de 4 de setembro, data do embargo.

Pelo protocolo firmado pelos dois países, os embarques deveriam ser imediatamente interrompidos após a confirmação dos casos de ‘vaca louca’, mesmo os lotes que já tivessem o certificado sanitário emitido. Contudo, as exportações brasileiras de setembro alcançaram o maior volume mensal da história, mesmo com a proibição imposta no início daquele mês.

Na prática, houve um descumprimento do protocolo pelo lado brasileiro. Até a notificação da GACC no fim de novembro, os frigoríficos brasileiros ainda não sabiam qual seria o destino da carne embarcada em setembro. Por fim, por meios diplomáticos, foi possível conseguir a liberação.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.