Por que os alimentos continuarão caros em 2022?

No cenário mais otimista, preços param de subir e se estabilizam, mas não há perspectiva de queda

Preços dos alimentos não sinalizam queda para 2022
02 de Dezembro, 2021 | 12:03 PM

Bloomberg Línea — Quem não dispensa um cafezinho sentiu que neste ano ficou mais caro apreciar a bebida. Tem gente dizendo que comer carne bovina vai se tornar um luxo dado o patamar que o produto alcançou. Em 2021, a carne de frango e suína já não foram mais aquela alternativa mais barata para substituir a carne bovina. Até o ovo, quase nunca lembrado, viu seu consumo crescer neste ano e, consequentemente, os preços subirem. Em suma, comer ficou mais caro e os alimentos pesaram na inflação.

E engana-se quem acha que a situação não poderia ficar pior. Para o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério da Economia, o cenário mais otimista para 2022 é de estabilização dos preços dos alimentos. Em muitos casos, a trajetória de alta se manterá no ano que vem. E uma coisa é certa, não haverá queda.

Veja o que esperar para os preços dos principais produtos agropecuários em 2022 e entenda os motivos que os farão se manter nos elevados patamares e por que muitos continuarão ficando mais e mais caros.

#Soja - Estável

O Brasil deve colher uma safra recorde no ano que vem, acima de 142 milhões de toneladas. Desse total, praticamente 90 milhões serão destinadas para exportação. Nos Estados Unidos, a produção também será maior. Com os dois maiores produtores do mundo aumentando a oferta e a China se mantendo devidamente abastecida, a expectativa é que os preços parem de subir e o mundo volte a recompor seus estoques, consumidos ao longo dos últimos anos. Uma queda não é esperada porque houve um forte incremento nos preços dos insumos agrícolas como sementes, defensivos e fertilizantes.

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#Milho - Estável

Depois de uma quebra na safra de milho neste ano por conta da estiagem, tudo indica que o Brasil voltará a produzir bem. A estimativa da Conab é de uma colheita 34,1% maior, o equivalente a 116,7 milhões de toneladas. Se confirmado, o volume não só repõe os estoques domésticos, como também pode recuperar seu protagonismo como um dos principais exportadores no mercado internacional. Contudo, a demanda chinesa deve se manter aquecida, deixando a oferta e a demanda equilibrados, sem grandes alterações nos estoques mundiais.

Veja mais: Indústrias buscam alternativa ao milho para conter escalada dos custos

#Trigo - Alta

A produção nacional deve crescer, segundo as primeiras estimativas. Contudo, o Brasil é um dos maiores importadores do mundo, ficando exposto tanto do ponto de vista dos preços internacionais quanto das oscilações do dólar. O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) estima que haverá um déficit de 1% entre a produção e o consumo deste ano, que será elevado para 1,6% no ano que vem, levando o mundo a consumir parte dos seus estoques do cereal.

#Algodão - Alta

Os preços alcançados em 2021 devem levar os produtores a aumentar a área plantada e, consequentemente, a produção da pluma no ano que vem. Contudo, a indústria têxtil nacional tende a comprar apenas o necessário para recompor seus estoques, visto que o poder de compra dos brasileiros ainda está fragilizado. Esse cenário seria suficiente para manter os preços estáveis, mas fora do Brasil o contexto se mostra outro. Globalmente, há uma expectativa de aumento do consumo por conta da reabertura das economias. Se esse cenário se concretizar, será o segundo ano consecutivo em que o mundo terá um déficit entre a oferta e a demanda, o que tende a manter os preços em alta.

#Café - Estável

Os preços do café subiram bastante em 2021 e tendem a continuar subindo nos próximos meses. A oferta mundial foi bastante influenciada pela quebra na produção do Brasil, maior produtor de café do mundo. Além do ciclo de baixa das lavouras brasileiras, os cafezais sofreram com muitos efeitos climáticos, como estiagem e geadas. O cenário de preços altos deve durar até que a colheita da próxima safra chegue ao mercado. A produção a partir de meados de 2022 tende a ser maior devido ao ciclo de alta da cultura e também por conta de um clima mais favorável ao desenvolvimento das lavouras até agora. Na balança, a perspectiva é que os preços parem de subir e fiquem mais estáveis.

#Carne bovina - Estável

A produção de carne bovina não deve crescer em 2022. O aumento dos custos de produção não deve motivar os pecuaristas a investirem para elevar seus rebanhos. Esse cenário já se mostra uma realidade neste ano, uma vez que em setembro, o número de animais abatidos foi o menor dos últimos 17 anos. Por si só, esse fator seria um motivo para a alta dos preços, porém, a ponta da demanda está enfraquecida. O consumo doméstico está abalado por conta do baixo poder de compra dos brasileiros, seja pela inflação ou pelos elevados patamares onde os preços da carne já chegaram. Além disso, o Brasil segue sem poder exportar para a China, seu maior mercado, responsável por comprar metade de tudo o que é vendido ao exterior.

#Carne suína - Estável

A recente queda dos preços internacionais da carne suína nos últimos meses deve diminuir o interesse dos produtores em elevar a oferta em 2022. O USDA projeta que a produção mundial deve encolher cerca de 2% no ano que vem, principalmente pela perda de interesse dos produtores chineses que, além dos maiores importadores do mundo, também são os maiores produtores. Na ponta da demanda, é esperado um crescimento de 2%, o que deve fazer com que os preços se mantenham nos atuais patamares. Vale lembrar que o atual nível de preço é cerca de 15% maior do que o praticado no mesmo período de 2020.

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#Carne de frango - Alta

Com os preços da carne bovina e suína ainda em patamares altos, a demanda por carne de frango deve se manter aquecida no ano que vem. O frango sempre foi o substituto natural da carne bovina e essa tendência não deve se alterar em 2022. Contudo, os custos de produção continuaram subindo e devem ser repassados aos consumidores. Diante desse quadro de demanda alta e custos elevados, os preços devem seguir ladeira acima.

#Ovos - Estável

Quase sempre esquecidos, os ovos voltaram ao cardápio em 2021. Com todas as principais proteínas de origem animal em alta, muita gente optou pelos ovos como alternativa nas refeições. Essa demanda fez os preços subirem bastante neste ano, mas a expectativa é que eles se mantenham nos atuais patamares, uma vez que já existem sinais de estabilização do consumo.

#Arroz - Alta

Com a demanda doméstica restrita e uma perspectiva de aumento da produção, o mercado externo segue como principal alvo. E com razão, já que a previsão é que a China permaneça ativa em suas compras, fazendo com que a demanda mundial aumente 2,1% no ano que vem. Diante desse quadro, a estimativa do USDA é que o mundo tenha um déficit entre a oferta e a demanda em 2022, sinalizando preços em elevação.

#Lácteos - Queda

O aumento da oferta no mercado doméstico e a queda da demanda dos derivados lácteos deve fazer com que os preços do leite recuem moderadamente em 2022. Diante do quadro inflacionário de outros alimentos, os derivados lácteos acabam ficando em segundo plano na demanda dos consumidores. Apesar do aumento dos custos, não há sinais de problemas na produção, o que cria um quadro de oferta em alta e demanda em queda, resultando em preços em baixa para o ano que vem.

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Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.