Bloomberg — O advento da variante ômicron do coronavírus representa novos desafios para os dirigentes de bancos centrais, pois ameaça o crescimento econômico e aumenta as pressões inflacionárias.
Essa é a análise inicial de economistas, que alertaram que possíveis novas restrições à mobilidade colocam em risco os planos de encerrar o estímulo monetário, ao mesmo tempo em que reforçam os mesmos desequilíbrios que alimentaram a atual onda de alta dos preços ao consumidor.
A ômicron surgiu apenas algumas semanas antes das importantes decisões dos bancos centrais globais – o Federal Reserve possivelmente pode acelerar o encerramento de seu estímulo, o Banco da Inglaterra deve aumentar as taxas de juros, e o Banco Central Europeu planeja retirar a zona do euro da compra de títulos de emergência. Eles estão se preparando para responder ao aumento da inflação, que atingiu o maior patamar em três décadas nos Estados Unidos, também a maior da história da zona do euro e um recorde de 10 anos no Reino Unido.
O presidente do Fed Jerome Powell mencionou a dinâmica que a ômicron representa para a economia em comunicado na segunda, antes de uma audiência no Congresso. A ômicron representa “riscos de baixa” para os empregos e o crescimento, mas também gera um “aumento da incerteza” para a inflação, disse.
“Isso pode fazer os bancos centrais questionarem o momento e a extensão dos aumentos das taxas, o que os mercados vinham pleiteando para o ano que vem”, disse Alex Brazier, estrategista do BlackRock Investment Institute e ex-funcionário sênior do Banco da Inglaterra. “A questão é o quanto isso atrasa a recuperação” das economias, disse ele. “O atraso significa um crescimento mais fraco no curto prazo, mas um crescimento mais sólido posteriormente”.
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Cadeias de abastecimento
Para complicar ainda mais a decisão das autoridades, existe o risco de que a ômicron gere novas restrições em hubs de manufatura como a China, agravando os problemas das cadeias de abastecimento ao mesmo tempo em que intensifica a escassez de mão de obra em outros lugares, já que os temores impedem as pessoas de voltar ao trabalho.
Essas forças podem impulsionar ainda mais a inflação, que já enfrenta uma possível aceleração graças à forte demanda do consumidor – que está adentrando a temporada de festas de fim de ano – sustentada por economias reprimidas.
Por outro lado, os impulsos desinflacionários podem incluir novos “sell-offs” nos mercados financeiros, como a queda nos preços de energia no final da semana passada.
“A volta dos lockdowns prejudica o crescimento, mas o efeito sobre a inflação não é tão claro”, disse Jordan Rochester, estrategista da Nomura International. “A médio prazo, não está claro se a é medida é desinflacionária, considerando que as cadeias de abastecimento terão problemas por mais tempo, a demanda do consumidor permanece forte e os balanços das famílias estão mais sólidos que em 2019″.
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Inflação desanda
O panorama da inflação ficou ainda pior na segunda-feira, com a Alemanha relatando que os preços subiram mais que o esperado em novembro e a Espanha registrando o aumento do custo de vida mais rápido em quase três décadas. Os dados da zona do euro devem ser divulgados na terça-feira (30).
Mesmo antes do surgimento da nova variante, o governador do Banco Nacional holandês, Klaas Knot, mencionou o risco de novas pressões sobre os preços ao contemplar o possível impacto de novos lockdowns para conter o aumento de infecções.
Embora as medidas “certamente tenham um impacto moderador sobre a atividade econômica, o impacto sobre a inflação será na verdade mais ambíguo, porque também pode reforçar algumas das preocupações que temos quanto aos gargalos no abastecimento”, afirmou Knot, um dos funcionários mais hawkish do Banco Central Europeu, à Bloomberg TV na semana passada.
Ainda assim, ao avaliarem o panorama com a ômicron, alguns banqueiros centrais pareciam relaxados na segunda-feira. O governador do Banco do Japão, Haruhiko Kuroda, declarou que a nova variante não mudou sua expectativa de que a economia do Japão volte a crescer em breve, enquanto o governador do Banco da França, François Villeroy de Galhau, disse que “não deve mudar muito o panorama econômico”.
Para Neil Shearing, economista-chefe da Capital Economics, a ômicron parece cada vez mais um choque diferente daquele a que os banqueiros centrais estavam acostumados.
“Em comparação com as ondas anteriores do vírus, que em geral eram desinflacionárias, uma nova onda agora pode ser inflacionária”, afirmou.
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