Ômicron deve pressionar varejistas a exigir vacinas de funcionários

Varejistas que dependem do período de festas para obter ganhos com o aumento das vendas temem que a exigência afaste trabalhadores temporários

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Bloomberg Opinion — A variante ômicron da Covid-19 pode aparecer nos Estados Unidos em breve - se é que já não chegou - mas os varejistas do país ainda não estão interessados em fazer a única coisa que protegeria milhões de trabalhadores antes que ela apareça: vacinas obrigatórias.

É a temporada de compras natalinas, é claro. Os varejistas que dependem desse período para obter ganhos com o aumento das vendas temem que a exigência afaste grande parte dos 665.000 trabalhadores temporários, que precisam contratar para movimentar as mercadorias. Esses temporários complementariam cerca de 32 milhões de outros funcionários mais permanentes do varejo. Como a ciência e os dados já nos mostraram, trabalhadores não vacinados são mais vulneráveis do que os vacinados às mazelas causadas pela Covid . Por extensão, os clientes também ficam mais seguros sendo atendidos por trabalhadores vacinados.

Os varejistas entendem isso - mais ou menos.

“Todos concordamos com a premissa de que as vacinas são boas e salvam vidas”, disse Stephanie Martz, da alta gerência de um grande grupo comercial, a Federação Nacional de Varejo (NRF, na sigla em inglês), ao New York Times na semana passada. “Mas, da mesma forma, você não pode simplesmente dizer, ‘OK, faça assim’.”

Por que não? Se quisessem, os varejistas certamente poderiam dizer: “Faça assim”. Se eles realmente acreditam que as vacinas salvam vidas, devem adotar todas as medidas disponíveis para garantir seu uso. A exigência da vacinação é uma demonstração clara desse compromisso. Os varejistas não querem fazer isso porque têm resultados financeiros para cuidar e temem a escassez de trabalhadores. Esse medo é compreensível, e os varejistas pediram ao governo Biden que os deixasse esperar até o final do inverno - após a corrida das compras de fim de ano - antes de adotar a nova norma de obrigatoriedade de testes e vacinas do Departamento de Trabalho para empresas com 100 ou mais funcionários.

Mas mesmo que o medo dos varejistas de que faltem trabalhadores seja compreensível, pode não ser racional. Algumas empresas que já instituíram a obrigatoriedade e a mantiveram não testemunharam demissões em massa. A United Airlines e a Tyson Foods são apenas alguns desses exemplos bem-sucedidos. Governadores e prefeitos em Nova York e Illinois tiveram resultados semelhantes depois de instituir a obrigatoriedade de vacina para seus funcionários. O maior dos grandes varejistas, o Walmart, disse que “a esmagadora maioria” dos trabalhadores que eles exigiram que se vacinassem, seguiram a orientação.

Por outro lado, o Walmart impôs exigências apenas aos funcionários corporativos. Os funcionários da linha de frente do Walmart estão recebendo incentivos para serem vacinados, mas não estão sujeitos à obrigatoriedade. Isso é um reflexo dos varejistas em cima do muro, que continuam tentando contornar as exigências e a crença de que a resistência de alguns dos trabalhadores da linha de frente às vacinas é intransponível. É também um reconhecimento de que a pandemia deu aos trabalhadores do varejo um bom motivo para questionar por que toleraram salários baixos, benefícios ruins e tratamento inadequado por tanto tempo - e explica por que eles estão deixando o setor em massa.

Ainda assim, milhões de trabalhadores do varejo permaneceram, e empresas como Walmart, Target e Costco tentaram recompensá-los - e atrair novos trabalhadores - aumentando as horas de trabalho e melhorando os benefícios. Se os varejistas continuarem a tornar seus locais de trabalho mais atraentes para os trabalhadores de colarinho azul, eles provavelmente terão mais flexibilidade quando se trata de fazer outras coisas corretamente - como emitir ordens de vacinação.

No entanto, a NRF claramente não compartilha dessa visão. Os maiores membros do grupo comercial incluem Walmart, Target, Amazon, Kohl’s, Lowe’s, Home Depot, Nordstrom, Gap , BJ’s Wholesale Club e Macy’s, e no início deste mês, a federação processou o governo Biden para suspender a obrigatoriedade. O processo argumenta que esse tipo de medida federal causaria “danos irreparáveis” a uma indústria fustigada por dores de cabeça na cadeia de suprimentos e problemas trabalhistas (mas ainda, de alguma forma, desfrutando de um aumento considerável e lucrativo nos gastos do consumidor).

Pouco antes da NRF entrar com o processo, ela enviou uma carta ao Departamento do Trabalho lançando mão de sofismas para justificar sua oposição à exigência de vacinação. “Os trabalhadores enfrentam o perigo da Covid-19 onde quer que vão”, observou a carta, “porque são seres humanos que transitam pelo mundo, não porque vão trabalhar.” Em outras palavras, a Covid-19 está em todo lugar e o fardo não deveria recair sobre os varejistas para tornar os trabalhadores mais seguros.

Os varejistas que rejeitam as ordens estão jogando o um jogo perigoso e auto-destrutivo, como seus funcionários avessos à vacina e outros antivacina. Esperemos que a variante ômicron não os force a reconhecer a gravidade que esse jogo representa - e quão profundamente irresponsável e cínico é para alguns membros da América corporativa dizer que sabem que as vacinas salvam vidas enquanto tiram o corpo fora.

Timothy L. O’Brien é colunista sênior da Bloomberg Opinion.

Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion

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