Opinión - Bloomberg

Ômicron deve pressionar varejistas a exigir vacinas de funcionários

Varejistas que dependem do período de festas para obter ganhos com o aumento das vendas temem que a exigência afaste trabalhadores temporários

Varejistas temem demissões em massa
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — A variante ômicron da Covid-19 pode aparecer nos Estados Unidos em breve - se é que já não chegou - mas os varejistas do país ainda não estão interessados em fazer a única coisa que protegeria milhões de trabalhadores antes que ela apareça: vacinas obrigatórias.

É a temporada de compras natalinas, é claro. Os varejistas que dependem desse período para obter ganhos com o aumento das vendas temem que a exigência afaste grande parte dos 665.000 trabalhadores temporários, que precisam contratar para movimentar as mercadorias. Esses temporários complementariam cerca de 32 milhões de outros funcionários mais permanentes do varejo. Como a ciência e os dados já nos mostraram, trabalhadores não vacinados são mais vulneráveis do que os vacinados às mazelas causadas pela Covid . Por extensão, os clientes também ficam mais seguros sendo atendidos por trabalhadores vacinados.

Os varejistas entendem isso - mais ou menos.

“Todos concordamos com a premissa de que as vacinas são boas e salvam vidas”, disse Stephanie Martz, da alta gerência de um grande grupo comercial, a Federação Nacional de Varejo (NRF, na sigla em inglês), ao New York Times na semana passada. “Mas, da mesma forma, você não pode simplesmente dizer, ‘OK, faça assim’.”

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Por que não? Se quisessem, os varejistas certamente poderiam dizer: “Faça assim”. Se eles realmente acreditam que as vacinas salvam vidas, devem adotar todas as medidas disponíveis para garantir seu uso. A exigência da vacinação é uma demonstração clara desse compromisso. Os varejistas não querem fazer isso porque têm resultados financeiros para cuidar e temem a escassez de trabalhadores. Esse medo é compreensível, e os varejistas pediram ao governo Biden que os deixasse esperar até o final do inverno - após a corrida das compras de fim de ano - antes de adotar a nova norma de obrigatoriedade de testes e vacinas do Departamento de Trabalho para empresas com 100 ou mais funcionários.

Mas mesmo que o medo dos varejistas de que faltem trabalhadores seja compreensível, pode não ser racional. Algumas empresas que já instituíram a obrigatoriedade e a mantiveram não testemunharam demissões em massa. A United Airlines e a Tyson Foods são apenas alguns desses exemplos bem-sucedidos. Governadores e prefeitos em Nova York e Illinois tiveram resultados semelhantes depois de instituir a obrigatoriedade de vacina para seus funcionários. O maior dos grandes varejistas, o Walmart, disse que “a esmagadora maioria” dos trabalhadores que eles exigiram que se vacinassem, seguiram a orientação.

Por outro lado, o Walmart impôs exigências apenas aos funcionários corporativos. Os funcionários da linha de frente do Walmart estão recebendo incentivos para serem vacinados, mas não estão sujeitos à obrigatoriedade. Isso é um reflexo dos varejistas em cima do muro, que continuam tentando contornar as exigências e a crença de que a resistência de alguns dos trabalhadores da linha de frente às vacinas é intransponível. É também um reconhecimento de que a pandemia deu aos trabalhadores do varejo um bom motivo para questionar por que toleraram salários baixos, benefícios ruins e tratamento inadequado por tanto tempo - e explica por que eles estão deixando o setor em massa.

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Ainda assim, milhões de trabalhadores do varejo permaneceram, e empresas como Walmart, Target e Costco tentaram recompensá-los - e atrair novos trabalhadores - aumentando as horas de trabalho e melhorando os benefícios. Se os varejistas continuarem a tornar seus locais de trabalho mais atraentes para os trabalhadores de colarinho azul, eles provavelmente terão mais flexibilidade quando se trata de fazer outras coisas corretamente - como emitir ordens de vacinação.

No entanto, a NRF claramente não compartilha dessa visão. Os maiores membros do grupo comercial incluem Walmart, Target, Amazon, Kohl’s, Lowe’s, Home Depot, Nordstrom, Gap , BJ’s Wholesale Club e Macy’s, e no início deste mês, a federação processou o governo Biden para suspender a obrigatoriedade. O processo argumenta que esse tipo de medida federal causaria “danos irreparáveis” a uma indústria fustigada por dores de cabeça na cadeia de suprimentos e problemas trabalhistas (mas ainda, de alguma forma, desfrutando de um aumento considerável e lucrativo nos gastos do consumidor).

Pouco antes da NRF entrar com o processo, ela enviou uma carta ao Departamento do Trabalho lançando mão de sofismas para justificar sua oposição à exigência de vacinação. “Os trabalhadores enfrentam o perigo da Covid-19 onde quer que vão”, observou a carta, “porque são seres humanos que transitam pelo mundo, não porque vão trabalhar.” Em outras palavras, a Covid-19 está em todo lugar e o fardo não deveria recair sobre os varejistas para tornar os trabalhadores mais seguros.

Os varejistas que rejeitam as ordens estão jogando o um jogo perigoso e auto-destrutivo, como seus funcionários avessos à vacina e outros antivacina. Esperemos que a variante ômicron não os force a reconhecer a gravidade que esse jogo representa - e quão profundamente irresponsável e cínico é para alguns membros da América corporativa dizer que sabem que as vacinas salvam vidas enquanto tiram o corpo fora.

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Timothy L. O’Brien é colunista sênior da Bloomberg Opinion.

Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.

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