Bloomberg — A decisão da Organização Mundial do Comércio na semana passada de adiar uma importante reunião coloca em dúvida os esforços para reabilitar a aliança abalada por anos de negligência, guerras comerciais e pela pandemia de Covid-19.
A preocupação mais imediata era a capacidade da organização de Genebra de concluir um acordo global este ano para expandir o acesso às vacinas e, potencialmente, conseguir a renúncia às proteções de propriedade intelectual para medicamentos que salvam vidas.
Mais fundamentalmente, porém, o atraso prejudicará a iniciativa para reformar uma organização de 26 anos que não conseguiu evoluir em linha com as grandes mudanças da economia global nas últimas duas décadas e que perdeu a munição para fazer cumprir as regras de comércio internacional.
“Não é preciso ser um cientista espacial para descobrir que, se descobrirmos que não podemos cumprir essas questões de importância crítica, as pessoas buscarão outras opções”, disse o porta-voz da OMC, Keith Rockwell, em conversa com repórteres na semana passada.
“Pode ser em outro contexto, em outra organização, em outro conjunto de negociações, e isso seria muito prejudicial para nós. Então, todo mundo tem uma grande aposta.”
Estabelecer objetivos
O governo Biden pediu uma reforma holística da OMC e uma reestruturação do órgão de apelação da organização, que antes tinha a palavra final em disputas que envolviam bilhões de dólares no comércio global.
Mas a pressão dos EUA não se traduziu em ação, já que os 164 membros da OMC não conseguem chegar a um acordo sobre a melhor maneira de ajustar as funções essenciais da organização.
A nova diretora-geral da OMC, a ex-ministra das Finanças da Nigéria que também trabalhou no Banco Mundial, Ngozi Okonjo-Iweala, exortou as nações a iniciarem esse processo concluindo três acordos na agora adiada 12ª conferência ministerial da OMC, às vezes chamada de MC12:
- um pacto para reduzir subsídios à pesca prejudiciais;
- uma estrutura para expandir o comércio global de vacinas; e
- uma promessa de reduzir as políticas agrícolas que distorcem o comércio.
Ela argumenta que, sem uma revisão e disposição para avançar, governos e empresas podem finalmente concluir que a OMC não é um fórum confiável para enfrentar seus típicos desafios.
Credibilidade em jogo
Okonjo-Iweala expôs esses pontos claramente a delegados durante reunião a portas fechadas recentemente.
“’Business as usual’, que na OMC passou a significar pouco ou nenhum resultado, não é o que as pessoas estão procurando”, disse em comentários privados obtidos pela Bloomberg News. “E, se isso é o que entregamos na MC12 - podemos esperar que o resultado do trabalho pós-MC12 seja de menos ‘business’ para esta organização.”
A conferência da OMC teria proporcionado uma rara oportunidade para os governos mostrarem que podem causar um impacto oportuno e ajudar a melhorar a vida das pessoas comuns ao expandir o acesso global às vacinas, dizem especialistas.
Veja mais em bloomberg.com
Leia também
Nubank considera cortar faixa de preço em IPO: Fontes
Vale reduz ‘guidance’ de produção para dar suporte a preço do minério
©2021 Bloomberg L.P.