Covid: qual país foi mais resiliente ao vírus?

53 localidades foram monitoradas nos últimos 12 meses para a elaboração de um ranking de resiliência à pandemia

Por Bloomberg News
28 de Novembro, 2021 | 09:25 AM

Bloomberg — Há um ano, o Covid Resilience Ranking da Bloomberg tem monitorado os melhores e piores lugares para se estar durante a pandemia, combinando dados que vão desde o controle de surtos até o número de mortos, campanhas de vacinação até o progresso rumo à reabertura de fronteiras.

Os 12 meses desse Ranking deixaram algo bem claro: o desempenho passado não é garantia de sucesso (ou fracasso) no futuro. Os países foram afetados repetidamente e ficaram à mercê da maior crise de saúde dessa geração, mas alguns também encontraram maneiras de reverter situações devastadoras, seja por meio da ciência, da coesão social ou simplesmente aprendendo com o passado.

Desde o lançamento em novembro de 2020, os melhores e piores desempenhos do Ranking variaram a cada mês, dependendo das vacinas, do surgimento da variante delta e dos principais momentos de reabertura durante a pandemia.

Melhores e piores desempenhos no combate ao vírus

Inicialmente, os melhores desempenhos entre as 53 economias analisadas foram de países que implementaram estratégias de contenção rígidas, incluindo quarentenas e fechamento de fronteiras. Então, os lugares que conseguiram começar a vacinação mais rápido subiram no Ranking; aqueles que foram capazes de combinar altos níveis de vacinação com uma normalização da atividade social e econômica agora apresentam as pontuações mais altas.

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À medida que mais pontos de inflexão se aproximam – os lockdowns estão voltando em alguns lugares e o advento das pílulas Covid-19 poderia neutralizar o vírus a longo prazo – chegamos a um ano de monitoramento de resiliência ao Covid, focando nos países com desempenhos mais consistentes, que se saíram melhor ao retomar a normalidade, e no mais importante indicador: locais em que as mortes foram evitadas de maneira mais eficaz.

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Mais consistentes

O caráter volátil da pandemia fez com que nenhum dos melhores desempenhos ficassem no topo durante todo o ano. Nova Zelândia e Singapura, que já foram número um em isolar o vírus e manter um nível de normalidade pré-pandemia durante a maior parte de 2020, sofreram um revés quando a variante delta se infiltrou em suas fortalezas Covid Zero, gerando novos lockdowns e restrições. Os Estados Unidos, que ficou no topo da lista brevemente em junho, e Israel – o mais rápido na vacinação e no encerramento das medidas de restrição no início de 2021 – foram pegos de surpresa quando o vírus se espalhou novamente durante o verão do hemisfério norte, principalmente entre os não vacinados.

Os últimos lugares do Ranking também sofreram variação: países como México e Brasil ficaram no fim da lista até o início de 2021, quando o vírus atingiu suas populações, mas a América Latina evitou o pior da variante delta graças à vacinação e um alto nível de imunidade natural. Os países do Sudeste Asiático se tornaram os piores lugares para se estar na segunda metade do ano, pois a vacinação demorou na região, e novos surtos deixavam as economias (que dependem da exportação) cambaleando.

Os sete primeiros nunca ficaram na metade de baixo na lista

No entanto, diversos países provaram ser os mais consistentes. A maioria deles nunca chegou ao topo, mas também nunca ficaram abaixo da 26ª posição. Esses sete países – Noruega, Dinamarca, Finlândia, Emirados Árabes Unidos, Canadá, Coréia do Sul e Suíça – são os mais próximos de serem os melhores da temporada: seja vacinando, lutando contra a variante delta ou reabrindo a economia, eles sempre ficaram acima da média.

Fortes portos seguros em saúde e coesão social são denominadores comuns entre os sete – qualidades que os beneficiaram em todos os estágios da pandemia. A fé no governo e a vontade das pessoas de seguir as regras ajudaram a conter o vírus, ao passo que a riqueza relativa desses países significava que eles tinham o poder de compra para adquirir os primeiros suprimentos de vacinas.

Na outra ponta, nove países – Argentina, Irã, México, Brasil, Peru, Polônia, Nigéria, Paquistão e África do Sul – nunca ficaram na primeira metade do ranking no ano passado. Esses lugares foram os mais devastados pela pandemia, no que diz respeito às infecções, e muitos ainda lutam contra o acesso limitado às vacinas.

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Rumo à normalidade

Em junho, conforme as vacinas se alastravam pelas economias desenvolvidas e os governos começavam a encerrar as restrições, o Ranking passou a monitorar dois indicadores além dos outros 10 para refletir o progresso rumo à reabertura e à normalização: Rotas de Viagem para Vacinados e Capacidade de Voo.

As vacinas permitiram que muitos países retomassem aspectos da vida pré-pandemia, com taxas de mortalidade caindo amplamente em comparação com as curvas de infecção, e a Europa, América do Norte e algumas partes da Ásia-Pacífico agora tentam conviver com o vírus.

Os lugares que aceitaram o fato de que o Covid se tornou endêmico como a gripe não tendem a decretar lockdowns, e sua população não evita as atividades públicas. Durante o ano passado, o índice de Mobilidade da Comunidade – um indicador robusto do Ranking que rastreia os níveis de movimento para escritórios e espaços de varejo em comparação com uma linha de base pré-pandemia – permaneceu relativamente estável na Grécia, nos EUA, no Reino Unido e na Alemanha; todos os quatro não apresentaram quedas semanais de atividade de mais de 10% desde o final do ano passado.

Da mesma forma, sua capacidade de voo se recuperou de forma constante, e o rigor das restrições, principalmente nos EUA e no Reino Unido, está em um nível baixo.

Países com maior e menor número de semanas seguidas com queda nos números

Embora todos esses lugares continuem apresentando ondas de infecção e alguns, como os EUA, ainda apresentam um número significativo de fatalidades; os dados mostram que nesses países as pessoas não estão mais dispostas a suportar a interrupção de suas vidas normais e perderam amplamente o medo de o vírus. Para essas economias, a pandemia está ficando para trás – embora o inverno seja um teste para essa afirmação.

No outro extremo do espectro, os níveis de mobilidade em lugares como Paquistão, Coreia do Sul, Japão, Chile e Israel caíram 10% ou mais nos últimos quatro meses, à medida que o ressurgimento do vírus gerou restrições de mobilidade. A Nova Zelândia teve seis quedas em atividades sociais nos últimos 12 meses, refletindo um ciclo intermitente de restrições que está cobrando um preço cada vez mais alto.

Embora lockdowns contínuos tenham sido associados à abordagem “Covid Zero”, que visa eliminar a propagação do vírus, a China Continental e Hong Kong – os únicos lugares no mundo que ainda aderem à estratégia – não viram os níveis de atividade doméstica cair mais de 10% desde o início de 2021. A medida não abrange as viagens internacionais, que foram rigorosamente proibidas em ambas as regiões, e, no caso da China, reflete sua ampla escala: os lockdowns em algumas partes do país para eliminar surtos de delta apenas ocasionalmente chegam ao ponto onde a atividade nacional é afetada.

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Evitando óbitos

O legado duradouro do Covid-19 são os mais de 5 milhões de vidas perdidas ao longo da pandemia, número amplamente considerado subnotificado. O evento ocorreu de forma desigual pelo mundo e esteve, em grande parte, relacionado à eficácia das estratégias de contenção no primeiro ano da pandemia – antes que as vacinas ficassem disponíveis.

A limitação do número de fatalidades foi a notável história de sucesso da abordagem Covid Zero, embora o outro lado seja a reabertura muito mais lenta, principalmente no que diz respeito a viagens. Em uma base per capita, a China tem a menor mortalidade por Covid entre os 53 lugares da lista, com apenas três mortes por milhão de pessoas. A Nova Zelândia, cujas fronteiras ainda estão fechadas (embora a reabertura seja iminente), está em segundo lugar, com apenas oito óbitos por milhão. Outros lugares que combateram e eliminaram o Covid com sucesso no primeiro ano, como Taiwan, Coreia do Sul e Austrália, tiveram menos de 100 mortes para cada milhão de pessoas.

Ao fim da lista, o Peru tem a pior taxa de óbitos – 6.093 mortes de Covid por milhão. Os EUA – que foram especialmente malsucedidos na contenção – e as nações europeias apresentaram cerca de 2 mil óbitos por milhão.

Número de óbitos por milhão

O inverno do hemisfério norte pode alterar novamente o Ranking à medida que os países enfrentam a primeira estação fria com vacinas e com a variante delta mais transmissível. Países europeus como Áustria, Alemanha, Holanda e Dinamarca já estão passando por novas ondas, e alguns impuseram novos lockdowns para desacelerar a disseminação do vírus. Veremos como isso afetou o desempenho da região no Ranking na edição de novembro – divulgada na próxima semana.

No momento, muitos países desenvolvidos estão correndo para aplicar as doses de reforço das vacinas e para inocular crianças, o último grande grupo a ser vacinado. Essas ações serão suficientes para sustentar a lenta recuperação da pandemia? Ou teremos um retorno às restrições forçado pelas novas ondas – e as apocalípticas variantes mais virulentas?

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