São Paulo — Após a remoção da escultura Touro de Ouro da calçada da sede da B3, no centro histórico de São Paulo, realizada na noite de ontem, o foco das autoridades do urbanismo da Prefeitura da capital se volta agora para o megaprojeto Cidade Matarazzo, um novo complexo de luxo e boulevard na região da Avenida Paulista, que inclui um hotel seis estrelas da rede Rosewood, e futura atração turística da maior metrópole do país.
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Na próxima quarta-feira (1º), a CPPU (Comissão de Proteção da Paisagem Urbana) vai analisar o projeto, em uma reunião marcada para 14h. Já na sexta-feira (3), haverá uma audiência pública para discutir o empreendimento de R$ 3 bilhões, previsto para ser totalmente finalizado somente em 2023. Devido à polêmica da obra em frente ao prédio da Bolsa, a CPPU adiou a análise do Cidade Matarazzo de ontem para a próxima semana.
No último dia 1º, o governador João Doria (PSDB) participou do anúncio da entrega da primeira fase do Cidade Matarazzo, projeto apresentado como uma união de preservação ambiental, lazer e cultura na avenida Paulista. Idealizado pelo empresário francês, Alexandre Allard, o empreendimento está em construção em um terreno de 30 mil m², onde funcionava o antigo Hospital Matarazzo, no quadrilátero formado pela Paulista, Alameda Rio Claro e ruas São Carlos do Pinhal e Itapeva, próximo da sedes do Masp (Museu de Arte de São Paulo) e da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
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Segundo o governo paulista, no local funcionará um Eco-hotel, com oferta de gastronomia baseada em práticas agrícolas sustentáveis. “O empreendimento também abrigará um campus cultural e um pólo de inovação que deve reunir 1.200 ONGs, fundos filantrópicos, empreendedores verdes, cientistas, grandes empresas, governo e outras instituições envolvidas na valorização dos recursos naturais”, descreve o material do governo.
No espaço, segundo a administração estadual, serão plantadas cerca de 10 mil árvores nativas prometendo devolver o verde à região e auxiliar na permeabilização do solo. O projeto é desenvolvido por especialistas como o arquiteto francês Jean Nouvel – ganhador em 2008 do Prêmio Pritzker, o engenheiro Rudy Ricciotti, Stefano Mancuso, Brando Crespi, fundador do Pro Natura International, engajado no combate global às mudanças climáticas.
O megaprojeto precisa ainda ser submetido à análise da CPPU, que é um órgão colegiado integrante do Sistema de Planejamento e Gestão Democrática do município. É composto por oito membros do poder público e outros oito representantes da sociedade civil. Entre suas atribuições, estão proteger a Lei Cidade Limpa (nº 14.223/2006), elaborar, propor e apreciar normas e regras sobre a paisagem urbana, além de emitir paarecer e deliberar sobre casos de aplicação da legislação específica sobre anúncios, mobiliário urbano, infraestrutura e inserção e remoção de elementos na paisagem urbana.
Touro
A polêmica sobre o Touro de Ouro aumentou a visibilidade dessa comissão, ligada à Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento. Ontem, durante o julgamento que resultou na ordem de remoção imediata da escultura, integrantes do CPPU comentaram sobre o assédio da imprensa sobre a controvérsia urbanística. A obra do artista plástico Rafael Brancatelli foi considerada publicitária e, como não tinha aval da comissão para permanência na calçada, teve de retirada da rua XV de Novembro.
O Diário Oficial do município deve divulgar, amanhã (25), a decisão, segundo a Secretaria. O próximo passo é a definição do valor da multa a ser paga pela B3, algo que só pode ser feito após a publicação oficial da decisão do CPPU. Caberá à Subprefeitura da Sé, responsável pela área onde fica a B3, calcular o valor. O projeto do Touro de Ouro custou R$ 350 mil. O local já era visto como um novo ponto turístico da cidade, em um região marcada pela presença de pessoas em situação de rua e fechamento do comércio devido à crise sanitária da Covid-19.
A estátua do Touro, acusada de plágio devido às semelhantes com o Charging Bull, de Wall Street, em Nova York, foi considerada uma peça publicitária, pois sua placa indicava o nome da empresa do influenciador Pablo Spyer, ligado à XP. Construído sobre uma estrutura modular de fibra de vidro, com pintura automotiva dourada, o Touro de Ouro dividiu opiniões, ontem, durante o julgamento na CPPU. Enquanto alguns comerciantes da região argumentavam sobre os benefícios da obra para a maior movimentação no centro, professores universitários, arquitetos e urbanistas criticaram a ocupação irregular do espaço urbano e a necessidade de ordenamento e respeito à lei vigente.
Ontem, o artista plástico chegou a propor uma mudança do projeto artístico do Touro, como a alteração da placa, além de obtenção das devidas licenças após a reapresentação dos documentos. Ou seja, ele indicou que pretende adequar a escultura e tentar voltar para a calçada da B3, apesar dos sucessivos ataques sofridos pela obra, como pichação e colagem de cartazes com a inscrição “fome”.
Nas redes sociais, o Touro de Ouro provocou reações extremas, como críticas à sua simbologia de prosperidade em meio a uma região degradada e à situação de insegurança alimentar no país e defesa da obra pelo seu estímulo ao turismo e à revitalização do centro histórico.
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