Após Touro da B3, novo boulevard da Paulista entra na mira da Prefeitura

Megaprojeto Cidade Matarazzo, complexo com proposta de sustentabilidade, será analisado por comissão que baniu escultura

No próximo dia 15 de dezembro, está prevista a abertura do Rosewood São Paulo, na área da antiga Maternidade Matarazzo, que compõe o complexo de luxo em construção na região da Paulista
24 de Novembro, 2021 | 11:52 AM

São Paulo — Após a remoção da escultura Touro de Ouro da calçada da sede da B3, no centro histórico de São Paulo, realizada na noite de ontem, o foco das autoridades do urbanismo da Prefeitura da capital se volta agora para o megaprojeto Cidade Matarazzo, um novo complexo de luxo e boulevard na região da Avenida Paulista, que inclui um hotel seis estrelas da rede Rosewood, e futura atração turística da maior metrópole do país.

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Na próxima quarta-feira (1º), a CPPU (Comissão de Proteção da Paisagem Urbana) vai analisar o projeto, em uma reunião marcada para 14h. Já na sexta-feira (3), haverá uma audiência pública para discutir o empreendimento de R$ 3 bilhões, previsto para ser totalmente finalizado somente em 2023. Devido à polêmica da obra em frente ao prédio da Bolsa, a CPPU adiou a análise do Cidade Matarazzo de ontem para a próxima semana.

No último dia 1º, o governador João Doria (PSDB) participou do anúncio da entrega da primeira fase do Cidade Matarazzo, projeto apresentado como uma união de preservação ambiental, lazer e cultura na avenida Paulista. Idealizado pelo empresário francês, Alexandre Allard, o empreendimento está em construção em um terreno de 30 mil m², onde funcionava o antigo Hospital Matarazzo, no quadrilátero formado pela Paulista, Alameda Rio Claro e ruas São Carlos do Pinhal e Itapeva, próximo da sedes do Masp (Museu de Arte de São Paulo) e da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

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Segundo o governo paulista, no local funcionará um Eco-hotel, com oferta de gastronomia baseada em práticas agrícolas sustentáveis. “O empreendimento também abrigará um campus cultural e um pólo de inovação que deve reunir 1.200 ONGs, fundos filantrópicos, empreendedores verdes, cientistas, grandes empresas, governo e outras instituições envolvidas na valorização dos recursos naturais”, descreve o material do governo.

No espaço, segundo a administração estadual, serão plantadas cerca de 10 mil árvores nativas prometendo devolver o verde à região e auxiliar na permeabilização do solo. O projeto é desenvolvido por especialistas como o arquiteto francês Jean Nouvel – ganhador em 2008 do Prêmio Pritzker, o engenheiro Rudy Ricciotti, Stefano Mancuso, Brando Crespi, fundador do Pro Natura International, engajado no combate global às mudanças climáticas.

O megaprojeto precisa ainda ser submetido à análise da CPPU, que é um órgão colegiado integrante do Sistema de Planejamento e Gestão Democrática do município. É composto por oito membros do poder público e outros oito representantes da sociedade civil. Entre suas atribuições, estão proteger a Lei Cidade Limpa (nº 14.223/2006), elaborar, propor e apreciar normas e regras sobre a paisagem urbana, além de emitir paarecer e deliberar sobre casos de aplicação da legislação específica sobre anúncios, mobiliário urbano, infraestrutura e inserção e remoção de elementos na paisagem urbana.

Touro

A polêmica sobre o Touro de Ouro aumentou a visibilidade dessa comissão, ligada à Secretaria Municipal de Urbanismo e Licenciamento. Ontem, durante o julgamento que resultou na ordem de remoção imediata da escultura, integrantes do CPPU comentaram sobre o assédio da imprensa sobre a controvérsia urbanística. A obra do artista plástico Rafael Brancatelli foi considerada publicitária e, como não tinha aval da comissão para permanência na calçada, teve de retirada da rua XV de Novembro.

Remoção do Touro de Ouro da calçada da B3, no final da noite de ontem, na rua XV de Novembro, no centro histórico da capital paulista

O Diário Oficial do município deve divulgar, amanhã (25), a decisão, segundo a Secretaria. O próximo passo é a definição do valor da multa a ser paga pela B3, algo que só pode ser feito após a publicação oficial da decisão do CPPU. Caberá à Subprefeitura da Sé, responsável pela área onde fica a B3, calcular o valor. O projeto do Touro de Ouro custou R$ 350 mil. O local já era visto como um novo ponto turístico da cidade, em um região marcada pela presença de pessoas em situação de rua e fechamento do comércio devido à crise sanitária da Covid-19.

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A estátua do Touro, acusada de plágio devido às semelhantes com o Charging Bull, de Wall Street, em Nova York, foi considerada uma peça publicitária, pois sua placa indicava o nome da empresa do influenciador Pablo Spyer, ligado à XP. Construído sobre uma estrutura modular de fibra de vidro, com pintura automotiva dourada, o Touro de Ouro dividiu opiniões, ontem, durante o julgamento na CPPU. Enquanto alguns comerciantes da região argumentavam sobre os benefícios da obra para a maior movimentação no centro, professores universitários, arquitetos e urbanistas criticaram a ocupação irregular do espaço urbano e a necessidade de ordenamento e respeito à lei vigente.

Ontem, o artista plástico chegou a propor uma mudança do projeto artístico do Touro, como a alteração da placa, além de obtenção das devidas licenças após a reapresentação dos documentos. Ou seja, ele indicou que pretende adequar a escultura e tentar voltar para a calçada da B3, apesar dos sucessivos ataques sofridos pela obra, como pichação e colagem de cartazes com a inscrição “fome”.

Nas redes sociais, o Touro de Ouro provocou reações extremas, como críticas à sua simbologia de prosperidade em meio a uma região degradada e à situação de insegurança alimentar no país e defesa da obra pelo seu estímulo ao turismo e à revitalização do centro histórico.

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.