UE: Barões de aquisições ameaçam planos de empresas de telefonia

Reguladora de concorrência da União Europeia pode estar disposta a permitir fusões no bloco, o que permitiria que as operadoras se incorporassem entre si

Do outro lado do Atlântico, o setor de telecomunicações é controlado por poucas empresas
Por Thomas Seal
23 de Novembro, 2021 | 07:15 PM

Bloomberg — As maiores empresas de telecomunicações da Europa estão finalmente deixando de lado sua hesitação em fazer negócios. Mas pode ser tarde demais para derrotar os chefões de private equity.

A KKR propôs uma compra de 10,8 bilhões de euros (US$ 12,2 bilhões) da Telecom Itália no que seria uma das maiores aquisições de uma operadora telefônica por uma empresa de private equity de todos os tempos. A transação ofuscaria a aquisição da T-Mobile Netherlands pela Warburg Pincus e pela Apax Partners em setembro ou a aquisição da espanhola Masmovil em 2020.

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As operadoras temem embarcar em transações entre si desde 2016, quando a CK Hutchison Holdings foi impedida pelos órgãos reguladores de comprar a divisão britânica da Telefônica.

No entanto, as empresas de private equity invadiram o setor, levadas pelas baixas taxas de juros e atraídas pelos retornos estáveis e de longo prazo da infraestrutura digital. E nenhum alvo parece inatingível. A EQT e a KKR testaram as defesas da KPN, da Holanda, e ocasionalmente surge uma especulação sobre alvos ainda maiores, como a Vodafone.

Em Bruxelas, o clima para as operadoras telefônicas pode ter finalmente mudado. Segundo Tim Hoettges, CEO da Deutsche Telekom, a Comissária Europeia para a Concorrência, Margrethe Vestager, pode estar disposta a permitir que as operadoras se combinem dentro dos estados-nação.

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Falando aos investidores na Morgan Stanley TMT Conference na quinta-feira (18), Hoettges comentou sobre uma reunião que teve com a Vestager recentemente. Ele declarou que queria persuadi-la dos méritos da consolidação e mencionou a fusão de 2018 da unidade holandesa da Telekom com a da Tele2 como um exemplo de transação que beneficiou investidores e consumidores. A operação reduziu o número de operadoras telefônicas do país de quatro para três.

“Em resposta, ela disse que apoiava o acordo e que estava lá” como comissária para a concorrência, disse.

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“Considerei isso uma espécie de convite de que não devemos esperar mudanças na lei de defesa da concorrência”, afirmou Hoettges no evento da semana passada. “Há um sentimento de que os líderes políticos querem que arrisquemos e tomemos a atitude”.

A Comissão Europeia não quis comentar.

Repensando fusões

As operadoras europeias há muito elogiam os benefícios das fusões, que as permitem compartilhar o custo das melhorias na rede e aumentar as margens. Elas invejam os Estados Unidos e a China, que são dominados por três grandes empresas cada.

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As dos EUA são mais lucrativas que as da Europa

Os preços das ações caíram tão drasticamente que incentivaram os bilionários Patrick Drahi e Xavier Niel a tirar suas próprias operações do mercado. Esse pessimismo do mercado de ações, juntamente com a fusão holandesa e uma decisão judicial no ano passado que poderia facilitar os negócios, gerou uma reflexão.

Algumas das maiores operadoras da Europa – Vodafone, Orange e Telefônica – disseram recentemente que estão em busca de negócios. Na terça-feira (23), a Orange anunciou que começou a negociar a compra da Voo, unidade da Nethys.

Não vai ser tão fácil apenas comprar participação de mercado ou comprar novas marcas para serviços antigos, porque o private equity garantirá o pagamento do preço total”, disse Chris Watson, chefe de tecnologia, mídia e comunicações do escritório de advocacia CMS. Ele aconselhou a firma de private equity Cinven Group em uma oferta pelo controle da Telekom Slovenije.

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Patamar está próximo de uma década atrás

Em vez de se fundir nos últimos anos, as operadoras criaram infraestrutura, como torres e redes de fibra óptica, e começaram a compartilhá-las.

Mesmo que os supervisores do bloco tenham mudado sua visão, as autoridades podem relutar em conceder aos forasteiros corporativos muito poder sobre sua infraestrutura nacional essencial. A defesa pode frequentemente ser exercida por meio de participações nacionais ou vetos em empresas de banda larga. A França e o banco estatal BPIFrance detêm quase um quarto da Orange, por exemplo, ao passo que o governo holandês pode intervir nas tentativas de aquisição da KPN.

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