“Eu não sei quanto tem, mas a Receita sabe”, diz Guedes sobre offshore

O ministro diz que não toma decisões desde que confiou investimentos a um blind trust, antes de entrar no governo. Oposição vê conflito de interesses

Paulo Guedes em audiência na Câmara dos Deputados
23 de Novembro, 2021 | 01:43 PM

Bloomberg Línea — Em audiência na Câmara dos Deputados, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse não saber quanto dinheiro tem na offshore sediada nas Ilhas Virgens Britânicas, revelada em outubro no vazamento da base de dados que ficou conhecida como Pandora Papers. O ministro disse que os recursos estão confiados a um blind trust – uma estrutura jurídica independente que tomas as decisões de investimentos – e que ele não tem ingerência sobre a destinação do dinheiro.

“Os rendimentos, o valor que estaria no fundo, no blind trust, o senhor pode acreditar ou não, mas eu não sei o quanto tem porque é um blind trust, está lá e eu não estou perguntando. Não é o meu foco hoje. Eu sabia o quanto tinha quando eu cheguei e eu fui trabalhar, mas não estou perguntando quanto é, quanto não é”, afirmou o ministro, na audiência na Comissão de Trabalho, de Administração e Serviço Público, nesta terça-feira (23).

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“Tem um blind trust cuidando disso, porque aqui as minhas mãos poderiam alcançar, coisa que eu decidir explodir. Eu não sei, eu não sei. Mas a Receita Federal sabe, ela é informada todos os anos. Está tudo entregue para o Comitê de Ética Pública, para a Receita Federal, para o Banco Central, todos os anos as informações são atualizadas”, afirmou.

A revelação da offshore do ministro foi feita pela revista Piauí, em 3 de outubro. é o controlador de uma empresa offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, um paraíso fiscal no Caribe.

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A abertura da Dreadnoughts International ocorreu em 2014, cinco anos antes de Guedes assumir o ministério. A conta da empresa em agência do banco Crédit Suisse, em Nova York, recebeu US$ 9,55 milhões (R$ 51 milhões hoje). Na época dos aportes mencionados pela revista, Paulo Guedes era sócio da corretora Bozano Investimentos no Rio.

Hoje, o ministro afirmou que não houve novos aportes na offshore.

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A abertura de uma offshore ou de contas no exterior é legal se os valores mantidos fora do país estiverem declarados à Receita Federal. No caso de agentes públicos, como o ministro, as declarações de imposto de renda também devem ser entregues à Comissão de Ética Pública da Presidência da República.

Um dos focos dos deputados de oposição ao questioná-lo hoje foi o do possível conflito de interesses porque decisões tanto do Ministério da Fazenda, do qual ele é titular, quanto do Conselho Monetário Nacional, do qual ele é membro, influenciam o desempenho dos investimentos pessoais do ministro.

“Mil vezes, não”, negou Guedes sobre o potencial conflito de interesses.

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Guedes disse que a proposta de reforma do Imposto de Renda que a equipe econômica enviou ao Congresso previa a tributação dos mais ricos, incluindo investimentos no exterior, mas que esse ponto foi alterado pela própria Câmara dos Deputados. A reforma ainda está pendente de votação no Senado.

O ministro criticou o deputado Kim Kataguiri (DEM-SP), chamando-o de “Kataguri”. O ministro afirmou que, em 2018, quando era candidato a deputado, o líder do MBL (Movimento Brasil Livre) procurou-o para convencê-lo a deixar a campanha do candidato Jair Bolsonaro, recebendo uma negativa.

“As operações estão informadas às instâncias pertinentes. O deputado Kim Kataguri [sic] não é uma instância pertinente. Eu não vou perguntar a ele quanto ele tem, não vou perguntar a ele se, quando ele esteve no meu escritório lá na eleição de 2018 e ele ia ser ajudado por um candidato a presidente da República, ele queria me convencer a sair da candidatura do Bolsonaro”, disse Guedes.

“[Desde então, Kataguiri] passou a ser um perseguidor implacável. Não vou perguntar o que ele tem, o que ele não tem, se esse empresário pagou a viagem de jato para irem me visitar lá”, disse.

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.