China libera carne do Brasil, mas exportações seguem suspensas

Produto com certificado embarcado por frigoríficos após 4 de setembro teve autorização para entrar no país, mas chineses ainda mantiveram suspensas as importações de carne brasileira

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Bloomberg Línea — A Administração Geral de Alfândegas da China (GACC) comunicou à embaixada do Brasil em Pequim que aceitará a carne bovina exportada pelos frigoríficos nacionais após o embargo imposto em 4 de setembro, em decorrência da confirmação de dois casos atípicos de ‘vaca louca’, desde que os lotes tenham o certificado sanitário internacional emitido até 3 de setembro deste ano. A decisão do governo chinês coloca fim ao impasse criado em setembro, quando, mesmo sob embargo, os frigoríficos nacionais embarcaram pouco mais de 187 mil toneladas de carne, o maior volume mensal da história.

À época, as próprias indústrias nacionais reconheceram que, até agora, não sabiam qual seria o destino de uma quantidade tão grande de carne. Os navios carregados com o produto brasileiro começaram a chegar aos portos chineses entre o fim de outubro e o início de novembro e corriam o risco de serem devolvidos, desviados para outros destinos ou, no limite, destruídos. Com a decisão anunciada hoje, a carne brasileira volta a acessar o mercado interno da China.

Contudo, a liberação é vista como paliativa. As exportações de carne brasileira para a China seguem embargadas e as indústrias nacionais permanecem proibidas de vender ao seu maior cliente no mercado internacional. Até setembro, o mercado chinês era o destino de mais da metade de toda a carne exportada pelo Brasil. No mês passado, a conta chegou e os exportadores tiveram, naquele mês, o pior desempenho desde 2018. Sem poder vender ao país asiático, os embarques de carne bovina tiveram em outubro o pior desempenho mensal desde junho de 2018, com o embarque de 85,9 mil toneladas.

Em vídeo postado em sua conta no Twitter, a ministra da Agricultura comemorou a notícia e lembrou que o governo segue em negociação com Pequim para que o comércio entre os dois países seja retomado. “A GACC comunicou nossa embaixada em Pequim a autorização para a entrada dos contêineres de carne brasileira com o certificado sanitário internacional emitido até dia 3 de setembro de 2021. Continuamos as negociações para a retomada das exportações da carne brasileira para aquele país”, disse a ministra.

No início de setembro, logo após a confirmação dos casos e a suspensão dos embarques, a ministra Tereza Cristina procurou o governo de Pequim para pedir uma reunião e tentar evitar que o problema se prolongasse por muito tempo. Fontes da China informaram que a Administração Geral da Alfândegas da China (GACC), órgão responsável pelo assunto, não foi autorizado a atender a ministra brasileira.

Não satisfeita com a porta fechada na primeira tentativa, a ministra buscou ainda em setembro abordar o ministro da Agricultura da China, Tang Renjian, durante o encontro ministerial do G-20, realizado na Itália. Apesar do pedido antecipado para uma agenda paralela ao evento, não obteve sucesso mais uma vez.

Já em outubro, a ministra enviou uma carta oficial a Pequim, se colocando à disposição para ir pessoalmente ao país para tentar encontrar uma solução para o caso, mas não teve resposta. Dias depois, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, e o de Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, conversaram sobre o assunto, mas nada de muito concreto foi efetivado.

As áreas técnicas dos dois países têm mantido conversas para aparar eventuais arestas e tentar acelerar a retomada. Uma fonte da China informou à Bloomberg Línea que Pequim gostaria de ter uma sinalização de instâncias superiores do Executivo brasileiro. Na prática, uma manifestação do presidente Jair Bolsonaro. Contudo, até o momento, o Palácio do Planalto ainda não fez qualquer tipo de movimento no sentido de oferecer um afago aos chineses.