Bloomberg — Quando a pandemia interrompeu tudo, também empurrou os pais para dentro de casa como nunca antes. Foi um momento que parecia trazer algum alívio para as mães que trabalham. Os pais tinham flexibilidade - e desejo - para assumir mais responsabilidades.
Em 2020, enquanto Lindsey Jackson e seu marido Clarence estavam trabalhando em casa, eles dividiam as tarefas domésticas e os cuidados de seu filho de dois anos quase igualmente. Mas agora que Clarence, um consultor financeiro do JPMorgan Chase & Co., está voltando ao escritório e Lindsey não, ela está assumindo mais responsabilidades. Está tão ocupada que tem que cozinhar e dar banho no filho ao mesmo tempo.
A pandemia piorou algumas desigualdades de gênero nos lares americanos. Em 2020, as mulheres dedicaram 2,9 horas a mais por dia do que os homens aos cuidados infantis, em comparação com 2,55 horas em 2019, mostram dados da Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos Estados Unidos compilados pela Bloomberg.
“Estamos voltando às normas tradicionais de gênero”, disse Misty Heggeness, principal economista do Escritório do Censo dos EUA. “São as mulheres, principalmente as mães, que ainda suportam o trabalho pesado de forma desproporcional.”
A crise do cuidado infantil gerou desigualdade de gênero no mercado de trabalho por décadas, mas a pandemia levou as coisas a outro nível, custando às mulheres globalmente pelo menos US$ 800 bilhões em perda de renda em 2020, segundo a Oxfam.
Nos Estados Unidos, cerca de 20% dos 7,1 milhões de mulheres de 25 a 54 anos que deixaram a força de trabalho durante o início da Covid não voltaram a trabalhar. Enquanto isso, setores que empregam um grande número de mulheres -- educação, saúde e alimentação -- estão vendo escassez de mão de obra.
Pesquisadores que estudam o papel dos pais durante a pandemia afirmam que homens têm muito mais probabilidade de temer que suas carreiras sejam duramente afetadas caso dediquem mais tempo aos deveres domésticos. Eles se sentiram mais pressionados para fazer o que pudessem, em vez de serem francos sobre suas necessidades com os empregadores.
Muitos locais de trabalho estão reforçando essas ideias ao oferecer mais licença maternidade ou dar-lhes mais espaço para negociar horários flexíveis.
As mulheres que, por muitas vezes, trabalham em funções com salários mais baixos, também têm maior probabilidade de deixar seus empregos para cuidar dos filhos quando não há outra opção acessível.
Desde março deste ano, as mães ficaram desproporcionalmente fora da força de trabalho, segundo pesquisa publicada pelo Federal Reserve Bank de Minneapolis.
As mães que conseguiram permanecer empregadas não se sentem tão prontas para voltar aos escritórios. Quase 40% dos pais que trabalham estão de volta ao presencial, em comparação com 30% das mães, mostra pesquisa realizada pelo CensusWide em nome do LinkedIn.
Alguns pais, porém, estão reagindo. Dezenove por cento dos pais procuraram um novo emprego onde pudessem trabalhar remotamente, e 10% desistiram ou consideraram pedir demissão, diz a pesquisa da CensusWide.
Veja mais em bloomberg.com
Leia também
Gosta de trabalho híbrido? Ele pode ampliar desigualdade de gênero
Nova firma nos EUA quer negros na chefia de empresas financeiras