O que a Nasa pode fazer para deter milhares de asteroides assassinos?

Após anos de estudo e discussão, a Nasa está pronta para lançar seu primeiro esforço para poupar a Terra do tipo de calamidade que extinguiu os dinossauros

Nave será lançada amanhã (23), a bordo de um foguete SpaceX, da Califórnia, e viajará por 10 meses em direção a um sistema binário de asteroides
Por Justin Bachman
22 de Novembro, 2021 | 12:10 PM

Bloomberg — O incidente na Rússia foi um aviso.

Em uma manhã de inverno em 2013, um meteoro do tamanho de um prédio de quatro andares atravessou o país zunindo, até explodir perto da cidade de Chelyabinsk e ferindo mais de 1.600 pessoas em meio a danos generalizados a propriedades.

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O pedaço de rocha e ferro, que tinha 18 metros de diâmetro, serviu como um lembrete violento de que a Terra, bombardeada diariamente com toneladas de destroços espaciais, cruza periodicamente com grandes assassinos de planetas - e uma parte significativa deles permanece não documentada.

Após anos de estudo e discussão, a Nasa está pronta para lançar seu primeiro esforço para poupar a Terra do tipo de calamidade que extinguiu os dinossauros, lançando uma sonda espacial para atingir um asteroide e alterar sua velocidade e curso. O Double Asteroid Redirection Test (DART) será lançado amanhã (23), a bordo de um foguete SpaceX, da Califórnia, e viajará por 10 meses em direção a um sistema binário de asteroides.

A ideia é que se os humanos tiverem tempo adequado para reagir - décadas de antecedência seria o ideal - energia suficiente pode ser transferida para uma rocha em alta velocidade para alterar sua trajetória e fazer com que ela desvie da Terra, evitando uma catástrofe que poderia chegar ao nível da extinção do planeta. (Embora seja um assunto popular na ficção científica, é importante notar que o conjunto de ferramentas atual da Nasa que inclui técnicas para “empurrar” asteroides para longe da Terra não inclui Morgan Freeman, Bruce Willis ou armas nucleares.)

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Dada a natureza crítica do trabalho, “não é exagero sugerir que o DART pode ser uma das missões mais importantes já empreendidas pela Nasa”, escreveu Casey Dreier, analista da The Planetary Society, no memorando de novembro aos membros da sociedade.

“Este teste é para demonstrar que esta tecnologia está madura o suficiente para estar pronta se uma ameaça real de impacto de asteroide for detectada”, disse Lindley Johnson, oficial de defesa planetária da Nasa, em uma entrevista coletiva em 4 de novembro.

Em setembro do próximo ano - se tudo correr como planejado - a nave DART terá como alvo o Dimorphos, um corpo rochoso de 160 metros gravitacionalmente atrelado ao Didymos, que tem pouco mais de 800 metros de diâmetro. As duas rochas viajam a cerca de 1 quilômetro uma da outra, e Dimorphos orbita em torno de seu irmão maior a cada 11 horas e 55 minutos, “exatamente como um relógio”, disse Johnson.

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Viajando a cerca de 24 mil km/h, a nave, que pesa 600 kg e tem 17 metros de diâmetro, deve colidir de frente com Dimorphos para reduzir a velocidade da rocha em uma fração de segundo e ajustar seu período orbital em torno do asteroide maior em vários minutos.

“É tudo uma questão de medir a transferência de impulso: quanto impulso é gerado no asteroide ao atingi-lo com a espaçonave?” explicou Andy Cheng, investigador principal da missão no Laboratório de Física Aplicada da Universidade Johns Hopkins, que construiu e gerencia a espaçonave.

Didymos foi descoberto há 25 anos e foi bem analisado (no que diz respeito a asteroides e cometas). Não está previsto que seu curso encontre a Terra no futuro, mas sua trajetória relativamente próxima oferece aos cientistas uma boa plataforma de teste para observar com telescópios a cerca de 11 milhões de quilômetros de distância.

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O DART usará a segmentação a laser e outras tecnologias de alta resolução para escolher de forma autônoma seu ponto de impacto. Enquanto se move em direção à rocha, a câmera da nave enviará imagens de volta à Terra. Um pequeno cubo-satélite liberado da nave principal antes do impacto também registrará imagens de uma distância segura. Uma grande incógnita: a composição e topografia da superfície do corpo menor, que são muito pequenas para serem averiguadas da Terra.

Por mais de 15 anos, a Nasa tem recebido ordens do Congresso para catalogar objetos próximos à Terra (NEOs, na sigla em inglês) maiores que 140 metros, que é o tamanho de asteoride que pode causar enorme devastação, no caso de atingir a Terra. “Embora nenhum asteroide conhecido com mais de 140 metros tenha uma chance significativa de atingir a Terra nos próximos 100 anos, menos da metade dos estimados 25.000 NEOs com 140 metros e/ou maiores foram encontrados até hoje”, segundo o Escritório de Coordenação de Defesa Planetária da Nasa.

O incidente de Chelyabinsk, em 2013, fez com que Washington passasse a olhar para a questão, aumentando o financiamento para defesa planetária em mais de 4.000%, para US$ 200 milhões anuais na última década, com amplo apoio dos governos Obama e Trump, disse Dreier.

Os desafios para detectar esses possíveis assassinos de planetas são apavorantes, no entanto. Telescópios baseados na Terra são limitados em alcance, objetos que se aproximam da direção do sol não podem ser vistos, muitos asteroides refletem quase zero luz e todos viajam absurdamente rápido - 70 mil km/h ou 19 quilômetros por segundo, em média.

Além disso, nem todos são locais. Em 2017, os astrônomos avistaram o primeiro grande visitante de fora do sistema solar, uma esquisitice em forma de charuto medindo 400 metros, chamada Oumuamua, que girou em torno do sol a 315.000 km/h em seu caminho de volta para o espaço interestelar.

A Nasa planeja realizar testes adicionais de suas técnicas de alteração de trajetória assim que tiver dados sobre a colisão do DART em Dimorphos, supondo que a missão seja bem-sucedida.

Um “trator de gravidade” é outra ideia que tem sido considerada, e o conceito por trás é o de anexar uma espaçonave a um asteroide para aumentar sua massa e lentamente mudar sua órbita.

Ainda assim, a observação é essencial para evitar que tenhamos o mesmo destino dos dinossauros. A Nasa e outros cientistas estão trabalhando para tentar reparar a perda do Observatório de Arecibo, em Porto Rico, no ano passado, que desempenhou um papel fundamental nas avaliações de radar de objetos próximos à Terra, ajudando os pesquisadores a determinar o tamanho e as órbitas deles. Diz Johnson, o defensor da Terra na Nasa: “A chave para a defesa planetária é encontrá-los bem antes que se tornem uma ameaça de impacto.”

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