Ryanair sai da bolsa de Londres por problemas após Brexit

Companhia aérea deve ser detida e controlada de dentro da UE, motivo que empresas britânicas têm abandonado o país

Mesmo caindo 0,6% este ano, as ações da companhia aérea tiveram o melhor desempenho do índice Bloomberg EMEA Airlines
Por Anthony Palazzo
19 de Novembro, 2021 | 03:19 PM

Bloomberg — A companhia aérea low cost irlandesa Ryanair afirmou que sairá da bolsa de valores de Londres, tornando-se a primeira grande empresa a sair motivada pelo Brexit.

A medida confirma um plano iniciado este mês, quando a Ryanair citou problemas relacionados à conformidade com a saída da Grã-Bretanha da União Europeia.

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A maior companhia aérea low cost da região teve de limitar algumas compras de ações para garantir que seria controlada de dentro da União Europeia e, em seguida, policiar os investidores que infringiram as diretrizes. Embora os volumes de trading em Londres tenham diminuído, a empresa não conseguiu direcionar atividades suficientes para sua listagem principal em Dublin.

“Conforme indicado em nossos resultados intermediários e após envolvimento subsequente dos acionistas, a Ryanair decidiu solicitar o cancelamento da listagem de Londres”, disse a agência na sexta-feira (19) em comunicado. “O volume de trading das ações na bolsa de valores de Londres não compensa os custos”.

As ações da companhia acumulam queda de 0,6% este ano – foi o melhor desempenho do índice Bloomberg EMEA Airlines, que conta com seis companhias aéreas, com média de queda de 11%.

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Normas para companhias aéreas

Embora várias empresas tenham abandonado o mercado de ações de Londres, a Ryanair é a primeira a citar explicitamente o Brexit. A maior companhia aérea low cost da Europa tem sua maior operação no aeroporto de Stansted, em Londres, que não será afetada.

As regras de participação em companhias aéreas definidas há décadas para proteger o setor na Europa têm papel importante na mudança, o que aumenta a complexidade da separação iniciada no início deste ano.

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As companhias com sede na UE devem ser detidas e controladas de dentro do bloco; contudo, com o Brexit, as empresas do Reino Unido não possuem esse privilégio.

Mesmo depois de várias medidas para limitar a titularidade fora da UE, pouco mais de um terço das ações da Ryanair são detidas por estados membros, contou o CEO Michael O’Leary à Bloomberg TV no início deste mês. Na ocasião, ele disse que a companhia aérea de Dublin precisa tomar medidas adicionais para elevar o total para mais de 50%.

“É uma consequência inevitável do Brexit”, disse O’Leary. “Devemos pertencer e ser controlados pela UE, e sair de Londres é uma iniciativa razoavelmente pequena nessa estratégia”.

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Bolsa de valores

O Brexit pressionou a bolsa de valores de Londres de outras maneiras também.

Com as ações do Reino Unido sendo negociadas com desconto em relação aos índices globais, o mercado de ações de Londres está encolhendo no ritmo mais rápido entre as bolsas globais. Valuations baratos desencadearam uma enxurrada de recompras e incentivaram uma onda de aquisições por compradores estrangeiros e empresas de private equity.

Várias grandes empresas estão deixando o mercado, incluindo o BHP Group, a segunda maior ação do Índice FTSE 100 do Reino Unido por valor de mercado. A gigante de mineração está mudando para uma listagem primária na Austrália após o fim de um acordo duplo que remonta à criação da empresa há duas décadas.

O Brexit também levou empresas britânicas, como a incorporadora Hammerson e o grupo de armazéns Segro, a buscar listagens secundárias nas bolsas da UE para manter o acesso ao mercado mais amplo.

Enquanto isso, a gigante petrolífera Royal Dutch Shell e a Unilever fugiram da Holanda, encerrando os acordos de sedes duplas para se estabelecerem no Reino Unido.

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