Covid: Mercado de Wuhan ressurge como origem provável do vírus

Apesar das incertezas, incongruências nos dados podem evidenciar transmissão por meio dos animais vendidos no mercado de Huanan

Por

Bloomberg — O contador de Wuhan, na China, que todos acreditavam ser o paciente zero de Covid-19 na verdade desenvolveu sintomas oito dias depois da data relatada inicialmente, o que fez de uma vendedora de frutos do mar do mercado de Huanan o primeiro caso conhecido.

A confusão foi causada pelas complicações do procedimento odontológico que deixou o homem de 41 anos doente em 8 de dezembro. Segundo estudo publicado na quinta-feira (18) no periódico Science, a febre e os outros sintomas causados pelo coronavírus no contador começaram em 16 de dezembro, depois que vários trabalhadores do mercado de Huanan já apresentavam sinais de infecção, incluindo a vendedora cujos sintomas começaram em 11 de dezembro.

O contador morava a 30 quilômetros do mercado e não tinha conexão com ele. Ele provavelmente foi infectado por transmissão comunitária depois que o vírus começou a se espalhar em Wuhan, disse Michael Worobey, chefe do departamento de ecologia e biologia evolutiva da Universidade do Arizona em Tucson e autor do estudo.

A pesquisa de Worobey sugere que o mercado de Huanan foi a fonte do surto inicial, não apenas o local em que o vírus SARS-CoV-2 foi transmitido intensamente.

Veja mais: EUA vão pagar US$ 5,3 bi por pílulas contra Covid-19 da Pfizer

Além disso, o homem que atualmente acreditamos ser o caso mais antigo, com início dos sintomas em 8 de dezembro, na verdade começou a apresentar sintomas em 16 de dezembro. Isso muda drasticamente o quadro apresentado pelo relatório de estudo conjunto da China com a OMS...

Os cientistas ainda não determinaram as origens do SARS-CoV-2. O debate sobre o assunto girou em torno de duas ideias: fuga de laboratório ou transmissão de animais. Os estudos que identificam coronavírus relacionados, incluindo em morcegos que vivem em cavernas de calcário no norte do Laos e no Camboja, corroboram a última hipótese, principalmente porque animais vivos suscetíveis à infecção eram vendidos em feiras em Wuhan, incluindo o mercado de Huanan.

Nenhum mamífero vivo coletado no mercado de Huanan ou em qualquer outro mercado de animais vivos em Wuhan foi testado para vírus relacionados ao SARS-CoV-2. O mercado de Huanan foi fechado e desinfetado em 1º de janeiro, disse Worobey.

Veja mais: Bill Gates diz que a pandemia de Covid deve acabar no ano que vem

“No entanto, o fato de que a maioria dos primeiros casos sintomáticos estavam ligados ao mercado de Huanan – especificamente à ala oeste onde os cães-guaxinim ficavam enjaulados – fornece fortes evidências da origem da pandemia no mercado de animais vivos”, afirmou.

Embora não seja possível recuperar vírus relacionados de animais, uma vez que estes não foram testados quando o Covid-19 surgiu, a evidência conclusiva de uma origem no mercado de Huanan por meio de animais selvagens infectados pode ser confirmada através da análise de padrões espaciais de casos iniciais, continuou Worobey. Segundo ele, dados genômicos adicionais, incluindo amostras positivas para SARS-CoV-2 do mercado de Huanan, bem como dados epidemiológicos adicionais, podem reforçar o caso.

“A prevenção de futuras pandemias depende desse esforço”, concluiu.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Investidor aproveita barganhas e Ibovespa avança

Áustria entra no 4º lockdown e impõe vacina obrigatória contra Covid