Moro candidato tenta quebrar polarização Lula x Bolsonaro

“Precisamos apresentar outros produtos, projetos que tenham credibilidade”, disse o ex-juiz em entrevista à Bloomberg

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Bloomberg — Juiz protagonista da Operação Lava Jato, que prendeu políticos e a elite empresarial brasileira, Sergio Moro tenta novamente embaralhar a ordem política do país.

Seu retorno ao Brasil e sua filiação ao Podemos com disposição de entrar na corrida presidencial está mudando as perspectivas para as eleições do próximo ano, até então, vistas como um confronto direto entre as lideranças máximas da extrema-direita, Jair Bolsonaro, e da esquerda, Luiz Inácio Lula da Silva.

Longe dos holofotes, ele vivia entre Curitiba e Washington desde que renunciou ao cargo de ministro da Justiça de Bolsonaro. Agora, a menos de um ano para a eleição de 2 de outubro, o ex-juiz e ex-ministro de 49 anos se apresenta como alternativa aos que rejeitam tanto a manutenção do presidente no poder, quanto a volta de Lula, o favorito nas pesquisas eleitorais.

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“Houve uma perspectiva de mudança e as pessoas se frustraram porque expectativas não se confirmaram. Muita gente sente aquele espírito de desolação, de que está tudo perdido”, disse Moro, durante entrevista exclusiva na sede da Bloomberg em Brasília. “Se o cidadão vai no supermercado e só tem dois produtos na prateleira, os dois produtos podem ser ruins, mas ele vai ter que escolher um deles. Precisamos apresentar outros produtos, projetos que tenham credibilidade.”

Moro pode se tornar uma grande dor de cabeça para Bolsonaro, conquistando apoiadores que foram atraídos pela plataforma anticorrupção do presidente em 2018 e agora estão desiludidos com o governo.

Mas chegar ao segundo turno ainda é uma tarefa difícil. Lula, que foi condenado à prisão pelo então juiz em 2018 e, consequentemente, impedido de concorrer na última eleição, detém mais de 45% das intenções de voto em todas as recentes pesquisas de opinião. Bolsonaro tem cerca de 25% e vastos poderes presidenciais que lhe permitem usar a caneta para permanecer no poder, elevando benefícios sociais e salários de servidores, junto a eventuais políticas populistas para se manter competitivo.

A ambição presidencial de Moro pressiona outros candidatos com menor desempenho neste momento a repensar suas estratégias.

O ex-juiz chega à corrida presidencial com 9% dos votos em pesquisa publicada pela Genial/Quaest na semana passada, antes mesmo de se filiar ao Podemos. Esse índice alcançado tão rapidamente por Moro atrapalha os planos de João Doria e Eduardo Leite, respectivamente governadores de São Paulo e do Rio Grande do Sul, que disputarão as prévias do PSDB no domingo.

Moro não descartou negociações e alianças com a maioria dos partidos, nem mesmo aqueles cujos integrantes foram pegos pela Lava Jato em escândalos de corrupção. As únicas pessoas com quem não conversa, deixou claro, são Lula e Bolsonaro.

“Existe uma linha de princípio que há ética na política. Existem partidos e pessoas no centrão que são pessoas boas”, disse ele. “Não pode fazer essa generalização. Dentro de cada partido tem bons indivíduos que podem somar com projeto e diálogo republicano.”

Moro citou quatro outros pré-candidatos com quem está conversando: Doria, Leite, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM), e a senadora Simone Tebet (MDB). Disse que ainda é cedo para falar no perfil da chapa presidencial que pode liderar: “O foco agora é a construção de um programa de governo, não tem como construir a chapa sem antes ter o projeto.”

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Fala mais ampla

Em uma tentativa de conquistar eleitores, bem como o apoio do mercado financeiro, Moro tem expandido sua retórica anticorrupção para outras questões importantes neste momento, particularmente inflação, pobreza e o papel do Estado em um país extremamente desigual, com grandes necessidades sociais.

Com o apoio do ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, a maioria das propostas econômicas que ele descreveu como de “capitalismo cristão” ainda são um trabalho em andamento, disse ele.

Algumas ideias, no entanto, são claras para Moro: ele acredita no livre mercado, a inflação é um problema que precisa ser controlado com maior “credibilidade fiscal” e empresas estatais ineficientes deveriam ser privatizadas, embora não tenha mencionado quais.

Moro também não forneceu detalhes de como lutaria contra a inflação e o desemprego, que têm estado persistentemente acima de 10%, nem como impulsionaria uma economia que corre o risco de estagnar no próximo ano.

Indagado especificamente sobre a Petrobras, que esteve no centro do esquema de corrupção revelado pela Lava Jato, Moro disse que ainda precisa estudar a situação, incluindo o que fazer com o aumento dos preços dos combustíveis.

“A Petrobras tem acionistas privados, uma intervenção que vai gerar prejuízos aos interesses dos acionistas certamente vai levar a indenizações bilionárias”, afirmou. “É preciso ter um estudo para analisar se cabe privatizá-la. Se sim, como seria esse modelo. Não são respostas absolutas.”

Na busca por um meio-termo na corrida presidencial, Moro sofre ataques tanto da direita quanto da esquerda. Enquanto os partidários de Bolsonaro o chamam de traidor por ter rompido com o presidente, os partidos de esquerda o acusam de ter sido parcial na decisão que colocou Lula na cadeia. O ex-juiz, que muitos brasileiros veem como um símbolo do combate à corrupção, diz que está pronto para enfrentar o debate político e as urnas.

“Eu não sou um novato. Tenho uma carreira que me precede em casos muito difíceis. Fui juiz da Lava Jato, a maior operação de investigação contra a corrupção da história do Brasil”, disse ele. “Se isso não me dá credibilidade e couro grosso, não imagino o que me daria.”

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