Envolvido em escândalo do IRB tenta assumir microcrédito do Banco do Nordeste

Banco digital Cactvs disputa licitação para operacionalizar a maior carteira de microcrédito urbano da América do Sul

Sediado em Fortaleza (CE), Banco do Nordeste é historicamente alvo de disputas políticas, pois a concessão de crédito exerce influência no jogo eleitoral nos municípios
18 de Novembro, 2021 | 07:27 PM

São Paulo — O banco digital Cactvs, ligado ao ex-diretor financeiro do IRB Brasil Re, Fernando Passos, poderá assumir as operações da carteira bilionária de microcrédito do Banco do Nordeste, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto, que pediu o anonimato, pois as informações ainda não são públicas. A instituição de pagamento disputa a licitação com outras duas inscritas na seleção, a CredNatal (Instituto Comunitário de Crédito de Natal) e a Adesba (Associação de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e Solidário do Estado da Bahia).

Veja mais: Banco do Nordeste engaveta plano de re-IPO após contratar 5 bancos

O resultado será divulgado nos próximos dias. Passos foi citado em relatos sobre um caso de fraude contábil, divulgação de informação falsa, entre outras irregularidades, no IRB Brasil Resseguros. O caso começou com um relatório da gestora Squadra, questionando as contas do ressegurador brasileiro. Reportagem publicada pelo jornal “Folha de S.Paulo” no dia 30 de junho de 2020 relatou que, no início de março do ano passado, o então o presidente do IRB, José Carlos Cardoso, e Passos deixaram os cargos. “Eles foram apontados por analistas do mercado como responsáveis pela divulgação de informações falsas sobre interesse do fundo americano Berkshire Hathaway na companhia”, informou a publicação.

Oficialmente, o BNB informa que ainda está em fase de análise documental das propostas e que mais de uma empresa poderá ser credenciada para operacionalizar sua plataforma de microfinança urbana a partir de 2022.

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Essa seleção foi aberta após a mudança de comando no BNB, que destituiu, no final de setembro, Romildo Rolim da presidência, após um pedido do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, um dos líderes do Centrão, ao presidente Jair Bolsonaro. Anderson Possa assumiu o cargo.

Para justificar o pedido de demissão do presidente do BNB e de sua diretoria, Costa Neto citou a existência de um contrato de R$ 600 milhões entre o banco regional e o INEC (Instituto Nordeste Cidadania), então responsável pela gestão do Crediamigo desde 2003.

O líder do Centrão viu elos dessa entidade com o PT, partido do governador do Ceará, Camilo Santana, embora ele seja mais visto localmente como um aliado do presidenciável Ciro Gomes (PDT), opositor de Bolsonaro. Historicamente, o controle do BNB é alvo de disputas políticas regionais devido à influência da concessão de crédito na busca de apoio das oligarquias nos municípios, sobretudo em anos eleitorais.

Outro lado

Em nota de esclarecimento enviada à Bloomberg Línea, a assessoria de imprensa de Passos nega que o fundador da fintech, que foi diretor financeiro do BNB entre 2012 e 2013, seja acusado de irregularidades. “Passos não responde a nenhum processo judicial, como se pode constatar por simples consulta, nunca foi processado administrativamente pela CVM, mantém registro regular perante essa autarquia, assim como registro regular perante a Susep”.

O BNB não respondeu imediatamente ao pedido de comentários de Bloomberg Línea.

(Atualiza 10h25 com nota de Fernando Passos e detalhes do caso)

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Sérgio Ripardo

Jornalista brasileiro com mais de 29 anos de experiência, com passagem por sites de alcance nacional como Folha e R7, cobrindo indicadores econômicos, mercado financeiro e companhias abertas.