CVC dobra receita, reduz prejuízo e vê retomada do turismo, diz CEO

Em entrevista à Bloomberg Línea, Leonel Andrade expressou otimismo com o ritmo de recuperação do setor

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São Paulo — A CVC Corp, um dos maiores grupos de viagens da América Latina, praticamente dobrou sua receita líquida em três meses, conseguiu reduzir seu prejuízo no terceiro trimestre e já colhe os resultados da retomada do turismo doméstico e internacional após a segunda onda da Covid-19 na primeira metade do ano. Em entrevista à Bloomberg Línea, o CEO da companhia, Leonel Andrade, expressou otimismo com o ritmo de recuperação do setor.

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“Foi talvez o setor mais afetado pela pandemia. Foi muito duro, dolorido, mas é muito bom saber que aparentemente estamos no fim da crise ou começando a sair dela de uma forma muito consistente graças à medicina, à vacinação, à ciência; as coisas melhoraram muito. Também tenho que ressaltar o papel de todo o trade porque todas as empresas do setor investiram bastante, respeitam bastante protocolos e incentivam muito a tomada de decisão correta”, diz.

Andrade considera que a recuperação do turismo doméstico é “gigante, muito rápida e consistente”. “A partir de setembro, viu-se uma aceleração muito forte. Provavelmente, estou falando do setor como um todo; [talvez] a gente termine o ano com níveis de negócios muito semelhantes ao da pré-pandemia. Isso nas viagens domésticas. Nas viagens internacionais, a recuperação é também bastante consistente, mas está um passo atrás ainda, por conta principalmente da abertura das fronteiras só agora”, afirma.

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Ele acrescentou que as malhas aéreas ainda não estão totalmente disponíveis. “As companhias nacionais já montaram as malhas. Em dezembro, as malhas estão provavelmente muito iguais a dezembro de 2019, mas as internacionais ainda não. Mesmo que a demanda reprimida seja muito grande, ainda há mais dificuldades de viajar, há ainda os protocolos. A gente deve estar gerando provavelmente 70% do pré-pandemia ou algo assim, o que é muito positivo também. O que está ainda bem atrás são as viagens corporativas, mas era esperado”, prevê.

O CEO da CVC diz que o que move o setor corporativo de viagens são grandes eventos, feiras, exposições, convenções. “Isso vai voltar muito forte no ano que vem. A gente já vê movimentos de reservas e programações muito fortes”.

Menor prejuízo

No terceiro trimestre, a companhia teve prejuízo líquido ajustado de R$ 81,9 milhões, 53,5% menor do que o registrado no segundo (R$ 176,2 milhões) e 59,4% em igual período do ano passado (R$ 201,9 milhões). Em nove meses, o prejuízo soma R$ 342,4 milhões, queda de 35,9% em relação a igual período do ano passado (R$ 534 milhões).

“A empresa está saindo da pandemia de forma muita robusta, com toda sua operação montada. A gente não desmontou nada e está com altíssima capacidade operacional. A gente está muito confiante com o futuro”, afirmou Andrade.

De julho a setembro, a receita líquida somou R$ 230,4 milhões, alta de 99,4% em relação ao segundo trimestre (R$ 115,5 milhões). O indicador de “take rate” (percentual da receita líquida sobre as reservas) fechou setembro em 9,2%, acima do reportado no segundo trimestre (7,6%) e no primeiro (11,9%). A companhia destacou que houve uma redução no saldo de remarcação de reservas em R$ 76,2 milhões, totalizando R$ 829,9 milhões no terceiro trimestre.

O CFO da CVC, Marcelo Kopel, reforçou que a redução das perdas da companhia no terceiro trimestre foi resultado de uma combinação de melhor receita gerada pelo “take rate” e maiores embarques com a retomada principalmente do turismo doméstico. “As despesas também se comportaram muito bem no período. A despesa variável subiu, mas a despesa fixa se manteve. Isso gerou uma margem positiva. São esses dois componentes: receita e comportamento benigno de custos”.

Nos primeiros nove meses do ano, as atividades operacionais da companhia consumiram R$ 335,7 milhões de caixa, pelo crescimento acelerado dos embarques neste período e impactos pelos efeitos produzidos pela Covid-19 nos resultados, tais como custos com cancelamentos e despesas com reembolsos, segundo a CVC. Para financiar a operação, bem como suportar a operação nos próximos meses, foram realizados dois aumentos de capital neste ano, sendo que parte dos recursos levantados foram também destinados ao pagamento de juros e quitação de dívidas e, outra parte, para investimento em iniciativas estratégicas da companhia, segundo

“A administração acredita poder acelerar o agendamento e embarques destes nos próximos meses, valendo-se do maior acesso a destinos no exterior, regras mais claras quanto à admissão e do aumento da malha aérea”, informou a CVC, em apresentação a analistas.

Ciberataque

O CEO também comentou o impacto do ciberataque, ocorrido em outubro, que prejudicou suas operações por 15 dias, um sexto de um trimestre. “Ainda existem investigações forenses e outras ainda não concluídas. Portanto, a gente tem de tomar bastante cuidado. Foi um ataque ocasionado por grupos estrangeiros no dia 2 de outubro. A gente teve bastante êxito na solução”, disse Andrade, considerando o ataque “bastante danoso”.

Ele disse que os clientes e parceiros estão operando normalmente. “Do ponto de vista financeiro, tem impacto, mas é um impacto único. A operação voltou. Nós vamos, na divulgação do resultado do quarto trimestre, ter de quantificar”, afirmou o CEO, sem dar detalhes. Andrade explicou que ainda aguarda a conclusão das investigações.

Cortes

Sobre o corte de 10% da força de trabalho neste ano, Andrade disse que a redução é atribuída a ganhos de eficiência operacional. “Somos um conjunto de 11 empresas que foram adquiridas e a integração delas com seus back-offices, front-offices, os processos novos em todas as áreas, estão levando a essa redução, que são ganhos de produtividade da empresa. Essas vagas não serão repostas”.

O CEO disse que não tem uma previsão nem “guidance” (projeção oficial) de continuar uma redução forte de pessoal. “Mas seguramente as integrações dos negócios podem ainda nos dar mais ganhos de eficiência”.

Andrade está tocando um projeto de transformação digital, que prevê a adoção de um novo modelo de loja física, que integra suas rotinas, como o cálculo de orçamentos, ao celular do cliente, além de recursos de acessibilidade e foco nos conceitos de sustentabilidade. “Nossas lojas precisam de um choque de modernização e experiência superior dos clientes”, disse o CEO, acrescentando que esse processo de adequação de sua rede de lojas deve durar dois anos.

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