Startup está pedindo US$ 31 mi por NFT de vídeo de gol do campeonato português

“Vai que alguém compra”, diz CEO da RealFevr. Empresa quase fechou, mas ressurgiu vendendo tokens de fragmentos de vídeos de jogos históricos

Paixão pelo futebol
13 de Novembro, 2021 | 04:20 PM

Barcelona, Espanha — Se tem duas coisas que o brasileiro gosta é de futebol e tecnologia. De olho nestas peculiaridades, a startup portuguesa RealFevr lançará no Brasil sua plataforma de NFTs (Non-Fungible Token) esportivos, um negócio que a livrou de ficar fora de jogo e que lhe está rendendo receitas milionárias, elevando sua capitalização de mercado de quase zero no começo de 2019 para 16 milhões de euros em janeiro deste ano.

A RealFevr vende “saquinhos de figurinhas em vídeo”, conforme a definição de Fred Antunes, CEO da empresa. Mas estas não são figurinhas quaisquer. São fragmentos de vídeos de jogos históricos que permitiram à companhia arrecadar em setembro 1,7 milhão de euros em apenas cinco horas. O primeiro saquinho virtual de figurinhas foi vendido em agosto, com 1,5 milhão de euros entrando em 26 horas.

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O NFT é uma espécie de título de propriedade digital que está atrelado, por exemplo, a um GIF, JPEG, a fotos, vídeos, mensagens ou arquivos de áudio. Ainda que reproduza uma mídia digital amplamente conhecida, conta com um atestado de originalidade - respaldada pela tecnologia base das criptomoedas, o blockchain – que o torna único. Essa escassez é um ponto-chave, pois pode tornar o NFT um bem valioso.

E jogar com essa unicidade é justamente o que a RealFevr faz para vender. Ela compra de empresas de mídia os direitos televisivos de arquivos históricos. “Convertemos as fitas magnéticas antigas em mídia digital e o custo de aquisição destes direitos é muito, muito baixo”, diz Antunes.

O pacote de figurinhas mais barato custava US$ 3,22, com um gol do argentino Enzo Pérez para o Benfica.

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Mas pelo gol do paraguaio Óscar Cardozo, também do time português, contra o Vitória de Guimarães em 2008, na qual o Benfica saiu vitorioso por 3 a 1, a empresa cobra nada menos que US$ 31 milhões.

“Vai que alguém compra?”, questiona Antunes. Para o pagamento, só se aceitam criptoativos – a empresa tem uma moeda própria, a Fevr, usada por 22 mil clientes.

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NFTs salvadoras

O negócio de NFTs esportivos salvaram a RealFevr de fechar as portas. Até 2018, a empresa só operava com sua plataforma online de Ligas de Fantasia - simulação de torneios de futebol na qual os usuários escolhem seus jogadores prediletos e montam seus times -, que ainda existe e conta com uma base de 1,2 milhão de usuários.

Mas as coisas não estavam indo bem: era fechar a empresa ou renová-la. Em 2019, aceitei o desafio de assumir como CEO. Reformulamos produtos, requalificamos nossos sistemas para blockchain e cripto. E fizemos no começo de 2021 uma captação de 2,2 milhões de euros para investimentos”, conta. Esta rodada contou com a participação do fundo português Shilling, da empresa SportMultimédia, dos fundos Moonrock Capital e Morningstar Ventures, além de investidores privados.

Do final de 2018 a 2021, a RealFevr passou de não ter nada a registrar uma capitalização de 16 milhões de euros.

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Planos ambiciosos

A empresa tem planos ousados para 2022. Sua meta é conseguir vender aos colecionadores, cada mês, 2 milhões de euros em figurinhas apenas 60 minutos. Considerando a venda dos saquinhos de figurinhas de vídeo e a plataforma de Ligas de Fantasia, a empresa calcula que terminará 2022 com um faturamento de 50 milhões de euros.

Para conseguir este feito, na mira da empresa, além do velho e bom futebol, estão novas modalidades esportivas, como o futebol de praia, o ciclismo, os esportes eletrônicos e os de combate.

Próximas paradas: Reino Unido e Brasil

A RealFevr já está preparando as malas para desembarcar no Brasil e, assim, garantir direitos exclusivos sobre os clássicos do futebol. O plano é investir no país aproximadamente 500 mil euros no primeiro trimestre. “Mas este aporte só tende a aumentar, porque o Brasil é o ponto nuclear da estratégica da RealFevr”, enuncia o executivo.

Hoje, o Brasil representa 20% de toda a receita apurada pela startup portuguesa. “O Brasil não é mais só o país das novelas. É um país tecnológico, com qualificação em recursos humanos, custos atrativos para o investimento em euros… E sobretudo, é um país louco por futebol.”

A empresa se instalará no país no primeiro trimestre de 2022. Mas antes, até dezembro, abrirá um escritório no Reino Unido. “Aí temos três questões estratégicas: a captação de talentos em língua inglesa, o ecossistema de gaming e tecnológico, além dos benefícios fiscais para empresas de tecnologia”, explica. Até agora, segundo Antunes, a RealFevr só tem um concorrente, que é americano. “Mas até o final do ano muito mais gente vai entrar, por isso estamos nos preparando para a consolidação”, observa.

Ah! E se no começo da matéria você citou a cerveja como a terceira predileção verde-amarela, pode ser que tenha razão. Mas este é outro tema.

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Michelly Teixeira

Jornalista com mais de 20 anos como editora e repórter. Em seus 13 anos de Espanha, trabalhou na Radio Nacional de España/RNE e colaborou com a agência REDD Intelligence. No Brasil, passou pelas redações do Valor, Agência Estado e Gazeta Mercantil. Tem um MBA em Finanças, é pós-graduada em Marketing e fez um mestrado em Digital Business na ESADE.