Barcelona, Espanha — Se tem duas coisas que o brasileiro gosta é de futebol e tecnologia. De olho nestas peculiaridades, a startup portuguesa RealFevr lançará no Brasil sua plataforma de NFTs (Non-Fungible Token) esportivos, um negócio que a livrou de ficar fora de jogo e que lhe está rendendo receitas milionárias, elevando sua capitalização de mercado de quase zero no começo de 2019 para 16 milhões de euros em janeiro deste ano.
A RealFevr vende “saquinhos de figurinhas em vídeo”, conforme a definição de Fred Antunes, CEO da empresa. Mas estas não são figurinhas quaisquer. São fragmentos de vídeos de jogos históricos que permitiram à companhia arrecadar em setembro 1,7 milhão de euros em apenas cinco horas. O primeiro saquinho virtual de figurinhas foi vendido em agosto, com 1,5 milhão de euros entrando em 26 horas.
O NFT é uma espécie de título de propriedade digital que está atrelado, por exemplo, a um GIF, JPEG, a fotos, vídeos, mensagens ou arquivos de áudio. Ainda que reproduza uma mídia digital amplamente conhecida, conta com um atestado de originalidade - respaldada pela tecnologia base das criptomoedas, o blockchain – que o torna único. Essa escassez é um ponto-chave, pois pode tornar o NFT um bem valioso.
E jogar com essa unicidade é justamente o que a RealFevr faz para vender. Ela compra de empresas de mídia os direitos televisivos de arquivos históricos. “Convertemos as fitas magnéticas antigas em mídia digital e o custo de aquisição destes direitos é muito, muito baixo”, diz Antunes.
O pacote de figurinhas mais barato custava US$ 3,22, com um gol do argentino Enzo Pérez para o Benfica.
Mas pelo gol do paraguaio Óscar Cardozo, também do time português, contra o Vitória de Guimarães em 2008, na qual o Benfica saiu vitorioso por 3 a 1, a empresa cobra nada menos que US$ 31 milhões.
“Vai que alguém compra?”, questiona Antunes. Para o pagamento, só se aceitam criptoativos – a empresa tem uma moeda própria, a Fevr, usada por 22 mil clientes.
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NFTs salvadoras
O negócio de NFTs esportivos salvaram a RealFevr de fechar as portas. Até 2018, a empresa só operava com sua plataforma online de Ligas de Fantasia - simulação de torneios de futebol na qual os usuários escolhem seus jogadores prediletos e montam seus times -, que ainda existe e conta com uma base de 1,2 milhão de usuários.
“Mas as coisas não estavam indo bem: era fechar a empresa ou renová-la. Em 2019, aceitei o desafio de assumir como CEO. Reformulamos produtos, requalificamos nossos sistemas para blockchain e cripto. E fizemos no começo de 2021 uma captação de 2,2 milhões de euros para investimentos”, conta. Esta rodada contou com a participação do fundo português Shilling, da empresa SportMultimédia, dos fundos Moonrock Capital e Morningstar Ventures, além de investidores privados.
Do final de 2018 a 2021, a RealFevr passou de não ter nada a registrar uma capitalização de 16 milhões de euros.
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Planos ambiciosos
A empresa tem planos ousados para 2022. Sua meta é conseguir vender aos colecionadores, cada mês, 2 milhões de euros em figurinhas apenas 60 minutos. Considerando a venda dos saquinhos de figurinhas de vídeo e a plataforma de Ligas de Fantasia, a empresa calcula que terminará 2022 com um faturamento de 50 milhões de euros.
Para conseguir este feito, na mira da empresa, além do velho e bom futebol, estão novas modalidades esportivas, como o futebol de praia, o ciclismo, os esportes eletrônicos e os de combate.
Próximas paradas: Reino Unido e Brasil
A RealFevr já está preparando as malas para desembarcar no Brasil e, assim, garantir direitos exclusivos sobre os clássicos do futebol. O plano é investir no país aproximadamente 500 mil euros no primeiro trimestre. “Mas este aporte só tende a aumentar, porque o Brasil é o ponto nuclear da estratégica da RealFevr”, enuncia o executivo.
Hoje, o Brasil representa 20% de toda a receita apurada pela startup portuguesa. “O Brasil não é mais só o país das novelas. É um país tecnológico, com qualificação em recursos humanos, custos atrativos para o investimento em euros… E sobretudo, é um país louco por futebol.”
A empresa se instalará no país no primeiro trimestre de 2022. Mas antes, até dezembro, abrirá um escritório no Reino Unido. “Aí temos três questões estratégicas: a captação de talentos em língua inglesa, o ecossistema de gaming e tecnológico, além dos benefícios fiscais para empresas de tecnologia”, explica. Até agora, segundo Antunes, a RealFevr só tem um concorrente, que é americano. “Mas até o final do ano muito mais gente vai entrar, por isso estamos nos preparando para a consolidação”, observa.
Ah! E se no começo da matéria você citou a cerveja como a terceira predileção verde-amarela, pode ser que tenha razão. Mas este é outro tema.
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