Bloomberg — O minério de ferro fechou na cotação mais baixa em quase três anos na China em meio à crise de dívida no mercado imobiliário do país, que afeta cada vez mais as perspectivas da demanda por aço.
O insumo siderúrgico sofre o impacto da turbulência prolongada no setor imobiliário chinês, o que desacelera a atividade na construção. As incertezas sobre o segmento aumentaram esta semana com a derrocada no mercado de títulos e outra rodada de pressão sobre a liquidez para incorporadoras em dificuldades como a China Evergrande.
“O setor imobiliário enfrenta vendas fracas e financiamento mais restrito, então não há muito incentivo para expandir as obras”, disse por telefone Ban Peng, analista da Maike Futures. “Se as siderúrgicas começarem a se reabastecer para o inverno, os preços do minério de ferro talvez possam se recuperar, mas não temos um fator fundamental para uma grande retomada.”
As recentes perdas marcam uma grande virada nos mercados de ferrosos. No primeiro semestre, a demanda na China foi impulsionada pelas medidas de estímulo para aliviar a crise causada pela pandemia. Agora, a campanha do governo de Pequim para a desalavancagem do setor imobiliário e a desaceleração econômica minam a confiança. O minério de ferro se desvalorizou cerca de 65% em relação ao recorde de maio.
A cadeia de suprimentos do aço mostra muitos sinais de ociosidade. A produção das principais usinas chinesas havia encolhido quase 20% até o final de outubro. Os estoques do minério de ferro estão no nível mais alto desde abril de 2019, e as margens das usinas sentem a pressão da queda dos preços do aço.
Até quando?
Há incertezas sobre até quando deve durar o teste de estresse do mercado imobiliário conduzido pelo governo Pequim e até onde autoridades podem chegar com suas políticas de controle sobre um setor que tem sido um motor vital para o crescimento econômico da China. O Goldman Sachs diz que a tolerância do governo para problemas econômicos de curto prazo é muito maior do que antes.
“Sem qualquer estímulo de políticas, as perspectivas de consumo de materiais de construção continuam sombrias adiante”, escreveu a Huatai Futures em nota. O consumo de aço caiu significativamente em meio à queda da confiança e ao clima mais frio, disse a empresa.
No mercado imobiliário, investidores estão de olho na Evergrande, que enfrenta seu maior teste com US$ 148,1 milhões em pagamentos de cupons com vencimento na quarta-feira. Enquanto isso, o jornal estatal Securities Times disse que a China poderia flexibilizar as regras de financiamento para incorporadoras imobiliárias, o que ajudou a reduzir as perdas no mercado de ferrosos.
Os futuros do minério de ferro em Dalian fecharam em queda de 4,4%, cotados a 536,5 yuans por tonelada, o menor nível desde janeiro de 2019. Em Singapura, os futuros chegaram a cair 6,9%, para US$ 84,6 a tonelada, mas se recuperaram e eram negociados a US$ 87,9 por volta das 16h04 no horário local. O vergalhão e a bobina laminada a quente recuaram em Xangai.
A desvalorização da matéria-prima se reflete no desempenho de grandes mineradoras. As ações da Rio Tinto foram negociadas no menor nível desde maio de 2020 na Austrália, enquanto o papel da Vale perdeu quase 40% desde o início de agosto.
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