Bloomberg — Sergio Moro, o ex-juiz que ficou famoso por liderar a Lava Jato e colocar membros da elite brasileira na prisão, entrou oficialmente na arena política com a filiação ao Podemos um ano antes da eleição presidencial de 2022.
“O país está no caminho errado”, disse Moro em discurso na manhã de quarta-feira em Brasília. Ele falou sobre o alto índice de desemprego, de como a luta contra a corrupção perdeu força nos últimos anos, além do aumento da inflação e dos juros.
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Embora ainda não seja oficialmente candidato, a notícia de sua filiação começa a lançar as bases para uma reviravolta na cena local: o mesmo juiz que enviou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a prisão, pode agora enfrentá-lo nas urnas.
Se concorrer, Moro, 49, também enfrentará o presidente Jair Bolsonaro, a quem ele serviu como ministro da Justiça antes de renunciar em abril de 2020, alegando que Bolsonaro havia interferido nas investigações da Polícia Federal para proteger familiares -- algo negado por Bolsonaro.
O foco de Moro provavelmente serão os eleitores que buscam por uma solução intermediária entre Lula, à esquerda, e Bolsonaro, à direita, um espaço político apelidado de “terceira via”. Mais de uma dezena de políticos já disputa o voto de centro, incluindo os governadores de São Paulo, João Doria, e Rio Grande do Sul, Eduardo leite.
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Colega de Moro no governo Bolsonaro, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, também tenta se viabilizar como candidato e participou da cerimônia desta manhã.
Ele posou para fotos com Moro e disse que agora os partidos da dita terceira via verão quem se torna o melhor candidato para que possam se unir em torno de uma única candidatura.
“O espírito é de não fragmentar, não pulverizar candidaturas”, disse Mandetta a jornalistas.
Nas pesquisas eleitorais mais recentes, Moro tem menos de 10% dos votos, com Lula liderando sobre todos os outros candidatos até agora, seguido por Bolsonaro.
Defesa das reformas
O ex-juiz é visto por muitos brasileiros como o principal agente na luta contra corrupção no país e pode herdar eleitores desiludidos do Bolsonaro. Mas seu histórico registra reveses: este ano o Supremo Tribunal Federal declarou Moro suspeito no processo contra Lula, que em 2019 foi libertado da prisão mediante recurso.
Em seu discurso, Moro destacou o combate à corrupção e criticou as administrações Lula e Bolsonaro.
Superficialmente, abordou temas como economia --defendeu reforma tributária, privatização de estatais e a procura por mercados externos--, meio ambiente e diversidade. Sem entrar em detalhes, disse que sua prioridade seria a erradicação da pobreza através de uma “força-tarefa”.
“Nesse país que compartilhamos, o nosso senso de comunidade impede que adotemos um capitalismo cego, sem solidariedade ou compaixão. O nosso senso de justiça, os nossos valores cristãos e que são compartilhados pelas outras religiões, exigem que as grandes desigualdades econômicas sejam superadas”, afirmou Moro.
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