Bloomberg — A inflação brasileira acelerou mais do que o esperado em outubro, estimulando as apostas de que o banco central possa subir as taxas de juros em até 2 pontos percentuais em resposta aos planos do governo para maiores gastos.
A inflação anual acelerou para 10,67%, acima de todas as estimativas da pesquisa da Bloomberg. Os preços ao consumidor subiram 1,25% em relação ao mês anterior, informou o IBGE. Foi o maior aumento para o mês de outubro em quase duas décadas.
O Banco Central aumentou a taxa de juros em 575 pontos-base desde março, em meio ao aumento do custo de vida. Para complicar ainda mais a perspectiva de preços, o Congresso está debatendo a regra que permitiria ao presidente Jair Bolsonaro aumentar benefícios sociais antes da eleição do próximo ano. Os investidores temem que os esforços para contornar o teto de gastos, determinado pela Constituição, abram caminho para ainda mais gastos.
O que os economistas da Bloomberg dizem
- “A surpresa positiva significativa para a inflação brasileira em outubro provavelmente alimentará especulações sobre uma possível aceleração nos aumentos das taxas na próxima reunião de política monetária do Banco Central.”
- --Adriana Dupita, economista da América Latina
As taxas de juros do contrato com vencimento em janeiro de 2023, que indicam as expectativas dos investidores para a Selic no final de 2022, subiram 2 pontos-base.
“A inflação continua acelerando, levando a um preocupante desancoramento das expectativas para 2022″, disse Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital Markets, uma corretora de São Paulo.
Fatores de preço
Todas as nove cestas de bens e serviços pesquisadas pelo IBGE aumentaram de preço no mês passado. Os direcionadores mais significativos foram os custos com transporte, que subiram 2,62% no mês, e os custos com alimentos e bebidas, que aumentaram 1,17%.
A taxa de inflação anual está se aproximando do pico anterior de 10,71% alcançado em 2016 durante o governo de Dilma Rousseff, que sofreu impeachment em meio à indignação nacional sobre o mal-estar econômico. O Banco Central tem como meta a inflação anual em 3,75% este ano e 3,5% em 2022.
“Em um cenário de intensas pressões inflacionárias e piora do balanço de riscos, a probabilidade de o banco central conseguir levar a inflação para a meta de 3,5% em 2022 é muito baixa”, escreveu o economista Alberto Ramos do Goldman Sachs em relatório.
Na ata de sua última reunião de política monetária, o banco central disse que havia considerado um aumento nas taxas maior do que os 150 pontos base divulgados em outubro. O BC prometeu outro aumento da mesma magnitude em dezembro, mas os futuros de taxas de juros agora mostram apostas em um aumento de quase 200 pontos base. Esse seria o aperto monetário mais agressivo desde o final de 2002.
Após os dados de inflação, o Goldman vê uma probabilidade de 20% de um aumento superior a 150 pontos-base quando os formuladores de política se reúnem no próximo mês, enquanto o CM Capital Market pede um aumento de 200 pontos-base.
Embora a inflação esteja acelerando globalmente, tem sido um problema maior na América Latina, com os preços subindo mais rápido do que o esperado no México, Chile e Peru no mês passado.
--Com a assistência de Rafael Mendes, Rafael Gayol e Josue Leonel
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