Ibovespa e dólar mostram alívio após Precatórios; juros sobem com IPCA

Mercados tiram pé do freio após dias de cautela diante da votação da PEC que libera espaço para o Auxílio Brasil; inflação nos EUA e no Brasil é tema central

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Bloomberg Línea — O índice Ibovespa andava de lado neste início de quarta-feira (10), enquanto o dólar futuro tinha leve recuo, descolado dos pares no exterior, com investidores retirando parte da cautela dos últimos dias, em antecipação à aprovação da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) dos Precatórios na Câmara dos Deputados.

A Casa aprovou o texto em segunda votação nesta terça (9), por 323 votos favoráveis – 15 mais que os dois terços necessários – a 172 contrários. A proposta, que parcela as dívidas judiciais e altera o teto de gastos, seguirá agora para duas votações no Senado.

A mudança na Constituição foi o caminho escolhido pelo governo do presidente Jair Bolsonaro para gerar espaço para pagar o Auxílio Brasil – programa social substituto do Bolsa Família, que vai pagar R$ 400 mensais a 17 milhões de famílias até dezembro do ano que vem.

Veja mais: PEC dos Precatórios é aprovada em 2ª votação na Câmara e vai ao Senado

Para Pietra Guerra, especialista em ações da Clear Corretora, o resultado dissipou o compasso de espera em que o mercado se encontrava na terça-feira e deu espaço para leitura positiva dos resultados da temporada de balanços do terceiro trimestre.

Juros e dólar

Enquanto isso, o dólar futuro recuava 0,32%, a R$ 5,4628, descolado do movimento internacional, que adiciona alguma cautela perante moedas pares emergentes, como o peso mexicano, a lira turca e o rand sul-africano.

Todas as atenções ficam voltadas à inflação ao consumidor dos Estados Unidos, que registraram alta de 6,2% na base anual em outubro. A expectativa era que o IPC acelerasse para 5,9% em relação ao ano anterior, conforme estimativa Bloomberg. Na base mensal, a alta foi de 0,9%, ante expectativa de 0,6%.

Veja mais: URGENTE: Inflação nos EUA avança mais que o esperado em outubro

O assunto segue como um dos mais preocupantes da economia mundial. Na Ásia, nesta madrugada a China publicou o seu Índice de Preços ao Produtor referente a outubro, cuja taxa de expansão interanual se situou em 13,5%, o mais elevado nível desde 1995 e acima do consenso de 12,3% dos economistas. As cifras anuais do IPC chinês, por sua vez, subiram no maior ritmo anual em 13 meses, para 1,5%, frente a um consenso de +1,4% e a uma taxa de +0,7% no mês anterior.

  • Na metade da manhã, os futuros das bolsas americanas recuavam, com o índice Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq caindo 0,1%, 0,16% e 0,34%, respectivamente

Mais cedo, a inflação no Brasil registrou o maior avanço para o mês desde outubro de 2002. Conforme divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve alta mensal de 1,25% em outubro, puxado pelos preços dos combustíveis, com destaque para a gasolina.

  • Com isso, o IPCA acumula altas de 8,24% no ano e de 10,67% nos últimos 12 meses, acima do registrado nos 12 meses imediatamente anteriores (10,25%)
  • No Brasil, os juros para janeiro de 2022 subiam 1 ponto-base, para 11,940%

A alta da inflação fez com que a casa de investimentos Ativa elevasse a perspectiva para a taxa básica de juros, Selic, segundo comunicado enviado nesta quarta.

Especialistas da corretora projetam elevação da Selic em 200bps na próxima reunião, inflação de 4,4% para o ano que vem e PIB de 0,5% em 2022.

Segundo o economista-chefe da casa, Étore Sanchez, com a inflação corrente surpreendendo negativamente e as expectativas de IPCA sendo corrigidas sistematicamente para cima no horizonte relevante de política monetária, “fomos obrigados a subir nossa perspectiva sobre o ritmo de elevação da Selic bem como seu final de ciclo”.

Ele atribui grande parte do avanço das expectativas de 2022 não mais aos fatores associados a oferta e demanda, mas sim a uma desancoragem das mesmas.

“Deste modo, avaliamos que a autoridade monetária terá que se mostrar mais austera do que o matematicamente necessário para buscar a convergência, a fim de mostrar o severo compromisso com o regime de meta de inflação que vem sem colocado em descrédito”

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos

A Ativa espera que a Selic encerre o ano em 9,75%, com outra alta de 200bps em fevereiro, que levaria o juro para 11,75%. O ciclo, segundo eles, seria encerrado na reunião de março, com uma elevação de 150bps, com o juro a 13,25%.

--Com a colaboração de Kariny Leal, Michelly Teixeira e Graciliano Rocha

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