Filiado ao Podemos, Sergio Moro falou pela primeira vez como pré-candidato a presidente da República, buscando criticar simultaneamente os dois líderes nas pesquisas eleitorais, o ex-presidente Lula – a quem Moro condenou como juiz da Lava Jato – e o presidente Jair Bolsonaro – a quem serviu como ministro da Justiça durante 18 meses, até romper com ele.
“Combater a corrupção não é um projeto de vingança ou de punição, é Justiça na forma da lei. É um projeto para termos um governo de leis que aja em benefício de todos, não em benefício de alguns. Chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha, chega de orçamento secreto”, discursou Moro, em evento em Brasília, na manhã desta quarta-feira (10).
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Estreante no palanque, Moro leu um discurso de 45 minutos no teleprompter, com voz pausada e sem muitas variações no tom de voz. Logo no começo, pediu para que a audiência prestasse mais atenção nas suas palavras do que na sua voz – “muita gente critica a minha voz”.
Primeiro, o alvo foi Lula, sem citá-lo nominalmente. “Fui juiz da operação Lava Jato em Curitiba. Foi um momento histórico: quebramos a impunidade da grande corrupção de uma forma e com números sem precedentes. Julgamos pessoas poderosas do mundo da política e dos negócios, que pela primeira vez pagaram por seus crimes.”
“A Petrobras foi saqueada, dia e noite, por interesses políticos como nunca antes na história desse país”, disse, subindo um pouco o volume da voz quando repetiu o jargão que Lula costumava usar quando presidente.
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O STF (Supremo Tribunal Federal) anulou as condenações de Lula este ano e considerou Sergio Moro suspeito; isto é, suspeito de ter desrespeitado o princípio da imparcialidade do juiz nos processos que envolviam o ex-presidente.
Adesão e rompimento com Bolsonaro
Ao falar de sua história, Moro depois abordou a sua decisão de ingressar no governo de Jair Bolsonaro.
“Em 2018, eu recebi um convite do presidente eleito para ser ministro da Justiça. Como todo bom brasileiro, eu tinha esperança em dias melhores. Como todo brasileiro, eu pensava no que nós havíamos presenciado nos últimos anos. Os grandes casos de corrupção revelados, dia após dia”.
“Era o momento que exigia mudança e eu, como juiz da Lava Jato, me sentia no dever de ajudar. Havia pelo menos uma chance de dar certo e eu não podia me omitir”, justificou.
Moro tampouco citou Bolsonaro nominalmente quando falou de sua saída do Ministério da Justiça.
“Meu desejo era continuar atuando como ministro em favor dos brasileiros, infelizmente não pude prosseguir no governo. Quando aceitei o cargo, não fiz por poder ou prestígio. Eu queria combater a corrupção, mas, para isso, eu precisava do apoio do governo e esse apoio foi negado”.
“Quando vi meu trabalho boicotado, continuar como ministro seria apenas uma farsa. Não existe nenhum cargo que valha a alma de uma pessoa”.
Moro deixou o governo acusando o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal, gerando um inquérito que tramita no âmbito do STF.
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Propostas
No discurso de 45 minutos, o agora presidenciável do Podemos buscou enfatizar que o combate à corrupção – seu principal benchmark – não é o único ponto de sua plataforma. Ele defendeu uma reforma educacional para levar aulas em período integral primeiro para as áreas mais carentes, adesão à responsabilidade fiscal e desmatamento zero na Amazônia.
Ele mencionou rapidamente a inflação, problema que mais preocupa os brasileiros, segundo pesquisas, buscando mostrar conexão com a aflição de pessoas comuns.
“Os técnicos falam em um número, mas quem vai no posto de gasolina e na padaria sabe que é muito mais. Os juros subiram, dificultando a vida do empresário, do agricultor e das pessoas comuns. E ainda vão subir mais. Não digo isso porque sou pessimista, mas porque o país encontra-se no rumo errado”, afirmou.
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No diagnóstico de Moro, o problema do desemprego começou a crescer no governo do PT e não parou mais. Depois voltou à sua especialidade: “É mentira dizer que acabou a corrupção, quando na verdade enfraqueceram as ferramentas para combatê-la”.
Sob o governo Bolsonaro, o Congresso alterou a lei de improbidade administrativa obrigando o Ministério Público a provar dolo (intenção) de políticos suspeitos de desvio de recursos e aprovou uma lei de abuso de autoridade – criticada por entidades de magistrados e do MP.
Também criticou a anulação de condenações de réus poderosos com base no que chamou de “formalismos”, numa menção sutil à decisão do STF que devolveu os processos de Lula à estaca zero.
“Os criminosos poderosos estão escapando impunes de seus crimes e que a lei não está valendo para todos. Fica aquela sensação amarga de que não existe justiça, como se a Petrobras não tivesse sido saqueada, como se tudo que foi feito não tivesse valido, como se não tivesse importância as manifestações de milhões de brasileiros que saíram às ruas em 2015 e 2016, protestando contra corrupção.”
Suas promessas mais concretas foram a prisão para os condenados em segunda instância e o fim do foro privilegiado para políticos – pontos das chamadas 10 Medidas anticorrupção, elaboradas pelos procuradores da Lava Jato que angariaram apoio através de um abaixo-assinado nacional, e foram derrotadas no Congresso.
Ele também pregou o fim da reeleição para ocupantes de cargos no Executivo – “ideia que fracassou”.
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