Bloomberg Línea — A conta finalmente chegou aos exportadores de carne bovina. O embargo às vendas para a China que deveria, mas não foi cumprido em setembro, surtiu efeito no último mês de outubro. Sem poder vender ao país asiático, os embarques de carne bovina tiveram o pior desempenho mensal desde junho de 2018. Naquela época, as vendas externas foram atingidas pela greve dos caminhoneiros, que parou o Brasil por mais de uma semana, impedindo a chegada de cargas aos portos.
Os dados do Ministério da Economia mostram que as exportações do mês passado somaram 85,9 mil toneladas. O volume representa uma retração de 48,4% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando foram embarcadas 166,4 mil toneladas. Em relação a setembro deste ano, quando teve início o embargo e ainda assim as exportações bateram recorde, com 191,02 mil toneladas embarcadas, a queda foi de 55%.
A retração nas exportações do mês passado está em linha com o peso que o mercado chinês tem para os frigoríficos brasileiros. De modo geral, a China é o destino de metade de toda carne bovina exportada pelo Brasil, tendo representado fatias ainda superiores a 50% em alguns meses, como tem ocorrido desde maio deste ano. Em dezembro do ano passado, por exemplo, os chineses compraram 60% de toda carne vendida pelo Brasil.
Mesmo com o embargo imposto pelo Ministério da Agricultura do Brasil em 4 de setembro deste ano, após a confirmação de dois casos atípicos de ‘vaca louca’, foram embarcadas para a China em outubro 8,2 mil toneladas de carne bovina. O volume representa uma queda de 90% em comparação a outubro de 2020, quando os chineses receberam 84,6 mil toneladas de carne brasileira.
Ainda não se sabe o que vai acontecer com a carne exportada em setembro, muito menos com a embarcada em outubro. A carne exportada nos últimos dois meses corre o risco de não ser liberada para acessar o mercado interno da China. Com isso, existe a chance das cargas ficarem paradas no porto aguardando por uma definição, serem devolvidas ao Brasil, destinadas a outro país ou mesmo serem destruídas, o que é o menos provável.
Tentativas frustradas
Apesar das muitas tentativas de retomada das exportações para a China, os frigoríficos nacionais seguem sem autorização para vender a seu maior cliente. No início de setembro, logo após a confirmação dos casos e a suspensão dos embarques, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, procurou o governo de Pequim para pedir uma reunião e tentar evitar que o problema se prolongasse por muito tempo. Fontes da China informaram que a Administração Geral da Alfândegas da China (GACC), órgão responsável pelo assunto, não foi autorizado a atender a ministra brasileira.
Não satisfeita com a porta fechada na primeira tentativa, a ministra buscou ainda em setembro abordar o ministro da Agricultura da China, Tang Renjian, durante o encontro ministerial do G-20, realizado na Itália. Apesar do pedido antecipado para uma agenda paralela ao evento, não obteve sucesso mais uma vez.
Já em outubro, a ministra enviou uma carta oficial a Pequim, se colocando à disposição para ir pessoalmente ao país para tentar encontrar uma solução para o caso. Dias depois, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, e o de Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, conversaram sobre o assunto, mas nada de muito concreto foi efetivado.
As áreas técnicas dos dois países têm mantido conversas para aparar eventuais arestas e tentar acelerar a retomada. Uma fonte da China informou à Bloomberg Línea que Pequim gostaria de ter uma sinalização de instâncias superiores do Executivo brasileiro. Na prática, uma manifestação do presidente Jair Bolsonaro. Contudo, até o momento, o Palácio do Planalto ainda não fez qualquer tipo de movimento no sentido de oferecer um afago aos chineses.