Frigoríficos têm o pior desempenho com exportação desde 2018

Restrição para vender à China ainda se mantém e deixa de fora o maior cliente das indústrias brasileiras, responsável por praticamente metade de todos os embarques, pelo menos até setembro

Conhecida por 'apagar incêndios' nas relações diplomáticas com a China, ministra Tereza Cristina não tem conseguido avançar na retomada das exportações de carne bovina do Brasil ao seu maior cliente
08 de Novembro, 2021 | 02:00 PM

Bloomberg Línea — A conta finalmente chegou aos exportadores de carne bovina. O embargo às vendas para a China que deveria, mas não foi cumprido em setembro, surtiu efeito no último mês de outubro. Sem poder vender ao país asiático, os embarques de carne bovina tiveram o pior desempenho mensal desde junho de 2018. Naquela época, as vendas externas foram atingidas pela greve dos caminhoneiros, que parou o Brasil por mais de uma semana, impedindo a chegada de cargas aos portos.

Os dados do Ministério da Economia mostram que as exportações do mês passado somaram 85,9 mil toneladas. O volume representa uma retração de 48,4% em comparação ao mesmo período do ano passado, quando foram embarcadas 166,4 mil toneladas. Em relação a setembro deste ano, quando teve início o embargo e ainda assim as exportações bateram recorde, com 191,02 mil toneladas embarcadas, a queda foi de 55%.

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A retração nas exportações do mês passado está em linha com o peso que o mercado chinês tem para os frigoríficos brasileiros. De modo geral, a China é o destino de metade de toda carne bovina exportada pelo Brasil, tendo representado fatias ainda superiores a 50% em alguns meses, como tem ocorrido desde maio deste ano. Em dezembro do ano passado, por exemplo, os chineses compraram 60% de toda carne vendida pelo Brasil.

Mesmo com o embargo imposto pelo Ministério da Agricultura do Brasil em 4 de setembro deste ano, após a confirmação de dois casos atípicos de ‘vaca louca’, foram embarcadas para a China em outubro 8,2 mil toneladas de carne bovina. O volume representa uma queda de 90% em comparação a outubro de 2020, quando os chineses receberam 84,6 mil toneladas de carne brasileira.

Ainda não se sabe o que vai acontecer com a carne exportada em setembro, muito menos com a embarcada em outubro. A carne exportada nos últimos dois meses corre o risco de não ser liberada para acessar o mercado interno da China. Com isso, existe a chance das cargas ficarem paradas no porto aguardando por uma definição, serem devolvidas ao Brasil, destinadas a outro país ou mesmo serem destruídas, o que é o menos provável.

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Tentativas frustradas

Apesar das muitas tentativas de retomada das exportações para a China, os frigoríficos nacionais seguem sem autorização para vender a seu maior cliente. No início de setembro, logo após a confirmação dos casos e a suspensão dos embarques, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, procurou o governo de Pequim para pedir uma reunião e tentar evitar que o problema se prolongasse por muito tempo. Fontes da China informaram que a Administração Geral da Alfândegas da China (GACC), órgão responsável pelo assunto, não foi autorizado a atender a ministra brasileira.

Não satisfeita com a porta fechada na primeira tentativa, a ministra buscou ainda em setembro abordar o ministro da Agricultura da China, Tang Renjian, durante o encontro ministerial do G-20, realizado na Itália. Apesar do pedido antecipado para uma agenda paralela ao evento, não obteve sucesso mais uma vez.

Já em outubro, a ministra enviou uma carta oficial a Pequim, se colocando à disposição para ir pessoalmente ao país para tentar encontrar uma solução para o caso. Dias depois, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Carlos França, e o de Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, conversaram sobre o assunto, mas nada de muito concreto foi efetivado.

As áreas técnicas dos dois países têm mantido conversas para aparar eventuais arestas e tentar acelerar a retomada. Uma fonte da China informou à Bloomberg Línea que Pequim gostaria de ter uma sinalização de instâncias superiores do Executivo brasileiro. Na prática, uma manifestação do presidente Jair Bolsonaro. Contudo, até o momento, o Palácio do Planalto ainda não fez qualquer tipo de movimento no sentido de oferecer um afago aos chineses.

Alexandre Inacio

Jornalista brasileiro, com mais de 20 anos de carreira, editor da Bloomberg Línea. Com passagens pela Gazeta Mercantil, Broadcast (Agência Estado) e Valor Econômico, também atuou como chefe de comunicação de multinacionais, órgãos públicos e como consultor de inteligência de mercado de commodities.