Austrália e Argentina socorrem um mundo faminto por trigo

Ambos os países devem exportar quantidades próximas ao recorde de um dos alimentos mais importantes do planeta

A Austrália exporta para boa parte da produção para a Ásia
Por Sybilla Gross
08 de Novembro, 2021 | 11:24 AM

Bloomberg — Pela segunda temporada consecutiva, as coisas se encaixaram para os produtores de trigo australianos: uma safra abundante, uma escassez global de um dos alimentos mais importantes do planeta e preços mundiais próximos aos mais altos em nove anos.

A Austrália deve enviar 24,5 milhões de toneladas na próxima temporada (quase o valor mais alto de todos os tempos), afirmou o Rabobank. A Argentina também deve exportar 13,5 milhões de toneladas – valor também próximo a seu pico inédito, segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Juntos, os dois países provavelmente serão responsáveis por quase 20% das exportações mundiais nesta temporada.

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A commodity é extremamente necessária em um mundo desprovido do grão utilizado em tudo, de pães a bolos e biscoitos. Secas, geadas e temporais nos principais países exportadores do hemisfério norte neste ano afetaram o abastecimento e geraram um frenesi de compra no Oriente Médio. O aumento dos preços levou os custos globais de alimentos ao valor mais alto em uma década, piorando as pressões da inflação.

Preços do trigo de Chicago e Minneapolis

Os grandes clientes da Austrália incluem países como Indonésia, Vietnã, China e outros países na região Ásia-Pacífico. De fato, a China mostrou maior demanda por trigo da Austrália neste ano, apesar de ter imposto uma série de restrições comerciais a outros produtos do país, e suas compras aumentaram 55% nos primeiros nove meses de 2021 em relação ao ano anterior.

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Mesmo assim, pode haver algumas ressalvas para o grão australiano. Embora a maior parte do trigo do país saia de portos de maneira relativamente uniforme em navios graneleiros, cerca de 10% é enviada em contêineres, incluindo para o Sudeste Asiático. Com a recente crise de contêineres, os custos aumentaram.

Ar fresco

As companhias marítimas estão priorizando as rotas “Leste-Oeste” que atendem mercados maiores entre a Ásia e o Ocidente – um desafio para os produtores australianos nas vias “Norte-Sul” que tentam conseguir contêineres para grãos, segundo com Neil Chambers, diretor da Container Transport Alliance Australia (Aliança de Transporte por Contêineres da Austrália). Alguns contêineres da Austrália estão sendo enviados vazios para a Ásia. “A maior commodity de exportação do porto de Melbourne é o ar fresco dentro dos contêineres”, disse.

A segunda ressalva é o impacto das chuvas sobre a qualidade de alguns grãos da Austrália. Há um “risco substancial” de rebaixamento na qualidade da safra nacional, principalmente nas regiões do sul da costa leste, segundo a analista sênior de commodities do Rabobank Cheryl Kalisch Gordon.

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As regiões produtoras ao longo das costas leste e oeste foram inundadas por fortes chuvas, e a esperada chegada de outro La Niña provavelmente continuará mantendo a umidade. Os produtores poderão ter de investir pesado em mais logística para escoar a safra, afirmou Kalisch Gordon.


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