Opinión - Bloomberg

Seu primeiro emprego não será o emprego dos seus sonhos. E tudo bem

Apenas 67% dos formandos que receberam seus diplomas de bacharelado em 2020 estavam empregados

As agruras de se formar em meio a uma recessão
Tempo de leitura: 4 minutos

Bloomberg Opinion — O mercado de trabalho parece estar melhorando para os alunos que estão cursando o último ano da faculdade, mas aqueles que se formaram no ano passado ainda podem estar com dificuldades de encontrar trabalho. Seus colegas mais jovens estão conseguindo empregos graças a um mercado de trabalho melhor, estágios e interações presenciais com professores, que tinham perdido durante o auge da pandemia.

Apenas 67% dos formandos que receberam seus diplomas de bacharelado em 2020 estavam empregados, em comparação com 76% de seus colegas que se formaram um ano antes, segundo dados mais recentes do Bureau of Labor Statistics dos Estados Unidos. Outra pesquisa do site de empregos Monster mostra que quase metade dos formandos de 2020 ainda procuravam emprego um ano depois de concluírem o curso.

As pós-graduações também não estão garantindo um cenário muito melhor; entre maio de 2019 e maio de 2020, houve queda de 34% nas ofertas de emprego para quem concluiu um MBA. Mesmo na universidade onde dou aulas, o processo de contratação de doutores diminuiu consideravelmente. Um dos meus melhores alunos conseguiu um emprego temporário no Banco Central da República da Turquia, em vez de um cargo de professor em tempo integral.

Apesar das notícias deprimentes, há algumas coisas que os formandos de 2020 podem fazer para mitigar os traumas profissionais e os efeitos negativos de longo prazo sobre suas finanças, decorrentes do fato de terem se formado no meio de uma recessão.

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Primeiro, não espere pelo emprego dos sonhos. Aqueles que começarem a vida profissional durante uma recessão ganharão cerca de 10% menos ao longo de suas carreiras devido aos salários iniciais mais baixos e menos horas de trabalho do que aqueles que se formaram em um ambiente econômico melhor, como demonstra uma pesquisa conduzida pelos economistas Jesse Rothstein, da Universidade da Califórnia em Berkeley, e Lisa Kahn, da Universidade de Rochester. Para evitar que essas perdas se tornem ainda mais acentuadas, comece a trabalhar o quanto antes.

Esteja aberto a setores onde a demanda é mais alta, mesmo que não seja uma área que estava inicialmente nos seus planos. Setores como saúde doméstica e cuidados pessoais, serviços de alimentação, desenvolvimento de software e pesquisa de mercado estão entre aqueles com a maior estimativa de novas vagas nos próximos 10 anos, de acordo com o Departamento do Trabalho dos EUA.

O outro benefício de ter um emprego - qualquer emprego - é que você pode começar a guardar algum dinheiro e aproveitar os juros compostos. Embora eu saiba que isso não parece muito factível diante dos empréstimos estudantis ou outras dívidas, além da sensação de não ter dinheiro sobrando, considere o seguinte: uma pessoa de 25 anos que ganha cerca de US$ 80.000 poderia economizar apenas 12% de sua renda e ter juntado US$ 1 milhão depois de 40 anos (supondo uma taxa de juros de 4% sobre suas economias). Uma pessoa de 40 anos teria que economizar 28% de sua renda no mesmo cenário, e uma pessoa de 50 anos teria que economizar quase todo o seu salário para chegar a US$ 1 milhão aos 65.

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Até mesmo o escritor Jack London defendeu poupar dinheiro desde cedo, como comenta em seu livro “What Life Means to Me”: “Não é particularmente fácil sair da classe trabalhadora - cedo na vida eu me interessei em saber sobre a taxa de juros sobre dinheiro investido, e comecei a encher a cabeça do meu filho sobre as virtudes e maravilhas desta brilhante invenção da humanidade: os juros compostos.” (em tradução livre).

Por fim, não subestime o custo mental e físico de ter se formado em tempos menos prósperos. Uma pesquisa do economista da Universidade de Stanford, Hannes Schwandt, mostra que entrar em recessão pode ter efeitos negativos de longo prazo não apenas nos rendimentos, mas também na estabilidade e longevidade do casamento, devido ao aumento de doenças cardíacas e hepáticas, câncer e overdose de drogas. Portanto, lembre-se: você não é o culpado por entrar em um mercado de trabalho com altas taxas de desemprego. Algo que pode ajudar é acessar redes de pessoas que enfrentam situações semelhantes para compartilhar frustrações ou conversar com um profissional de saúde mental.

Os formandos da pandemia podem estar passando por um momento difícil em relação a seus colegas, mas pelo menos eles têm o tempo a seu favor. Ser velho e ter dificuldades para encontrar um emprego é uma situação muito pior.

Teresa Ghilarducci é professora de economia Schwartz na New School for Social Research. Ela é co-autora de “Rescuing Retirement” e membro do conselho de diretores do Economic Policy Institute.

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Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion

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