Aplicativos de mensagens descentralizados blindam usuário

Para especialistas, softwares baseados em blockchain poderão evitar golpes como os aplicados via WhatsApp

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Por Gino Matos para Mercado Bitcoin

São Paulo — A proteção de dados pessoais de usuários dos aplicativos de mensagens pode ter na descentralização uma aliada nas questões de segurança e privacidade. Hoje, embora muitas dessas plataformas de bate-papo centralizadas não tenham acesso ao conteúdo das conversas, os servidores são capazes de armazenar várias informações, muitas sensíveis.

Kee Jefferys, chefe de tecnologia do aplicativo descentralizado Session, explica em entrevista por e-mail que, em serviços centralizados, como WhatsApp e Telegram, “toda vez que uma mensagem é enviada o sistema consegue identificar o destinatário, o endereço de IP, a data do envio e quando ela foi lida”.

“No fim das contas, o usuário tem de confiar que a empresa não usará seus dados”, argumenta. Já nas soluções descentralizadas, diz, a confiança dá lugar à segurança proporcionada pelos diferentes servidores utilizados, que não permitem o monitoramento nem o armazenamento.

Hoje, os aplicativos descentralizados interagem com a blockchain ajudando na identificação do usuário, aumentando a segurança. Fernando Marino, técnico no Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), diz que esse reconhecimento pode ajudar, por exemplo, a evitar um golpe crescente hoje aplicado via WhatsApp, que é quando o golpista consegue acesso ao aplicativo de outra pessoa e se faz passar por ela para, a partir daí, pedir dinheiro a amigos e familiares que estão na agenda de contatos.

Ampliação da Blockchain

Segundo ele, essa segurança oferecida pela blockchain, no entanto, poderia ser ainda maior se a tecnologia tivesse capacidade para, também, processar as mensagens – o que elevaria o grau da criptografia de ponta a ponta. Mas isso, neste momento, ainda não é possível, segundo Marino.

Ele explica que essa impossibilidade se dá apenas por uma questão prática: “os dispositivos móveis nem sempre estão conectados à rede e isso faz com que as mensagens se percam e não cheguem até o destinatário”, diz. E se a blockchain não consegue processar, também não tem como rastrear nem codificar o que foi enviado.

Kee Jefferys ratifica a ideia de que a blockchain, no futuro, poderá se somar à descentralização para aumentar a segurança dos aplicativos de mensagens instantâneas. Neste momento, diz, a sua não utilização no processamento de mensagens passa também pela sua baixa capacidade para isso.

Hoje, por exemplo, segundo dados publicados pelo Facebook no último trimestre de 2020, cerca de 100 bilhões de mensagens são processadas diariamente pelo WhatsApp. O que exigiria da blockchain, segundo Jefferys, maior escalabilidade. No momento, o problema de escalabilidade da blockchain ainda não foi totalmente resolvido, embora várias soluções já estejam sendo exploradas.

Descentralização e criptomoedas

E se a blockchain, neste momento, ainda tem uma participação limitada no quesito segurança dos aplicativos de mensagens, a descentralização pode ganhar um aliado: as criptomoedas.

Marino diz que, em vez de depender de uma estrutura centralizada e portanto mais suscetível a falhas, a exemplo do WhatsApp, é viável ter um ambiente onde agentes estejam integrados a uma rede e operem entre si. Nesse ecossistema descentralizado, ele explica que as criptomoedas devem ter um papel importante de incentivo.

“É possível encorajar muitas pessoas a migrar para um ambiente descentralizado se fossem remuneradas com tokens, por exemplo”. Isso, em sua avaliação, permitiria elevar a participação dos aplicativos não centralizados, com uma rede de alta performance, mais segura e com mais privacidade.