Vale mira parcerias com siderúrgicas rumo à descarbonização

Empresa quer alavancar a pressão crescente de investidores para descarbonizar a indústria do aço, que responde por cerca de 8% das emissões globais

Briquetes verdes em uma instalação da Vale (Valdirene Resende/Vale)
Por Mariana Durao
04 de Novembro, 2021 | 11:32 AM

Bloomberg — A Vale está em negociações para criar parcerias com siderúrgicas que representam 30% da produção global em meio à corrida da mineradora para despoluir as operações.

A segunda maior produtora mundial de minério de ferro assinou memorandos de entendimento com oito dos 20 maiores clientes para desenvolver soluções como a redução do uso de sinterização no processo de fabricação de aço. Juntos, os 20 clientes respondem por 40% das emissões de escopo 3 da Vale.

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O mais recente foi anunciado nesta quinta-feira com a coreana Posco. Acordos semelhantes estão em vigor com a Hyundai, com a Ternium na América Latina, Liuzhou Iron & Steel e Jiangsu Shagang, da China, e três outras siderúrgicas asiáticas.

As parcerias visam enfrentar o maior desafio para mineradoras em busca do chamado “net zero” (emissões líquidas zero): encontrar maneiras menos poluentes de processar minerais. A Vale quer alavancar a pressão crescente de investidores para descarbonizar a indústria do aço, que responde por cerca de 8% das emissões globais.

“2022 será o ano crítico para o escopo 3”, disse Maria Luiza de Oliveira Pinto e Paiva, vice-presidente executiva de sustentabilidade da Vale.

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A siderurgia representa 94% das emissões de escopo 3 da Vale, que respondem por 98% das emissões totais da empresa. A Vale, que também trabalha na descarbonização do transporte marítimo, tem como meta um corte de 15% nas emissões líquidas indiretas absolutas em relação a 2018 com a ajuda de compensações de carbono.

As parcerias com siderúrgicas ampliam os esforços da mineradora brasileira para desenvolver produtos ferrosos mais limpos. A empresa lançou os chamados briquetes verdes para reduzir a dependência da sinterização, bem como a tecnologia de concentração a seco. Mais recentemente, tem buscado soluções para reduzir o minério de ferro usando gás natural em vez do coque, fabricar ferro-gusa com biomassa no lugar do carvão e o método de injeção de carvão pulverizado.

Agora a Vale quer trabalhar com siderúrgicas para adotar esses produtos. Com a Ternium, estuda a construção de uma usina de briquetes nas instalações da siderúrgica no Brasil. O plano é fazer mais parcerias com usinas nas Américas, Oriente Médio e Europa para incentivar tecnologias mais verdes.

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Mineradoras enfrentam um dilema quando se trata de metas para zerar as emissões, especialmente para o escopo 3, já que o primeiro passo de muitas siderúrgicas em direção à descarbonização é a reciclagem, o que reduz a demanda por minério de ferro.

“A escala de transformação necessária na indústria para o ‘net zero’ é enorme - melhorias de 10% não vão durar muito”, disse Julia Attwood, chefe de pesquisa de matérias-primas sustentáveis da BloombergNEF.

“Se as mineradoras não conseguem persuadir seus clientes siderúrgicos a fazerem grandes mudanças, as únicas opções são incluir ressalvas às metas de escopo 3, como a BHP fez recentemente, ou encontrar clientes diferentes. Essa é uma questão difícil em um mercado dominado por alguns gigantes.”

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Alguns dos memorandos de entendimento podem se transformar em joint ventures no futuro, embora a Vale descarte entrar na siderurgia, disse Rogerio Nogueira, diretor de marketing de ferrosos, em entrevista.

A empresa planeja revisar a meta de escopo 3 em 2025 e a cada cinco anos para reavaliar a evolução de tecnologia e políticas.

A Vale espera que as metas de carbono se tornem ainda mais restritivas após a COP26, levando siderúrgicas a acelerarem em planos para reduzir as pegadas de carbono. Paiva, que está em Glasgow, disse que a empresa apoia as negociações do Artigo 6 para promover um mercado de carbono confiável e de alta integridade.

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