Bloomberg Opinion — Parece ser um rito de passagem: à medida que os bilionários da tecnologia vão ficando mais velhos, passam mais tempo perseguindo sonhos que devem ter fantasiado na infância. Primeiro, Elon Musk e Jeff Bezos com seus foguetes, e agora Mark Zuckerberg, aos 37 anos, com seus planos de construir uma realidade digital alternativa conhecida como metaverso.
Na semana passada, Zuckerberg anunciou que o Facebook estava mudando seu nome para Meta Platforms, para refletir seu foco em uma nova plataforma de realidade virtual e aumentada “para conectar pessoas”. A princípio parecia que o CEO estava tentando se distanciar dos problemas da empresa, mas isso é apenas uma parte da história. Ele também parece estar seguindo os passos de Musk, tentando, à sua maneira, se tornar um futurista da tecnologia com planos grandiosos para mudar a humanidade. Isso pode fazer de Zuckerberg o grande vencedor diante dessa virada radical do Facebook.
Eu sou cética quanto ao metaverso, e não apenas por causa da negligência do Facebook com a segurança do usuário.
A história está repleta de empresas de tecnologia que, apesar de suas raízes na inovação, não conseguiram fazer a transição para novas plataformas. Veja a Nokia, por exemplo. Em 2007, ela detinha a maior parte da receita global proveniente das vendas de telefones celulares. Em seguida, ela tentou construir uma nova plataforma para aplicativos e não conseguiu competir com os iPhones da Apple e o sistema operacional Android, da Google. Em seis anos, passou de um valuation de US$ 150 bilhões para ao final ser comprada pela Microsoft, em 2013, por US$ 7,2 bilhões.
A Arm é outro exemplo. Seu design de chip móvel alimenta indiretamente quase todos os smartphones do mundo, proporcionando uma lucrativa receita passiva em taxas de licenciamento. Vários anos atrás, a Arm se direcionou para o universo mais futurista da Internet das Coisas, criando softwares para conectar carros, campainhas, máquinas de lavar e muito mais. Acreditando que o objetivo planejado valeria a pena, o SoftBank comprou a Arm por US$ 32 bilhões, em 2016. Mas o negócio de Internet das Coisas estagnou e, em 2020, a Arm disse que desmembraria a unidade dedicada a isso e voltaria a se concentrar no licenciamento de chips [1].
Até mesmo a reestruturação do Google como Alphabet teve seus tropeços em um novo território, com algumas das “apostas” do conglomerado drenando dinheiro, mesmo em áreas promissoras como a farmacêutica. Um projeto com a Novartis para rastrear diabetes por meio de lentes de contato foi encerrado em 2018, enquanto uma parceria semelhante com a Sanofi fracassou em 2019. Seis anos depois de buscar novos rumos, a Alphabet ainda obtém mais de 80% de sua receita com publicidade.
A Meta Platforms também terá dificuldade em ganhar dinheiro com qualquer coisa que não seja a venda de anúncios no Facebook e no Instagram [2]. O seu principal negócio é tão bem-sucedido e consolidado que o Facebook ainda precisa começar a ganhar dinheiro com outra plataforma que já possui há sete anos: o WhatsApp. O aplicativo de bate-papo, que Zuckerberg comprou por US$ 19 bilhões em 2014, tem aproximadamente 2 bilhões de usuários mensais, mas gera receitas ínfimas, mesmo após esforços de anos para estabelecer as bases para anúncios e mensagens de empresas.
Paralelamente, o Facebook está tentando recuperar o atraso na realidade virtual com e o SteamVR, da Valve Corporation, e a Roblox, enquanto os produtos de realidade virtual da Apple, Google e Microsoft serão concorrentes difíceis.
E a empresa já teve dificuldade em transformar ideias inovadoras em produtos no passado. Entre os fiascos estão a muito badalada plataforma móvel Home, que fechou em 2013, e os concorrentes do Snapchat, Poke e Slingshot (2014 e 2015). O Facebook também não conseguiu construir um assistente de voz para o seu dispositivo de videochamada Portal (estranhamente usando em seu lugar o Alexa, da Amazon), porque seus engenheiros se debatiam com prioridades confusas, como alguns deles me disseram em 2018.
Então, onde isso posiciona o metaverso? Com bilhões de dólares, Zuckerberg certamente construirá algo, mas seu sucesso financeiro é duvidoso. Quem ganha com isso é o próprio Zuckerberg. Ele pode deixar de ser o executivo de terno e gravata respondendo a perguntas sobre conteúdo nocivo no Facebook no Congresso, e migrar para o palco, de interesse público, para revelar todas as novas maneiras pelas quais o Meta vai transformar a ficção científica em realidade [3].
Nesse sentido, Zuckerberg deu um passo para se tornar mais parecido com Elon Musk, da Tesla, fazendo uma aposta visionária, assim como Musk fez com suas previsões sobre a transição para carros elétricos. Apesar das tensões observadas entre os dois fundadores, o primeiro tentou, discretamente, imitar o segundo. Um ex-funcionário do Facebook me disse que há vários anos Zuckerberg começou a postar com mais frequência em seu próprio perfil porque queria construir uma base de fãs maior, como a de Musk. Ele aumentou seu número de seguidores contratando fotógrafos profissionais para documentar seu trabalho e vida doméstica, entre outras estratégias.
Mas nem a história nem seus seguidores se lembrarão de Zuckerberg como o avô da realidade virtual se ele continuar a negligenciar a limpeza de conteúdo tóxico, tão necessária, no Facebook. A pressão financeira e regulatória que vem contra o Meta é real. Com o tempo, esse sonho de ser um ícone pode começar a esvanecer.
[1] A Arm interrompeu o spin-out em agosto de 2020, semanas antes de anunciar que estava em negociações para ser adquirida pela Nvidia Corporation.
[2] A publicidade representou aproximadamente 98% das receitas do Facebook no terceiro trimestre de 2021.
[3] A tendência dos bilionários da tecnologia de gravitar em torno da ficção científica é narrada em um podcast chamado “The Evening Rocket”, de Jill Lepore, historiadora da Universidade de Harvard, que vale a pena ser ouvido. Meu colega John Authers também discute isso aqui.
Os editoriais são escritos pela diretoria editorial da Bloomberg Opinion.
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Parmy Olson é colunista da Bloomberg Opinion e cobre a área de tecnologia. Ela já escreveu para o Wall Street Journal e para a Forbes e é autora de We Are Anonymous.
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