Bloomberg — As perdas da bolsa brasileira atraíram caçadores globais de pechinchas.
Investidores domésticos têm vendido ações em meio à crescente preocupação com a política fiscal do país e ao agressivo aperto monetário do Banco Central, o que levou o Ibovespa a uma queda de mais de 20% entre o início de junho e o fim de outubro.
Mas esse colapso - a bolsa brasileira registra o pior desempenho mundial neste ano - começou a atrair estrangeiros, com os valuations perto do menor nível em uma década.
Investidores internacionais ingressaram com R$ 12,4 bilhões em ações brasileiras no mês passado até 29 de outubro, o maior valor líquido mensal desde junho, excluindo potenciais fluxos via ofertas de ações, segundo dados compilados pela Bloomberg. O movimento continuou no mês de novembro, com os estrangeiros colocando R$ 1,7 bilhão somente na última segunda-feira.
Para estrategistas do JPMorgan, o mercado brasileiro está chegando a um piso, o que pode oferecer o melhor ponto de entrada “que encontraremos por um tempo”.
A queda da bolsa brasileira contrasta com outros mercados acionários, onde os índices dispararam este ano mesmo diante da inflação crescente, gargalos na cadeia de suprimentos e expectativa de desaceleração do crescimento econômico.
Com isso, o mercado brasileiro pode parecer um refúgio em comparação aos múltiplos mais esticados de outras bolsas. O Ibovespa é negociado a cerca de 8 vezes o lucro estimado de 2022, de acordo com dados compilados pela Bloomberg. Isso representa cerca de metade do valuation do índice Euro Stoxx 50, uma referência da zona do euro, e cerca de um terço do S&P 500.
Malcolm Dorson, gestor da Mirae Asset Global Investments em Nova York, disse que parte desse movimento de compra estrangeira é resultado de investidores que reduziram a exposição à China após a crise do setor imobiliário no país.
“Muitos fundos precisam realocar ativos depois de cortar a exposição à China e agora veem o Brasil ser negociado a 2,6 desvios-padrão abaixo da média histórica”, disse Dorson.
No entanto, o aumento das taxas de juros e as eleições presidenciais de 2022 obscurecem as perspectivas para o Brasil. Diante dessas incertezas, investidores domésticos têm evitado ativos mais arriscados e migrado parte de seus recursos de volta à renda fixa, acelerando saques de fundos multimercado e de ação.
O dólar subiu cerca de 3,6% em relação ao real em outubro, marcando o pior desempenho do real entre as 31 moedas monitoradas pela Bloomberg depois da lira turca, apesar da forte recuperação na quarta-feira (3). Alguns investidores estrangeiros podem ter aproveitado a taxa de câmbio para comprar ativos brasileiros, mas, para que o fluxo estrangeiro se recupere de forma mais significativa, o real precisa se estabilizar, disse Carlos Botelho, diretor de investimentos da Limiar Capital Management em Arlington, Virgínia.
“Não esperaria que os estrangeiros liderassem a estabilização do mercado, mas que os locais se tornem menos pessimistas”, disse.
Além disso, estrategistas do Morgan Stanley liderados por Guilherme Paiva argumentam que as ações brasileiras ainda não estão baratas o suficiente: a relação preço/lucro é influenciada pelos resultados recordes de produtores de commodities, que possuem forte peso no Ibovespa.
Mas os balanços de empresas brasileiras têm sido positivos em sua maioria. Das 24 companhias do Ibovespa que divulgaram resultados trimestrais, 82% atenderam ou superaram as estimativas de lucro. O mercado também desacelerou as perdas, pelo menos temporariamente. O Ibovespa subiu mais de 2% em relação à mínima do ano em 29 de outubro.
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“Claramente ainda é uma situação fluída, mas os investidores estão vendo muitos nomes de qualidade caindo junto com os ruins, o que cria boas oportunidades de entrada”, disse Dorson, da Mirae.
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