Qual será a solução dos investidores para países pobres e vulneráveis ao clima?

As propostas para a COP26 debatem que países mais ricos deveriam doar quantias maiores para países em desenvolvimento para que os investimentos privados sejam menos arriscados

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Bloomberg — Somos fortemente tentados a acreditar que uma magia financeira pode ajudar a resolver o problema do aquecimento global.

Gasta-se muito pouco em projetos sustentáveis, e os recursos disponíveis não são injetados nos países em desenvolvimento que mais precisam deles. É por isso que se tornou popular nas cúpulas do clima das Nações Unidas, como a COP26, que ocorre em Glasgow, falar sobre “financiamento combinado” – a ideia de que uma pequena quantia de dinheiro público pode ser usada para “mobilizar” uma quantia muito maior de dinheiro privado de fundos de pensão e outros proprietários de ativos. Com os instrumentos certos, o pensamento é de que o mundo será capaz de descarbonizar rápido o suficiente para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas.

A realidade é menos impressionante. Uma pesquisa do Overseas Development Institute descobriu que, em países de baixa renda, cada dólar emprestado pelos principais bancos multilaterais de desenvolvimento mobilizou apenas 37 centavos de dinheiro privado. É um histórico preocupante, quando a Agência Internacional de Energia e o Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas estimam ser necessário pelo menos US$ 1 trilhão por ano para cumprir a meta do Acordo de Paris de impedir que as temperaturas subam menos de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.

Os financiadores da BlackRock têm uma sugestão para resolver o déficit. O instituto de investimentos da empresa propõe que os países mais ricos doem (e não emprestem) US$ 100 bilhões por ano aos países mais pobres para incentivar mais investimentos privados em energia limpa e na indústria sustentável.

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Boa parte do dinheiro canalizado para os países em de senvolvimento até o momento se deu na forma de empréstimos. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico mostram que apenas cerca de US$ 16,7 bilhões dos recursos relacionados ao clima foram entregues como doação em 2019. O argumento da BlackRock é que a abordagem sem compromisso deve “abordar riscos de reputação mais amplos em torno de investimentos em países específicos” porque as tentativas anteriores foram “muito direcionadas para o financiamento de projetos individuais em vez de serem usadas para mitigar riscos de forma mais ampla”.

Em outras palavras, a BlackRock parece estar pleiteando não apenas a redução do risco de projetos específicos, mas de setores inteiros ou até mesmo de países. Os recursos públicos podem, por exemplo, operar como um “seguro” para os investimentos. A empresa defende a proteção dos investidores contra riscos como “estabilidade política e fiscalização” ao estabelecer bancos de investimentos em sustentabilidade dedicados em mercados emergentes e subscrevendo um preço mínimo para a poluição. Segundo ela, a abordagem pode render enormes retornos e reduzir os riscos climáticos globais em geral.

Claro que a proposta não é puramente altruísta. Reduzir a percepção de risco dos mercados em desenvolvimento abriria grandes possibilidades para os investidores. A BlackRock revelou esta semana que arrecadou US$ 673 milhões para um novo fundo de infraestrutura climática de mercados emergentes, superando sua meta de US$ 500 milhões.

A BlackRock não é uma mera espectadora no sistema financeiro mundial. E também não é apenas a maior gestora de ativos. Ela também é uma influenciadora astuta no sistema financeiro do mundo. A empresa aconselhou o Federal Reserve dos Estados Unidos sobre as compras de títulos no início da pandemia e orientou a Comissão Europeia sobre os requisitos de sustentabilidade nas regras bancárias.

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Essa influência é importante quando considerados que os países em desenvolvimento estão elaborando suas próprias propostas de reforma, que competirão pelo mesmo tipo de peso político que traz a BlackRock. Por exemplo, os ministros da Fazenda que representam grupos vulneráveis pediram, na semana passada, o perdão das dívidas em grande escala – um movimento notável, já que os países que falam sobre o assunto tendem a ser punidos pelos mercados e pelas agências de classificação de crédito devido a preocupações de que provavelmente não pagarão os empréstimos.

No dia da abertura da COP26, a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, pediu US$ 500 bilhões em alocações anuais de Direitos Especiais de Saque do FMI (SDR, na sigla em inglês) para ajudar os países pobres. Seu enviado especial de investimentos e serviços financeiros, Avinash Persaud, aponta que já existe uma proposta de US$ 50 bilhões da recente emissão de SDRs devido ao Covid a ser alocada a uma linha de crédito especial do FMI, ainda a ser projetada, para ações climáticas.

“Para alcançar a escala necessária, precisamos adicionar mais um zero, tornar a alocação anual e permitir que investidores privados compitam para acessar esses fundos com base na mitigação e adaptação climática que podem alcançar em todo o mundo”, escreveu ele em uma nota.

À medida que esses debates complicados continuam, os eventos climáticos extremos pioram em todo o mundo. Enquanto isso, a recuperação econômica pós-pandemia mais rápida nas nações desenvolvidas impulsiona a inflação e aumenta as taxas de juros, e, com isso, o risco de que o capital deixe mercados antes considerados fontes de investimentos em dívida arriscados (mas que valem a pena) no momento em que mais precisam dessas quantias

Kate Mackenzie escreve a coluna Stranded Assets para a Bloomberg Green. Ela aconselha organizações que trabalham para limitar as mudanças climáticas às metas do Acordo de Paris. Siga-a no Twitter: @kmac.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e de seus proprietários.


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