Buenos Aires — Passaram-se alguns dias, mas o entusiasmo de Maren Lau, vice-presidente regional para a América Latina do Meta, o ex-Facebook, está intacto. À frente das equipes da Argentina, Brasil, Colômbia, México e Miami, é ela a quem Mark Zuckerberg escuta quando o assunto é a região.
Embora não sejam tempos fáceis nem para o Facebook nem para o seu fundador, após as recentes reclamações de gestão antiética do negócio de publicidade, a divulgação do Meta teve um impacto nos mercados - apesar de muitos pensarem que ele não passa de uma “cara nova” para a reputação da empresa.
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Segundo Lau, a missão do novo mundo virtual do Meta inclui reforçar as iniciativas que a empresa têm gerado na América Latina, uma potência em si mesma em termos de economias criativas.
“O Meta é parte do futuro que queremos começar a construir e representa a empresa que somos, uma empresa de tecnologia social que constrói experiências sociais e que vai muito além de aplicativos e serviços de mensagens”, afirma Lau com veemência. A executiva está na empresa desde 2017.
A conversa abaixo foi editada por questões de tamanho e clareza.
Bloomberg Línea: Por que essa mudança só está acontecendo agora que o Facebook está sob escrutínio público e judicial?
Maren Lau: O metaverso é uma evolução de uma longa jornada de tecnologias sociais. Essa mudança não é uma resposta à reputação, é estrutural. Ela faz parte de um processo que iniciamos há algum tempo. Empresas digitais, e o Facebook e o Meta não são exceção, nosso ritmo é acelerado, mas fazer uma reformulação de marca em alguns meses ou semanas seria impossível, mesmo para nós. O Meta realmente apoia a visão que temos de futuro, que não engloba apenas os aplicativos sociais, e o Facebook é icônico nesse sentido, ele engloba esse futuro e esse presente que estamos construindo.
BL: Como você explicaria o metaverso?
Lau: Vamos pensar sobre a história da internet: era basicamente texto, depois foram adicionados áudio, fotos e vídeos. É preciso pensar no metaverso como a próxima evolução, na qual se verá que diferentes pessoas podem compartilhar experiências de forma imersiva, em um híbrido entre 2D e 3D. Duas pessoas, mesmo que não estejam fisicamente no mesmo lugar, serão capazes de compartilhar e fazer coisas juntas, que talvez não fossem capazes de fazer no mundo real, seja por meio de avatares ou hologramas.
BL: Que prazo você dá para que isso pode comece a se materializar?
Lau: Esse metaverso é construído a partir de algumas etapas iniciais, como a internet, mas o desenvolvimento de hologramas, avatares ou experiências imersivas será concluído em cerca de 5, 10 ou 15 anos. É importante dizer que o Facebook não vai construir ou gerenciar o metaverso por conta própria. Isso requer um ecossistema de empresas digitais e de tecnologia, criadores de conteúdo, experiências e grandes parceiros. Já estamos começando a colaborar com várias associações e outras empresas para esse futuro. O desenvolvimento do metaverso será muito mais parecido com o processo que culminou no nascimento da internet, do que com o lançamento de um aplicativo.
BL: Em sua apresentação, Mark Zuckerberg falou de empresas que estão bloqueando as tecnologias que compõem a “economia criativa”. Como será o diálogo com outras empresas para que façam parte deste projeto?
Lau: É muito importante ter essa colaboração e já estamos a caminho. Criamos um fundo de US$ 50 milhões nos últimos dois anos, que incluirá grupos de direitos civis, parceiros da indústria, governos, organizações sem fins lucrativos e acadêmicos, entre outros, para explorar as maneiras de construir essas tecnologias de forma responsável. Também participamos do The Future of XR Advisory Council com outras empresas de tecnologia, a fim de promover essas discussões. O que está por vir envolverá muitas pessoas.
BL: Como será o modelo de negócios?
Lau: Nós realmente achamos que esse metaverso vai abrir espaço para negócios, para uma economia criativa e para inovação. Por exemplo, uma pessoa que tem uma linha de fragrâncias pode criar uma imagem sensorial onde o cliente pode entender os conceitos por trás daquele perfume; ou um aluno pode ver o sistema solar de perto, viajar até a lua e estar lá; e os médicos poderiam participar de cirurgias a partir de qualquer lugar do mundo. São essas as experiências que estamos investigando para poder criá-las. A América Latina, em particular, já tem uma economia criativa e uma expectativa que vai crescer ainda mais. Já temos desenvolvedores trabalhando em nossa plataforma de realidade aumentada, que fazem este tipo de produção para grandes marcas globais. Esse novo ecossistema dá origem a negócios e empreendimentos em torno de tudo isso.
BL: Como a empresa vai trabalhar com segurança e privacidade para ganhar a confiança dos usuários?
Lau: Tudo o que é privacidade, segurança e justiça está no centro do que fazemos. Mas é preciso começar a conversar agora porque é algo a ser construído em conjunto. Aprendemos com a história da internet e isso nos dá a oportunidade de colaborar e construir padrões de segurança e privacidade para que possamos caminhar na mesma direção. A interoperabilidade entre plataformas também será necessária. Sem isso, o metaverso não funciona.
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