Vacinação avança, mas número de pessoas sem-teto também

Número de sem-teto em São Paulo quase triplicou do total no último censo realizado em 2019, segundo organização

Membros do MEPSRP participam de doação de comida a pessoas sem-teto
Por Andrew Rosati
01 de Novembro, 2021 | 03:07 PM

Bloomberg — Tudo começou com algumas dúzias de sopas distribuídas aos mais necessitados de São Paulo. Vinte meses após o início do surto de coronavírus, uma fila com centenas de pessoas em busca de comida se forma todas as manhãs do lado de fora do escritório de Robin Mendoça, dobrando quarteirões.

“Começamos atendendo 30, depois 1.000 e agora 1.400 pessoas por dia”, diz Mendoça, presidente do Movimento Estadual da População em Situação de Rua de São Paulo, ou MEPSR. “E aumenta a cada dia.”

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A Covid-19 perde força nas maiores cidades do Brasil, mas a fome persiste. Em São Paulo, o MEPSR estima que o número de sem-teto agora totaliza mais de 66.000, quase o triplo do total no último censo realizado em 2019. No Rio de Janeiro, são mais de 14.000, ou cerca do dobro dos dados registrados no ano passado.

Robin Mendoça, centro-direita, supervisiona a campanha de alimentos em São Paulo, 26 de outubro.Fotógrafo: Jonne Roriz / Bloomberg

Um porta-voz da prefeitura do Rio de Janeiro não quis comentar dados não oficiais, enquanto a prefeitura de São Paulo disse que atualmente está realizando um censo das pessoas em situação de rua. Mas as cicatrizes econômicas do coronavírus agora estão expostas, à medida que milhões de brasileiros tentam retornar à vida pré-pandemia.

Tendas e abrigos frágeis se alinham nas calçadas. Famílias inteiras imploram em cruzamentos movimentados. Filas crescem em portas de igrejas e organizações que prestam auxílio.

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Abrigos improvisados ocupam calçadas no centro de São Paulo, 26 de outubro.Fotógrafo: Jonne Roriz / Bloomberg

A espera por uma vaga no Hotel Acolhedor, um hotel transformado em abrigo no centro do Rio, começa cedo. “Você tem até as 3 da tarde para garantir uma cama, senão tem que voltar para a rua”, disse Almir da Silva Júnior, em uma noite recente. O pedreiro, de 25 anos, foi despedido há três meses. Ele e a esposa deixaram a filha com os avós e começaram a dormir nas ruas do centro.

“O canteiro de obras fechou e eu estava desesperado”, diz Silva Júnior. Agora um frequentador assíduo do abrigo, ele diz que desviou o foco da procura por comida para as ofertas de emprego. “Com um pouco de sorte, em pouco tempo não estarei mais na fila.”

Almir da Silva Júnior deixa a esposa, Isabelle, em um andar para mulheres do Hotel Acolhedor, 22 de outubro.Fotógrafo: Dado Galdieri / Bloomberg

A campanha de vacinação agora abrange todo o país, mas a inflação de dois dígitos corrói os poucos ganhos conquistados com a retomada após a crise econômica do ano passado. O auxílio emergencial para aliviar o impacto da pandemia à população de baixa renda deve expirar no fim deste mês.

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O presidente Jair Bolsonaro agora promete expandir significativamente a ajuda em dinheiro para os pobres antes das eleições de 2022. Há poucas dúvidas sobre a necessidade, mas economistas temem que mais gastos públicos possam elevar ainda mais os preços.

Pessoas sem alojamento esperam por um quarto no Hotel Acolhedor, 22 de outubro.Fotógrafo: Dado Galdieri / Bloomberg

“O dinheiro não dura”, disse Andreina Santos da Silva, 21 anos, que se hospedou no abrigo do Rio. Ela e o marido deixaram a casa nos arredores de Manaus há seis meses, trabalhando para uma empresa de mudanças que os trouxe para Fortaleza, onde o dono se recusou a pagar.

O casal buscou empregos temporários em cidades litorâneas, antes de fazer a longa caminhada até o Rio, na esperança de um trabalho mais estável. Dormiram na praia três dias antes de ouvirem falar do Hotel Acolhedor.

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“É aqui que vamos começar de novo. É aqui que vamos alugar um quarto nosso”, disse ela.

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