França tem 48 horas para resolver impasse com Reino Unido

Governo britânico vai tomar medidas legais contra o francês caso este não cesse a medida de controle sobre os barcos de pesca provenientes da ilha

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Bloomberg — O Reino Unido afirmou que vai desencadear uma ação legal contra a França dentro de 48 horas, a menos que uma disputa sobre os direitos de pesca pós-Brexit seja resolvida, já que a disputa cada vez mais intensa ameaça ofuscar a cúpula do clima das Nações Unidas.

Embora os direitos de pesca em questão representem apenas uma fração da economia de cada um dos países, eles se tornaram um ponto importante em seu relacionamento após a saída do Reino Unido da União Europeia e foram um dos maiores problemas que ameaçaram a cúpula do G-20 em Roma no fim de semana.

A França acusou o Reino Unido de negar erroneamente o acesso dos barcos franceses às águas britânicas e, na terça-feira (2), introduzirá controles adicionais sobre as mercadorias que chegam da Grã-Bretanha. A medida também impedirá que os barcos de pesca britânicos descarreguem suas capturas na França.

Uma reunião no domingo (31) entre o primeiro-ministro Boris Johnson e o presidente francês Emmanuel Macron em Roma não resolveu a disputa, o que significa que o impasse agora está se arrastando para as negociações climáticas da COP26 patrocinadas pelo Reino Unido.

“Pare de ameaçar os navios de pesca do Reino Unido, pare de ameaçar os portos do Canal e aceite que estamos totalmente em nossos direitos de alocar as licenças de pesca segundo o acordo comercial”, disse a secretária de Relações Exteriores do Reino Unido, Liz Truss, ao canal Sky News na segunda-feira (1), quando disse qual era mensagem ao governo francês.

Após a reunião de Johnson e Macron, nenhum dos lados chegou a um acordo sobre a discussão. Um assessor de Macron informou que os dois líderes trabalhariam juntos para encontrar uma maneira de entregar licenças aos barcos franceses antes do prazo, enquanto o porta-voz de Johnson disse que cabia a Paris dar o primeiro passo.

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Pressão climática

As sanções comerciais da França contra o Reino Unido devem coincidir com o último dia dos líderes na cúpula do clima em Glasgow, na Escócia – justamente quando Johnson tentará fechar um acordo internacional para combater o aquecimento global no qual apostou um capital político considerável.

O governo Macron diz que 40% dos pedidos franceses de licenças para pescar nas águas do Reino Unido ainda estão pendentes 10 meses após a assinatura do acordo comercial e que os pedidos de outros membros da UE foram todos processados.

O Reino Unido afirma ter concedido 98% dos pedidos de licença de embarcações da UE desde o Brexit, e que considera as ameaças da França uma violação dos termos do acordo comercial com a UE pós-Brexit.

Além de bloquear os barcos do Reino Unido, o governo francês ameaçou aumentar os custos de energia nas Ilhas do Canal da Mancha, que dependem fortemente da eletricidade da França por meio de um cabo submarino.

Richa com a ilha

A ilha britânica de Jersey, com seu próprio governo soberano, tem tomado decisões sobre as licenças de pesca e rejeitou 55 pedidos de barcos franceses alegando que não possuíam evidências suficientes para provar que pescaram nas águas de Jersey no passado.

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A questão é se os governos de Jersey e do Reino Unido recuarão e concederão mais licenças de pesca nos próximos dias. No domingo (31), Macron disse que a França havia proposto uma nova metodologia para que barcos franceses pudessem comprovar seus direitos de acesso, e disse que a França está aguardando a resposta do Reino Unido.

A disputa ainda poderia ser apaziguada, mesmo sem uma resolução completa. A França pode concordar em adiar suas medidas de retaliação se considerar que há progresso na questão ou se Jersey ou o Reino Unido demonstrarem boa vontade, como ao emitir licenças de pesca temporárias – que serão revisadas em uma data futura.

Não havia muitos sinais de boa vontade entre as partes na segunda-feira (1).

Ian Gorst, ministro de Relações Exteriores de Jersey, disse que seu governo “fez das tripas coração” para ser engajado e razoável com os pedidos da França e que continuaria levando em consideração as evidências comprobatórias dos pedidos de licença de pesca. Mas ele disse que as ameaças da França são “extremamente frustrantes”.

“Está quase ficando ridículo”, disse ao canal Sky News.

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